sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Satori

Satori (悟り) (悟 chinêswù ; coreano 오) é um termo japonês budista para iluminação. A palavra significa literalmente "compreensão". É algumas vezes livremente tratada como sinônimo de Kensho, mas Kensho refere-se à primeira percepção da Natureza Búdica ou Verdadeira Natureza, algumas vezes conhecida como "acordar". Diferentemente do kensho, que não é um estado permanente de iluminação mas uma visão clara da natureza última da existência, o satori refere-se a um estado de iluminação mais profundo e duradouro. É costume portanto utilizar-se a palavra satori, ao invés de kensho, quando referindo-se aos estados de iluminação do Buda e dos Patriarcas.

Segundo D. T. Suzuki, "Satori é a raison d'être (Razão de ser) do Zen, sem o qual o Zen não é Zen. Portanto todo o esforço, disciplinário ou doutrinal, é dirigido ao satori."

Sanbo Kyodan



A Sanbō Kyōdan (Japonês: 三宝教団,"Escola dos Três Tesouros") é a escola de Zen mais recente do Japão. Foi fundada em 1954 por Yasutani Hakuun, discípulo e sucessor de Harada Daiun. Ambos foram treinados e receberam a transmissão do Dharma na escola Soto, e Harada também completou o treinamento de koans da escola Rinzai. Ainda assim, sentiam-se insatisfeitos com a prática de Zen disponível no Japão.

Para Harada, o Zen no Japão do século XX havia se tornado um sistema formalizado de rituais vazios, em que poucos praticantes realmente atingiam a iluminação, e seus templos haviam se transformado negócios de família, passados de pai para filho, onde os monges limitavam-se a oficiar funerais.

Assim, a Sanbo Kyodan foi fundada para ser uma escola que congregasse tantos as práticas da Soto quanto as da Rinzai, e se focasse em atingir o Satori. Aceitando na prática que tanto monges quanto leigos podem atingir a iluminação, ambos tinham tratamento igualitário, podendo inclusive receber a transmissão do Dharma e ocupar cargos de liderança na hierarquia da escola. Além disso, movidos pelo espírito libertário do Japão pós-guerra, a Sanbo Kyodan recebeu e treinou ocidentais, tanto zen-budistas quanto de qualquer outra religião. Por isso, apesar de ser uma escola pequena no Japão, a Sanbo Kyodan exerceu grande influência no Zen praticado no Ocidente -- mestres como Robert Aitken, Philip Kapleau e o padre Hugo Enomiya-Lassalle foram formados lá.

Abades da Sanbō Kyōdan

Yasutani Hakuun, 1954-1970
Yamada Koun, 1970-1989
Kubota Jiun, 1989-2004
Yamada Ryoun, desde outubro de 2004

Ōbaku



A escola Ōbaku ou Ōbaku-shū (黄檗宗?), frequentemente denominada a terceira seita do Zen Budismo no Japão, foi estabelecida em 1661 por uma pequena facção de mestres da China e seus estudantes japoneses no Mampuku-ji em Uji, Japão. Hoje o Mampuku-ji funciona como o templo Obaku central, com 420 subtemplos espalhados pelo Japão (em 2006).  Além de sua contribuição para a cultura do Zen no Japão, a escola Obaku também "disseminou muitos aspectos da cultura do período Ming" no país. Muitos dos monges que vieram da China eram excelentes calígrafos, e o fundador da Obaku, Yinyuan Longqi, e outros dois mestres Obaku, Mokuan Shōtō e Sokuhi Nyoitsu, tornaram-se conhecidos como os "Obaku no Sanpitsu" (ou, os "Três Pincéis do Obaku"). Steven Heine escreveu, "As áreas onde a influência do — ou da reação ao — Obaku deixaram uma marca no Budismo japonês são inúmeras, e o seu impacto atingiu até mesmo os campos das técnicas culturais japonesas, tais como impressão e pintura.[3] A medicina e arquitetura chinesas também foram introduzidas, bem como a prática de "escrita do espírito"—praticada por monges Obaku os quais diziam-se poder comunicar-se com Chen Tuan.

