sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Sōtō



A sōtō (曹洞宗; Japonês: Sōtō-shū, Chinês:Caodong-zong), às vezes referida como soto shu, é uma escola japonesa de budismo zen. Ela descende da escola chinesa caodong e foi levada ao Japão por Dogen Zenji (1200-1253). Atualmente, é a escola de zen com maior presença no Ocidente.

Com cerca de 15 000 templos e 7 milhões de seguidores (dados de 1989), a soto é a maior escola de zen do Japão, superando as escolas rinzai, obaku e sanbo kyodan.

Sua prática fundamental é a shikantaza, um tipo de meditação zen (zazen) que pretende levar o praticante ao esquecimento de si mesmo, chegando gradualmente ao que se poderia chamar de "pura experiência da realidade".

Os professores de zen (senseis ou roshis) da escola soto são monges que receberam a transmissão do Dharma, um reconhecimento conferido a eles depois de terem atingido um certo grau de realização e de terem servido em um monastério por vários anos. Com esse reconhecimento, os professores passam a integrar uma linhagem que, tradicionalmente, considera-se remontar a Siddhartha Gautama, o Buda histórico e fundador do budismo.

Além de fazer cerimônias, ensinar e atender à comunidade, na escola Soto os monges podem casar e constituir família.

História

O estilo de prática da escola soto tem suas raízes na obra do monge chinês Shih-t'ou Hsi-ch'ien-ch'ien (em japonês, Sekito Kisen, 700-790), fundador de um importante centro de prática na província chinesa de Hunan. Desse centro, surgiram três escolas de zen, dentre as quais a caodong (em japonês, soto), fundada por Tung-tung-shan Liang-chieh (807-69) na China. De lá, a soto foi levada ao Japão por Eihei Dogen Zenji (1200-1253).

Através da história do Japão, a soto teve grande aceitação entre as camadas mais populares (e mais numerosas) do Japão, com sua prática meditativa de "apenas sentar-se" (Shikantaza), enquanto a escola rinzai (a segunda maior), com suas práticas árduas de koans e artes marciais, ficou restrita a classes mais altas, como a dos samurais.

No século XX, com a imigração japonesa, monges da escola soto foram enviados ao Ocidente para atender às colônias de imigrantes japoneses, resultando em seu estabelecimento e crescimento no Ocidente. Atualmente, é a escola de zen com maior representatividade na Europa, América do Norte e América do Sul. No Brasil, em particular, todos os sensei (professores de zen que receberam a transmissão do Darma) em atividade são da escola soto.

Textos importantes

O poema "A harmonia entre Diferença e Igualdade" de Shih-t'ou Hsi-ch'ien (Sekito Kisen) é um importante texto antigo do budismo zen e é cantado nos templos soto até os dias de hoje. Um dos poemas de Tung-shan Liang-chieh, fundador da seita soto, "A canção da ciência do espelho de joias", também é entoado até hoje. Um outro grupo de seus poemas sobre as Cinco Posições do Absoluto e Relativo têm importância como koans na escola rinzai. Outros textos tipicamente cantados em templos soto incluem o Sutra do Coração (Hannyashingyō), e o Fukanzazengi ("Instruções universalmente recomendadas para zazen") de Dogen. Os ensinamentos de Dogen são carcterizados pela identificação da própria prática como iluminação espiritual, como podemos ver no Shōbōgenzō.

Shobogenzo

Shōbōgenzō (正法眼蔵? lit. "Tesouro do Olho do Dharma Verdadeiro") foi escrito pelo mestre Zen japonês Dogen entre 1231 e 1253 (ano da morte de Dogen). Diferentemente dos escritos anteriores sobre Zen provenientes do Japão, o Shobogenzo foi escrito em japones e não em chinês como era o costume. Outros trabalhos de Dogen, como o Eihei Koroku e o Shobogenzo Sanbyakusoku foram escritos em chinês. O Shobogenzo Sanbyakusoku (ou Shinji Shôbôgenzô) é composto de cerca de trezentos koans, e não deve ser confundido com o Shobogenzo que é objeto do presente artigo (também conhecido como Kana Shobogenzo).

Kana Shōbōgenzō

Os diferentes textos—referidos como fascículos—que compõe o Kana Shōbōgenzō foram escritos entre 1231 e 1253—o ano da morte de Dogen (Dōgen, 2002, p. xi).

Mosteiro Zen Morro da Vargem

Mosteiro Zen Morro da Vargem é o primeiro mosteiro zen-budista da América Latina, localizado em Ibiraçu, Espírito Santo.

Fundado em 1974 pelo mestre Ryohan Shingu, o mosteiro, localizado a 350 metros de altitude, tem como trabalhos a formação de monges segundo as tradições orientais e a educação ambiental.

Shikantaza



Shikantaza (只管打坐?) é um termo japonês sinônimo de "zazen". Foi introduzido por Dogen Zenji. É associado primariamente à escola zen soto. Significa, literalmente, "apenas sentar".

Shikantaza é um conceito da escola soto de zen que descreve a meditação zazen. Embora a prática de zazen, meditação sentada que une atenção e concentração, pareça visar a certos objetivos e utilizar de certos métodos, a ideia veiculada pela shikantaza é a de que o zazen não deve ser praticado perguntando-se sobre a prática, ou esperando obter-se qualquer benefício, mas simplesmente sentando-se.

Shikantaza, portanto, não possui qualquer técnica separada da atitude mental própria à prática do zazen. Consiste em se separar, no sentido de deixar as sensações e pensamentos emergirem até que desapareçam, sem tentar prolongá-los nem eliminá-los. Desta forma, os pensamentos desaparecem por si mesmos, pelo fato de que o meditante não busca nada em particular.

