sexta-feira, 2 de junho de 2023

Luciferianismo - A Rainha Da Sabedoria


Uma das companheiras do Rei Salomão na Bíblia foi a Rainha de Sabá. Ela recebe apenas uma pequena menção, mas ainda assim muitos mitos e lendas notáveis acerca dela têm crescido no decorrer dos séculos. Esse processo é geralmente um forte indicativo de uma antiga figura típica ou lendária que entrou em conflito com a ortodoxia de sua época. Uma dica de que isso se relaciona a Sabá é dada pelo seu nome. Ele significa “sete”, um número místico que nos traz à memória os sete governadores ou regentes planetários angelicais e a Deusa das Sete Estrelas e um “juramento” no sentido de um pacto ou contrato feito com os poderes celestiais. No Cântico dos Cânticos, Sabá diz: “Nao olheis sobre mim, porque sou morena, porque o sol resplandeceu sobre mim” (1:6). Isso nos faz lembrar de um dos títulos dado a Seth, “o queimado”. Por isso Sabá é mais do que apenas uma governante em visita a uma terra exótica por quem Salomão se apaixona, e temos de procurar o verdadeiro significado por trás da fachada exterior.

Referências bíblicas sobre Sabá podem ser encontradas em 1 Reis 10:1-13. O trecho descreve como ela viajou para Jerusalém para ver Salomão depois de ouvir a respeito de sua famosa sabedoria. Sabá queria provar para si que o rei possuía conhecimento (oculto) e, então, de acordo com a Bíblia, ela foi prová-lo por “enigmas”. Isso indica que Sabá era uma pessoa sábia e instruída. Aliás, podemos supor que o encontro foi entre dois iniciados e é interessante ver que Sabá considerava Salomão como “a estrela da manhã”.

Sabá chegou a Jerusalém com “uma grande comitiva, com camelos carregados de especiarias e muitíssimo ouro e pedras preciosas”. Parece que ela estava disposta a pagar um alto preço pelo conhecimento que achou que podería obter do rei hebreu. A referência a especiarias é interessante, pois alguns estudiosos da Bíblia colocam a terra de Sabá no sul da Arábia, que era a fonte de olíbano - oferecido pelos três magos ao menino Jesus. Um escritor francês, Gerald de Nerval, descreveu imaginativamente a rainha como “coroada com estrelas, em um turbante cintilante com as cores do arco-íris, a face dela é de tom de oliva".

Assim como pela sua sabedoria, Salomão era famoso pelo seu conhecimento das artes mágicas. Isso pode ser outro motivo que fez com que Sabá fosse atraída a visitá-lo. Acreditava-se que o rei podia controlar djinns e os espíritos dos elementos o obedeciam - os gnomos, ondinas, silfos e salamandras. Eles ajudaram Salomão na construção do seu templo. Uma das mais famosas contribuições de Salomão para a Arte foi um livro de encantamentos para evocar os espíritos e controlar demônios e elementáis. Esse volume foi banido já no século VIII a.C. pelo rei Ezequias de Judá. No entanto, uma cópia ainda estava em ampla circulação no século I d.C. e era considerado como um grimório altamente apreciado pelos magos judaicos.

O volume é mencionado novamente no século XI como um estudo escrito por Salomão sobre as jóias mágicas e a evocação de demônios. Ele é mencionado novamente no século XIII e, em 1350, um livro chamado de Livro de Salomão35 foi publicamente queimado sob as ordens do papa Inocêncio VI. Todavia, dizem que em 1456 o duque de Borgonha tinha uma cópia do tratado proibido. Em 1559, a Inquisição espanhola também queimou cópias do livro como uma obra herética e perigosa. Mais tarde, ele apareceu como a Clavicula Solomonis ou Chave de Salomão, e uma cópia é mencionada pela Inquisição de Veneza como pertencente a uma bruxa no século XVII. A Chave foi traduzida para o inglês no século XIX por Samuel MacGregor Mathers, membro da Aurora Dourada, e tem sido usada hoje em dia tanto por magos cerimoniais quanto por bruxas tradicionais.