Originada da linhagem (ou, escola) de Linji e portanto compartilhando uma relação tipo familiar com a escola Rinzai do Japão, o enfoque Obaku da prática revela a influência chinesa nos dias de hoje. Historicamente a escola Obaku é as vezes denominada "Nenbutsu Zen" — uma caracterização pejorativa com o objetivo de descrever seu uso de "práticas Zen e Terra Pura." Helen J. Baroni escreveu que nos dias de hoje, "Com poucas exceções notáveis, como o estilo do canto dos sutras (que ainda é feito numa aproximação do dialeto de Fujian), os templos e monastérios Obaku são muito semelhantes aos seus vizinhos Rinzai." Estatisticamente a menor escola/seita Zen no Japão moderno, a Obaku também assemelha-se à Rinzai-shu no fato de que é conhecida por ser mais conservativa e de inclinação intelectual que a Sōtō-shu.

História

O desenvolvimento da escola Obaku no Japão começou por volta do ano 1620, um período no qual imigrantes chineses estavam indo para Nagasaki, Japão, devido a um decreto pelo shogunato permitindo comerciantes chineses de conduzir seus negócios lá. Os comerciantes chineses, por sua vez, começaram a requisitar que monges da China viessem a Nagasaki "para atender às necessidades religiosas de sua comunidade e construir monastériosno estilo Ming tardio com os quais eles eram familiares." A comunidade chinesa, portanto, ficou animada quando o fundador da escola Obaku, um mestre da escola Linji chamado Yinyuan Longqi (J. Ingen Ryuki), chegou em Nagasaki vindo da China em 1654 com um pequeno grupo de discípulos chineses. Além disso, Yinyuan também estava feliz de sair da China, que experimentava uma guerra terrível. Yinyuan foi para lá com o objetivo declarado de ajudar o crescimento de três templos subdesenvolvidos fundados por imigrantes chineses na cidade. Estes templos de Nagasaki eram conhecidos como os três "templos da boa sorte," respectivamente Kōfuku-ji, Fukusai-ji e Sōfuku-ji. Com o tempo muitos japoneses ouviram falar de seus ensinamentos e viajaram a Nagasaki para vê-lo, alguns dos quais juntaram-se à sua comunidade e tornaram-se seus discípulos. Tendo planejado ficar no Japão por um curto período de tempo, Yinyuan foi persuadido por um grupo de seus estudantes japoneses a ficar no Japão; este grupo conseguiu permissão governamental para que ele se mudasse para Kyoto, onde seu estudante Ryūkai Shōsen queria que ele se torna-se o abade d templo Rinzai Myoshin-ji. Autoridades dentro da organização Rinzai não se interessaram muito pela idéia, principalmente devido a desacordos dentro da congregação com relação à questão se Yinyuan ensinasse um Zen muito chinês para o gosto japonês. Consequentmente, Yinyuan começou a construção do atual templo chefe da Obaku conhecido como Ōbaku-san Mampuku-ji em 1661 em Uji na prefeitura de Kyoto (Ōbaku-san sendo o nome da montanha). Isto marca o início da escola Obaku de Zen Budismo no Japan.

A construção foi completada em 1669, no estilo arquitetônico chinês da dinastia Ming. Com autorização dos líderes bakufu locais (i.e. Tokugawa Tsunayoshi), o Obaku-shu emergiu para revitalizar a prátic Rinzai no Japão. A prática no Mampuku-ji era diferente da de outros templos e monastérios Rinzai do Japão durante este período, sendo muito mais no estilo chinês. Yinyuan trouxe consigo aspectos do Budismo esotérico e do Terra Pura. Segundo Heinrich Dumoulin, "Para a prática Zen em geral, zazen (meditação sentada) e a prática de koan são centrais, ao passo que cerimônia de culto possuem uma importância secundária. Como Obaku pertencia à tradição Rinzai, zazen e koan eram partes da vida diária, mas o ritual também tinha um lugar de grande importância." Além disto, os monastérios e templos Obaku passaram a ser governados por uma doutrina conhecida como Ōbaku shingi, que importou práticas chinesas como a recitação (dharani) do nenbutsu e "procurou preservar o caráter chinês do grupo." Obaku também cantava sutras derivados do Budismo Terra Pura com música chinesa.