O shikantaza aponta para a consumação da prática: o despertar da natureza búdica presente em cada um, cuja manifestação era entravada pelo apego, inclusive apego pela própria prática.

Moksha



Moksha (sânscrito: मोक्ष, liberação) ou Mukti (sânscrito: मुक्ति, soltura) refere-se, em termos gerais, à libertação do ciclo do renascimento e da morte e à iluminação espiritual. Na mais alta filosofia hindu, é visto como a transcendência do fenômeno de existir, de qualquer senso de consciência do tempo, espaço e causa (carma). Significa a dissolução do senso do ser individual, ou ego, e a avaria total do nama-roopa (nome-forma). No hinduísmo, é visto como uma analogia ao nirvana, embora o budismo tenda a diferir uniformemente da leitura da libertação do Vedantismo Advaita. O jainismo também tem, como meta, o Moksha.

Os principais sistemas filosóficos do hinduísmo consideram que uma entidade viva, especialmente aquela que estiver utilizando um corpo humano, deve ter por objetivo alcançar três metas na vida: kama ou desfrute material dos sentidos; artha ou desenvolvimento econômico e dharma ou religiosidade mundana; ou tri-varga: धर्म = dharma, अर्थ = artha, कर्म = karma.

Kama é o desejo mais ardente, pois como desfrute material entende-se as atividades sexuais, tão bem codificadas no clássico Kama-sutra, além do desfrute do paladar (toda cultura tem seus requintes gastronômicos), do sentido da visão (paisagens), da audição (música, narrativas agradáveis) e do tato (o sentido empregado no sexo é principalmente a sensibilidade táctil).

Para satisfazer o desejo de Kama a entidade viva deve se empenhar em artha, ou atividades realizadas para o desenvolvimento econômico tais como o trabalho em suas diferentes formas. Sem recursos materiais auferidos por artha a entidade viva dificilmente consegue satisfazer seus desejos do kama.

E dharma são as atividades de religiosidade mundana, tais como a moral e os bons costumes, essenciais para se alcançar artha e kama. Uma pessoa sem disciplina, que usa drogas, que não se veste bem, etc. terá dificuldade para se empenhar no trabalho. Num sentido mais profundo, dharma significa retidão e "aquilo que sustenta", a lei moral; estar em harmonia com a lei universal.

É assim que se forma o caminho de trivarga, ou metas ordinárias da existência mundana: dharma gera artha, que compra kama. Moksha é considerada como a meta que está além do trivarga, para aqueles que já estão liberados destas atividades mundanas que prendem as demais entidades vivas, e o paramapurusha-artha, ou o objetivo primordial que uma entidade desfrutando existência mundana deve se empenhar em alcançar.

Satori

Satori (悟り) (悟 chinêswù ; coreano 오) é um termo japonês budista para iluminação. A palavra significa literalmente "compreensão". É algumas vezes livremente tratada como sinônimo de Kensho, mas Kensho refere-se à primeira percepção da Natureza Búdica ou Verdadeira Natureza, algumas vezes conhecida como "acordar". Diferentemente do kensho, que não é um estado permanente de iluminação mas uma visão clara da natureza última da existência, o satori refere-se a um estado de iluminação mais profundo e duradouro. É costume portanto utilizar-se a palavra satori, ao invés de kensho, quando referindo-se aos estados de iluminação do Buda e dos Patriarcas.

Segundo D. T. Suzuki, "Satori é a raison d'être (Razão de ser) do Zen, sem o qual o Zen não é Zen. Portanto todo o esforço, disciplinário ou doutrinal, é dirigido ao satori."

Sanbo Kyodan



A Sanbō Kyōdan (Japonês: 三宝教団,"Escola dos Três Tesouros") é a escola de Zen mais recente do Japão. Foi fundada em 1954 por Yasutani Hakuun, discípulo e sucessor de Harada Daiun. Ambos foram treinados e receberam a transmissão do Dharma na escola Soto, e Harada também completou o treinamento de koans da escola Rinzai. Ainda assim, sentiam-se insatisfeitos com a prática de Zen disponível no Japão.

Para Harada, o Zen no Japão do século XX havia se tornado um sistema formalizado de rituais vazios, em que poucos praticantes realmente atingiam a iluminação, e seus templos haviam se transformado negócios de família, passados de pai para filho, onde os monges limitavam-se a oficiar funerais.

Assim, a Sanbo Kyodan foi fundada para ser uma escola que congregasse tantos as práticas da Soto quanto as da Rinzai, e se focasse em atingir o Satori. Aceitando na prática que tanto monges quanto leigos podem atingir a iluminação, ambos tinham tratamento igualitário, podendo inclusive receber a transmissão do Dharma e ocupar cargos de liderança na hierarquia da escola. Além disso, movidos pelo espírito libertário do Japão pós-guerra, a Sanbo Kyodan recebeu e treinou ocidentais, tanto zen-budistas quanto de qualquer outra religião. Por isso, apesar de ser uma escola pequena no Japão, a Sanbo Kyodan exerceu grande influência no Zen praticado no Ocidente -- mestres como Robert Aitken, Philip Kapleau e o padre Hugo Enomiya-Lassalle foram formados lá.

Abades da Sanbō Kyōdan

Yasutani Hakuun, 1954-1970
Yamada Koun, 1970-1989
Kubota Jiun, 1989-2004
Yamada Ryoun, desde outubro de 2004