Sabá ficou tão impressionada com a extensão do conhecimento e sabedoria de Salomão que o presenteou com 120 talentos36 de ouro, mais todas as especiarias e jóias que trouxe com ela em sua comitiva. Em resposta a esse generoso gesto, Salomão “deu à rainha de Sabá tudo o que ela desejou e pediu, além do que já lhe havia dado da sua munificência reaF (1 Reis 10:13). Depois dessa troca, a lenda popular diz que eles se tomaram amantes, e a rainha deu à luz um menino. Ele foi chamado de Menelik,37 ou “filho do sábio”. Esse filho de Salomão e Sabá mais tarde foi o fundador da dinastia abissínia ou etiópica dos “reis leões”. O último dessa casa real foi Haile Selassie I - o também chamado “Leão de Judá” que foi deposto em um golpe de Estado na década de 1970. Também na Etiópia, uma das possíveis terras natais de Sabá, ela era conhecida como Makeda ou “a flamejante”. Isso foi uma referência à passagem de um cometa pelo céu. Isso é um sinal de que ela era considerada como uma iniciada dos Mistérios, uma “Alma Antiga”, uma adepta ao ocultismo ou iluminada cujo espírito é transportado para as estrelas após a morte. Depois da desencamação, eles estão livres para retomar à terra, se desejarem, como, para usar o termo oriental, um Bodhisattva para auxiliar a humanidade.

Em uma das lendas mais curiosas sobre Sabá como uma jovem, ela foi amarrada nos galhos de uma antiga árvore imensa como uma oferenda para um dragão (a Árvore do Mundo e a serpente alada que a guarda?). Sete sábios ou homens sagrados sentaram-se à sombra da árvore para discutir assuntos espirituais. Quando o dragão chegou, eles o mataram e resgataram Sabá. Quando ela voltou ilesa à sua vila, os anciões ficaram tão impressionados que a nomearam a “líder de todos os líderes”.

Infelizmente, quando os sábios mataram o dragão, parte do sangue venenoso espirrou no pé e na pema esquerda dela. O sangue tomou a pema dela peluda e o pé ficou como um casco rachado, parecido como o de um bode. Dizem que, quando ela viajou para Jerusalém, Salomão curou seu membro deformado, que voltou à forma humana.

O encontro entre a rainha africana ou árabe e o rei hebreu pode ser compreendido, muitíssimo no nível esotérico, como um “casamento sagrado”. Sabá representa a personificação feminina da sabedoria divina, simbolizada pela Lua, que se une a Salomão como o rei Sol. Ela foi comparada a Sophia ou Sabedoria, conhecida como “o espelho de sabedoria” e a “noiva mística”. O último termo também foi usado para descrever a Shekinah ou “Noiva de Deus” no misticismo hebraico. Outro título de Sophia era a “Senhora do Mundo Interior”, e ela aparece no Taró como a carta da Alta Sacerdotisa. Ela retrata uma figura feminina, vestindo uma coroa de lua crescente e um manto azul, sentada em um trono entre os dois pilares gêmeos de Joachin e Boaz. Na página título da obra de Kircher A rs Magna Sciendi (1969), Sophia é retratada entronizada segurando um livro que contém um alfabeto. Essa é uma representação das sete chaves hieroglíficas que supostamente contém o todo do conhecimento humano. Sabedoria ou Sophia também foi descrita como a “companheira de juventude” de Adão e comparada a Eva, que foi criada a partir da anima ou do eu feminino do primeiro homem andrógino (Roob, 1997:171). Como “companheira de juventude”, Sophia é possivelmente a primeira esposa de Adão, Lilith, que examinaremos no próximo capítulo.