Após o retiro de Yinyuan em 1664 e morte em 1673, outros monges que vieram ao Japão por volta da mesma época que ele ajudaram a continuar a tradição da prática em Mampuku-ji. O mais importante de seus discípulos foi Mokuan Shōtō, que tornou-se o segundo abade de Mampuku-ji em 1664. Durantes seu anos de formação, Mampuku-ji foi muito popular no Japão com muitosadeptos vindo ao templo para instrução. De acordo com o livro Últimos Dias da Lei, "Pelo próximo século, Manpuku-ji foi liderado por monges imigrantes chineses, e eles mandaram seus seguidores japoneses fundar outros templos. O Zen Obaku espalhou-se rapidamente pelo país." Pelo meno um abade de Mampuku-ji durante este período inicial da história do Obaku provou ser controverso. Seu nome era Tu-chan Hsing-jung (Dokutan Shōtei), e ele serviu como o quarto abade de Mampuku-ji. Críticos o acusaram de levar a ênfase da recitação do nenbutsu no Mampuku-ji longe demais, e ele é chamado pejorativamente hoje em dia "Nenbutsu Dokutan."

Talvez o mais importante praticante de Obaku além de Yinyuan Longqi foi Tetsugen Dōkō, um japonês que viveu entre 1630 e 1682. Tetsugen é lembrado por ter transcrito o Tripitaka chinês do período Ming para blocos de madeira—conhecido como o Tetsugen-ban ou Ōbaku-ban (ban significa edição). Tendo estudado Jodo Shinshu do Japão, Tetsugen encontrou Yinyuan pela primeira vez em 1655 em Kofukuji em Nagasaki e acabou juntando-se à escola Obaku. O primeiro abade japonês do Mampuku-ji assumiu a liderança do Obaku em 1740, um certo Ryūtō Gentō. A partir de 1786 até os dias de hoje, o Obaku tem sido liderado exclusivamente por japoneses.

Características

As práticas monásticas da Obaku-shu eram determinadas principalmente pelo Ōbaku shingi (ou, regras Obaku), composto em 1672 com dez seções indicando o regime de prática no Mampuku-ji. Steven Heine escreveu que "O texto refletia algumas poucas evoluções que haviam tido lugar nos monastérios chineses desde Yuan, mas era exatamente na tradição das regras clássicas de pureza como o Chanyuan qingui e o Chixiu baizhang qingqui." É interessante notar que o ramo Rinzai Myoshinji escreveu seu próprio conjunto de regras monásticas (escrito por Mujaku Dōchū) em resposta a isto em 1685. Claramente Myoshinji estava preocupado sobre a perda de estudantes para a Obaku, que estavam crescendo em popularidade. "A ênfase da Obaku nos preceitos e a observação estrita das regras monásticas do Ōbaku shingi parece ter estimulado e encorajado alguns mestres japoneses com inclinações similares. Na escola Sōtō, por exemplo, os mestres chineses influenciaram os códigos monásticos de reformadores tais como Gesshū Sōko e Manzan Dōhaku que haviam estudado sob mestres Obaku."

A escola Obaku enfatizava a adoção de vários preceitos e também observava o Vinaia e o Dharmagupta bem como tradução de sutras. Mas talvez a característica mais óbvia para o povo japonês era o uso do nembutsu e também o uso do "koan nembutsu." Isto compreendia a prática de recitar o nome de Amitabha durante a prática do koan, "Quem recita?" Embora estranha aos japoneses (apesar desta "prática dupla" ter sido introduzida no Japão já no século XIII), isto era muito comum no Ch'an do período Ming, onde não havia divisão sectária entre budistas Terra Pura e praticantes de Ch'an. Steven Heine escreveu que, "...independente de sua inclusão de elementos do Terra Pura, o fato permanece que a escola Obaku, com sua prática de zazen em grupo nas plataformas do salão de meditação e sua ênfase na observação dos preceitos, representava um tipo de disciplina monástica bem mais rigorosa que qualquer outra escola de Budismo existente naquela época no Japão." Como resultado dessa ênfase, muitos mestres Rinzai e Sōtō passaram a reformar e revitalizar suas próprias instituições monásticas, como por exemplo o mestre Rinzai Ungo Kiyō que começou até mesmo a implementar a prática do nenbutsu no regime de treinamento no Zuiganji. T. Griffith Foulk escreveu que, "Os seguidores de Hakuin Ekaku (1687—1769) tentaram eliminar os elementos de Zen Obaku que eles achavam questionáveis. Eles suprimiram a prática Terra Purade recitar o nome do Buda Amida, diminuíram a ênfase no Vinaia e substituíram o estudo dos sutras pela ênfase nas coleções tradicionais de koan." Além disso, os sutras budistas na Obaku-shu continuam a ser cantados em chinês até os dias de hoje. Mampukuji também é conhecido pelo seu estilo de culinária vegetariana conhecida como Fucha Ryori, introduzida por Yinyuan e seu grupo.

Templos notáveis

Templo chefe

Mampuku-ji A construção iniciou em 1661 e foi concluída em 1669. Localizado em Kyoto, Mampuku-ji serve como o templo chefe da escola Obaku. É um "exemplo raro" de um templo construido puramente no estilo arquitetônico do período Ming chinês no Japão.

Subtemplos

Fukusai-ji Fundado em 1628 em Nagasaki e posteriormente destruido em 1945, Fukusai-ji foi reconstruido no fomato de uma tartaruga com uma estátua de aluminio de 18 m de altura de Kannon, a Bodhisattva da compaixão.

Kofuku-ji (Nagasaki)
Ryūshin-ji
Shōhō-ji (Gifu)
Sōfuku-ji (Nagasaki)
Toko-ji
Zuishō-ji

Linji Yixuan



Linji Yixuan ou Yixuan de Linji (chin.. 臨濟義玄, Línjì Yìxuán, W.-G.: Lin-chi I-hsüan; jap. Rinzai Gigen;  — 866/867) foi o fundador da escola chinesa de budismo chán linji zong (chin. 臨濟宗, Línjì zōng, W.-G.: Lin-chi tsung). Ele nasceu no condado Cao, na província de Shandong. Com cerca de vinte anos de idade, foi estudar com Huangbo na província Anhui. Obteve a iluminação espiritual e foi morar em Zhenzhou, na província Hebei, onde fundou o mosteiro Linji, criando o seu estilo próprio de zen, o linji. Uma característica marcante desta escola era o uso do grito do mestre para produzir a iluminação espiritual de seus discípulos.

A escola rinzai

A escola rinzai japonesa descende da escola linji. Esta foi levada ao Japão em 1191 por Myōan Eisai, tendo, então, adotado o nome "rinzai", que é a adaptação do nome "linji" para a língua japonesa. Sua prática se caracteriza por uma busca ativa da iluminação, através de processos árduos como o trabalho com koans e a prática de artes marciais, além de meditação. Com traços mais intelectuais e práticas mais ativas que as outras escolas do zen, a escola rinzai foi a adotada pelas classes dominantes japonesas, como a dos samurais, o que lhe proporcionou influência e prestígio, mas o que, ao mesmo tempo, limitou seu número de adeptos.

Rinzai



Rinzai ((臨|済|宗); Japonês: Rinzai-shū, Chinês: línjì zōng) é uma das três escolas Zen budistas no Japão, as outras sendo a Soto e a Obaku. Rinzai é a linha japonesa da escola chinesa Linji, que foi fundada durante a dinastia Tang por Linji Yixuan (J.: Rinzai Gigen). Embora se tenha tentado estabelecer linhagens Rinzai no Japão por diversas vezes, esta escola só conseguiu estabelecer-se através dos esforços do monge Myōan Eisai, após seu retorno da China em 1191. Eisai é portanto usualmente aceito como tendo transmitido os ensinamentos Rinzai ao Japão. A escola estabeleceu-se firmemente e alcançou uma identidade distintamente japonesa com Shuho Myocho (Daito Kokushi, 1283-1337) e Muso Soseki (1275–1351), mestres influentes que não foram à China estudar.

Características

Rinzai Zen caracteriza-se pela ênfase dada ao kensho ("ver a própria verdadeira natureza", ou iluminação) como o principal caminho da prática budista e por sua insistencia na necessidade de vários anos de treinamento exaustivo após a iluminação para incorporar o funcionamento livre da sabedoria nas atividades da vida diária. Treinamento baseado no uso de koans, os quais foram desenvolvidos em um alto grau por esta escola, é um dos caminhos para a obtenção do kensho. Em geral a escola Rinzai é conhecida pelo rigor e severidade de seus métodos de treinamento.

O Zen Rinzai no Japão atual não possui uma única estrutura organizada. Encontra-se dividido em quinze ramos, conhecidos pelos nomes de seus templos principais. O templo maior e mais influente é o do ramo Myoshin-ji, cujo templo principal foi fundado em 1342 por Kanzan Egen Zenji (1277–1360). Outros ramos importantes incluem o Nanzen-ji e o Tenryū-ji (ambos fundados por Muso Soseki), Daitoku-ji (fundado por Shuho Myocho), e Tofuku-ji (fundado por Enni Ben'en, 1202-1280). Devemos notar que estes ramos são simplesmente divisões organizacionais que surgem devido à história do templo e da linhagem mestre-discípulo e não representa divisões sectárias ou diferenças fundamentais na prática.

Desenvolvimentos posteriores

Por volta do século XVIII a escola Rinzai entrou num período de estagnação e declínio. Nesta época, o monge Hakuin Ekaku (1686–1769) tornou-se proeminente como um revitalizador do Zen Rinzai, e seu métodos vigorosos abriram caminho para uma revitalização duradoura. A influência de Hakuin e de seus seguidores foi tanta que todos os mestres Rinzai atuais traçam sua linhagem através dele. A sistematização do sistema de treinamento por koan feita por Hakuin serve atualmente como base para a prática formal Rinza.

Várias linhas Rinzai foram transplantadas do Japão para a Europa, Américas e Austrália e praticantes não japoneses foram certificados como professores e sucessores destas linhagens. Templos Rinzai, bem como grupos de prática liderados por praticantes leigos, podem ser encontrados em muitos países.

Eihei Dogen



Dōgen Zenji (道元禅師; também conhecido como Dōgen Kigen 道元希玄, Eihei Dōgen 永平道元, Koso Joyo Daishi ou simplesmente Dogen) (19 de janeiro de 1200 – 22 de setembro de 1253) foi um mestre zen-budista japonês nascido em Kyōto. Dogen fundou a escola Soto de zen. Ele foi uma figura religiosa proeminente em seu tempo, bem como um filósofo importante. Dogen é conhecido pelo sua obra "Tesouro do Olho do Dharma verdadeiro" (Shōbōgenzō), uma coleção de 95 fascículos relacionados à prática budista e à iluminação.

Vida

O mestre zen-budista Eihei Dogen nasceu em 1200, em Kyoto, então capital imperial do Japão. Filho de nobres, perdeu o pai aos três anos e a mãe aos oito. A perda de sua mãe parece ter causado forte impressão sobre ele, fazendo-o entrar em contato com o conceito budista da impermanência (無常 mujō) e iniciar o curso de suas questões sobre a natureza da existência. Aos 13 anos, foi para um monastério no Monte Hiei, onde foi ordenado monge budista da escola tendai. Ao dedicar-se com afinco ao estudo das escrituras budistas, defrontou-se com uma questão que, para ele, teve papel fundamental em suas escolhas:

“As escolas de budismo ensinam que os seres humanos são dotados de natureza búdica por nascimento. Se isto é verdade, por que os budas de todas as épocas — indubitavelmente iluminados — ensinam que é necessário buscar a iluminação e engajar-se em práticas espirituais?”
Esta questão foi originada em grande parte pelo conceito tendai de "iluminação original" (本覚 hongaku), que atesta que todos os seres humanos são iluminados por natureza e que, consequentemente, toda ideia de se atingir a iluminação através da prática é fundamentalmente errônea.

Como Dogen não encontrou uma resposta para esta questão no Monte Hiei, decidiu visitar outros mestres. Visitou o mestre Koin, abade tendai do Templo Onjōji (園城寺). Koin lhe disse que, para encontrar uma resposta, Dogen deveria considerar estudar chan na China. Kōin mandou Dogen a Myōan Eisai, em Kyoto, um famoso monge tendai que havia estado na China e trazido a prática da escola zen rinzai em 1191. Em 1214, Dōgen foi estudar com Eisai no Templo Kennin-ji (建仁寺) e, após a morte de Eisai no ano seguinte, ele continuou seu estudo sob o sucessor de Eisai, Myōzen (明全). Em 1221, Myōzen conferiu a transmissão do darma para Dōgen, reconhecendo que ele havia compreendido os ensinamentos. Dois anos depois, Dogen decidiu fazer a perigosa travessia através do Mar da China Oriental até a China para tentar encontrar uma resposta. Seu mestre Myōzen o acompanhou nessa viagem.

Viagem à China

Na China, Dogen foi inicialmente aos principais monastérios chan na província de Zhèjiāng. Naquela época, a maior parte dos mestres de chan baseavam seu treinamento no uso de gōng-àns (Japonês: kōan). Embora Dogen tenha estudado os koan assiduamente, ele ficou desencantado devido à grande ênfase dada a eles, e começou a se perguntar por que os sutras não eram mais estudados. Dogen chegou mesmo a recusar-se a receber a transmissão do darma de um mestre devido a este desencanto. Então, em 1225, ele decidiu retornar ao Japão e, em seu caminho de retorno, voltou ao primeiro local de peregrinação na China para despedir-se de seu mestre Myozen. Foi lá que conheceu e tornou-se discípulo do mestre Rújìng (如淨; Japonês, Nyōjo), o décimo-terceiro patriarca da escola Cáodòng (japonês, Sōtō)de budismo zen, no monte Tiāntóng (天童山 Tiāntóngshān; J. Tendōzan) em Níngbō. Rujing era famoso por ter um estilo de zen diferente dos outros mestres que Dogen havia até então visitado.

Rujing era um mestre muito rigoroso, o treinamento levado a cabo no mosteiro era referido como sendo muito duro e difícil. Os monges dormiam pouco e se dedicavam durante muitas horas do dia à pratica da meditação sentada silenciosa (zazen). A principal instrução recebida por Dogen foi para que abandonasse corpo e mente ao caminho, significando um abandono completo de si mesmo e de toda e qualquer ideia de identidade ou preconcepções acerca dos próprios ensinamentos, dedicando-se à prática central da meditação silenciosa com todo o seu ser:

“Deixar cair corpo e mente é sentar em meditação. Ao praticar sinceramente o intenso sentar, os cinco desejos desaparecem e os cinco obstáculos são removidos.”

O abandono da compreensão intelectual através da absorção meditativa e do corpo através da disciplina foram decisivos para realizar o completo desapego. O mestre Rujing participava de todos os momentos de prática junto com os monges, e revelava com sua forma de viver a realização dos ensinamentos oferecidos.

Sob Rujing, Dōgen atingiu a libertação do corpo e da mente, guardando cuidadosamente as palavras de seu mestre, "Jogue fora o corpo e a mente" (身心脱落 shēn xīn tuō luò). Esta frase continuaria a ter grande importância durante a vida de Dogen e pode ser encontrada em vários lugares em seus escritos, como por exemplo na seção famosa de seu "Genjōkōan" (現成公案):

“Estudar o Caminho é estudar a si próprio. Estudar a si próprio é esquecer-se de si próprio. Esquecer-se de si próprio é tornar-se iluminado por todas as coisas do universo. Ser iluminado por todas as coisas do universo é livrar-se do corpo e da mente, de si próprio bem como dos outros. Até mesmo os traços da iluminação são eliminados, e vida com iluminação sem traços continua para sempre.”

Logo após Dogen chegar ao monte Tiantong, Myōzen morre. Em 1227, Dōgen recebeu a transmissão do Darma e inka de Rujing, e comentou como finalmente ele havia resolvido sua "busca de uma vida da grande questão".

Retorno ao Japão

Dogen retornou ao Japão em 1227 ou 1228, para o templo Kennin (Kennin-ji), onde ele havia treinado sob Eisai. Uma de suas primeiras ações ao voltar foi escrever o Fukan Zazengi (普観坐禅儀; "Instruções Universalmente Recomendadas para a Prática de Zazen"), um texto curto mostrando a importância e dando instruções para a prática do zazen, ou "meditação sentada".

Tensões começaram a surgir quando a comunidade tendai tentou suprimir tanto o zen quanto a escola Jōdo Shinshū, as novas formas de budismo no Japão. Devido a esta tensão, Dogen deixou os domínios tendais de Kyoto em 1230 e se estabeleceu num templo abandonado na hoje cidade de Uji, ao sul de Kyoto. Em 1233, Dōgen fundou o Kannon-dōri-in, um pequeno centro de prática, em Uji; mais tarde, ele expandiu este templo para formar o templo Kōshō-hōrinji (興聖法林寺). Em 1243, Hatano Yoshishige (波多野義重) ofereceu realocar a comunidade de Dogen para a província Echizen, bem ao norte de Kyoto. Dōgen aceitou devido às tensões com a comunidade tendai e seus seguidores construíram um centro de prática nesta localidade, chamando-o de Daibutsuji (大仏寺), "templo do Grande Buda". Enquanto a construção ocorria, Dogen vivia e ensinava no templo Yoshimine-dera (Kippōji, 吉峯寺), próximo a Daibutsuji. Em 1246, Dōgen mudou o nome de Daibutsuji, passando a chamá-lo Eihei-ji. Este continua a ser um dos dois templos-chefe da seita sōtō zen no Japão atual, o outro sendo Sōji-ji.

Dogen passou o resto de sua vida ensinando e escrevendo em Eiheiji. Em 1247, o novo regente, Hōjō Tokiyori, convidou Dōgen a vir a Kamakura ensiná-lo. Dōgen fez a longa viagem, ordenou o regente como leigo e voltou a Eiheiji em 1248. No outono de 1252, Dōgen adoeceu. Ele transmitiu seu manto ao principal aprendiz, Koun Ejō (孤雲懐弉), fazendo-o abade de Eiheiji. A convite de Hatano Yoshishige, Dōgen foi a Kyoto em busca de uma cura para sua doença. Em 1253, pouco depois de chegar a Kyoto, Dogen faleceu. Pouco antes de sua morte, ele havia escrito o poema:

Cinquenta e quatro anos iluminando os céus.
Um salto trêmulo arrebenta com bilhões de palavras.
Hah!
O corpo inteiro procura por nada.
Vivendo, eu mergulho nas Fontes Amarelas.

Zen

No cerne da variação de zen que Dogen ensinava, existe uma série de conceitos-chave, enfatizados diversas vezes nos seus escritos. Todos estes conceitos, entretanto, estão intimamente relacionados no sentido de que todos estão conectados diretamente com o zazen, ou "meditação sentada", que Dogen considerava idêntico ao zen, como pode ser visto claramente na primeira sentença do manual de instruções de 1243 Zazen-gi (坐禪儀; "Princípios do Zazen"): "Estudar zen... é zazen".[4] Ao se referir ao zazen, Dogen, na maioria das vezes, está se referindo especificamente ao shikantaza, ou "apenas sentar-se", que é um tipo de meditação na qual senta-se "num estado totalmente alerta, livre de pensamentos, dirigido a nenhum objeto e ligado a nenhum conteúdo em particular".

Unidade entre prática e iluminação

O conceito primário permeando a prática zen de Dogen é a "unidade prática-iluminação" (修證一如 shushō-ittō / shushō-ichinyo). Este conceito é tão fundamental na variedade de zen de Dogen — e, consequentemente, na escola soto como um todo — que formou a base para o trabalho Shushō-gi (修證儀), compilado em 1890 por Takiya Takushū (滝谷卓洲) do Eihei-ji e Azegami Baisen (畔上楳仙) do Sōji-ji como uma introdução ao enorme trabalho de Dogen, o Shōbōgenzō ("Tesouro do Olho do Darma Verdadeiro").

Para Dōgen, a prática de zazen e a experiência de iluminação eram uma e a mesma coisa. Este ponto foi sucintamente indicado por Dogen no Fukan Zazengi, o primeiro texto que compôs ao retornar ao Japão: "Praticar o caminho diligentemente é, por si só, iluminação. Não há qualquer diferença entre prática e iluminação ou entre zazen e vida diária". Previamente no mesmo texto, a base desta identidade é explicada em mais detalhes:

“Zazen não é "meditação passo a passo". Ao invés disso, é a prática simples e agradável de um buda, a realização da Sabedoria do Buda. A verdade surge onde não há ilusões. Se você entender isso, você é completamente livre, como um dragão que obteve água ou um tigre que reclina-se em uma montanha. O Dharma (lei suprema) surgirá por si mesmo, e você estará livre de cansaço e confusão.”

A unidade entre prática e iluminação também foi enfatizada no Bendōwa (弁道話 "Discurso sobre o que segue caminho") de 1231:

“Pensar que a prática e a iluminação não são a mesma coisa não é mais que um ponto de vista que está fora do Caminho. No buddha-dharma [ou seja, no budismo], prática e iluminação são a mesma coisa. Porque é a prática da iluminação, a prática diligente do Caminho de um iniciante é exatamente a totalidade da iluminação original. Por esta razão, ao passar a atitude essencial para a prática, ensina-se que não devemos esperar a iluminação fora da prática.”

Os escritos de Dogen

A obra-prima de Dogen é o Shōbōgenzō, discursos e escritos reunidos em 99fascículos sobre tópicos que vão desde a prática monástica até a filosofia da linguagem, do ser e do tempo. Neste trabalho, como em sua vida, Dogen enfatiza a absoluta primazia do shikantaza e a inseparabilidade entre prática e iluminação.

Embora fosse comum que trabalhos budistas fossem escritos em chinês, Dōgen escrevia frequentemente em japonês, transmitindo a essência do seu pensamento num estilo que era, ao mesmo tempo, conciso e inspirador. Um mestre no estilo, Dogen é notável não apenas pela sua prosa mas também por sua poesia (em estilo japonês waka e em vários estilos chineses). O uso da linguagem por Dogen era não convencional. De acordo com Steven Heine, especialista em Dogen: "Os trabalhos filosóficos e poéticos de Dogen são caracterizados por um esforço contínuo em expressar o inexprimível através do aperfeiçoamento do discurso imperfeito pelo uso criativo do jogo de palavras, neologismos e lírica, bem como pela redefinição de expressões tradicionais".

Desde 1930, a obra de Dogen desperta interesse nos ocidentais, mas a primeira edição inglesa do Shobogenzo só foi feita em 1958. A versão completa só foi editada em 1983, em quatro volumes, traduzidos por Gudo Wafu Nishijima e Chodo Cross. Atualmente, desperta grande interesse em países da Europa e nos Estados Unidos, onde diversos centros dedicam-se a estudar seu pensamento. Alguns escritos foram editados como trabalhos independentes, e ainda alguns ensinamentos foram reunidos e transcritos por seu discípulo direto e sucessor Koun Ejo.

No Brasil, um único trabalho reúne alguns capítulos selecionados e traduzidos sob o título: A Lua Numa Gota de Orvalho – (DOGEN, 1993). Uma versão em língua portuguesa está atualmente disponível, e em preparação para edição, podendo ser visualizada no site do autor - Marcos Beltrão Frederico, o monge zen Marcos Ryokyu, formado em filosofia e discípulo do mestre Iagarashi Roshi.

Zazen



Zazen (japonês: 坐禅; chinês: zuò chán (pinyin) ou tso-chan (Wade-Giles)) é a base da prática Zen Budista. O objetivo do zazen é "apenas sentar", com a mente aberta, sem apegar-se aos pensamentos que fluem livremente. Isto é feito tanto através do uso de koans, o principal método Rinzai, ou o sentar-se completamente alerta (o "apenas sentar", shikantaza), o qual é o método da escola Soto. O princípio do zazen é o de que uma vez que a mente esteja livre de suas diversas camadas, pode-se realizar a natureza búdica, atingindo-se a iluminação (satori).

Prática

A prática do zazen consiste basicamente em sentar-se em uma posição confortável, com a coluna ereta, em períodos de até 40 minutos, intercalados com meditação andando (Kinhin). Durante esse tempo deve-se procurar observar os pensamentos e sensações que surgem, sem buscar reprimi-los, causá-los ou julgá-los. É tradicional o uso de zafu e zabuton como almofadas, na qual o praticante fica sentado.

Um excelente guia para a prática do zazen foi escrita pelo monge zen budista japonês Dogen no século XIII.