O filósofo hermético do século XVI Giordano Bruno comparou a deusa da Lua Diana com Sophia baseando-se no fato de que Luna (a Lua) é um espelho refletindo a luz do Sol. Na lenda de Actaeon e Diana, o caçador é o intelecto do homem buscando a sabedoria divina. Quando ele finalmente agarra Diana-Sophia no espelho da natureza e levanta o véu de seu segredo lunar, toma-se vítima de sua própria luta, pois a matilha dela o rasga em pedaços. O caçador toma-se o caçado e ele percebe que atraiu o Ser Supremo para dentro de si, e que não precisa mais buscá-lo fora. Aliás, como Aradia, a filha de Diana, diz: “Se o que busca não encontrar dentro de você, jamais encontrará sem você”

Dizem que, depois de Sabá dar à luz o filho deles, Salomão deu a ele a Arca da Aliança, como um presente de nascimento. Em uma versão da história, Sabá e Menelik conspiraram juntos para roubar a Arca e levá-la de volta para a terra natal deles. Alega-se que a Arca - representando a efetiva presença de Javé na Terra e contendo as placas dos Dez Mandamentos - ainda é preservada em um mosteiro etíope. Sacerdotes-monges que são os guardiões hereditários fervorosamente a protegem de intrusos. Outra história diz que Salomão também deu a Sabá a pedra de esmeralda que caiu da coroa de Lúcifer. Supostamente essa pedra foi entalhada em uma tigela ou bandeja que foi usada na Ultima Ceia e hoje pode ser vista em uma igreja em Gênova.

Uma lenda em relação às origens de Sabá diz que ela governou sobre Sabá, a terra dos sabeus ou adoradores de estrelas. Eles supostamente viveram no sul da Arábia no que é hoje a república do Iêmen. Em setembro de 2000, o jornal The Times relatou que os arqueólogos descobriram um templo de 3 mil anos dedicado ao deus Lua no norte do Iêmen. Ele estava localizado perto da cidade de Marib, que por muito tempo é associada à rainha de Sabá. Eles acreditavam que a descoberta nas areias cambiantes do deserto podería provar que a rainha bíblica veio do sul da Arábia. No entanto, em 1999, um arqueólogo britânico anunciou que havia achado as minas da cidade da rainha nas florestas tropicais da Nigéria, na África ocidental. Os habitantes locais chamavam Sabá de Birikisu Sungbo, e peregrinos ainda visitam o local que dizem que é o túmulo dela. Outra versão ainda diz que ela governou a civilização perdida de Núbia no atual Sudão. Diversos governantes núbios migraram para o norte e se tomaram faraós no Egito.

Outra história lendária relata como um pássaro poupa contou a Salomão sobre a “grande rainha” que vinha de “uma terra maravilhosa” da qual ele nada conhecia. Esse pássaro falante estava aparentemente ensinando a Salomão a suposta “língua dos pássaros” conhecida pelos mestres Sufis medievais. Essa era a língua de Enoch ou língua universal angelical falada antes da Torre de Babel. Nessa história, foi Salomão quem ordenou Sabá, descrita como uma “adoradora do sol”, a comparecer em sua corte. Quando ela chegou, ele ficou horrorizado quando ela passou por um chão espelhado do seu palácio. Ele podia ver por baixo do vestido, e ela tinha pernas peludas como um bode. Salomão concluiu que ela deveria ser um dos demônios do deserto, chamados seirim, que seguiam Azazel, ou o vampiro demônio feminino Lilith.

Alguns escritores associaram Sabá ao culto medieval da Virgem Negra que era reverenciada por heréticos medievais como os Cavaleiros Templários. Pode ser assim que ela foi ligada estranhamente ao mito do Graal. Sabá supostamente foi a responsável pela construção da Nave de Salomão, uma embarcação mágica com o poder de viajar pelo tempo e o espaço. Foi supostamente nesse barco que sir Galahad viajou até o Castelo do Graal no mito de Arthur. Sabá revelou que Salomão teve uma visão do cavaleiro no futuro e, por essa razão, ordenou a construção do navio. Ele aparentemente foi construído da madeira obtida da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no Éden. Há muito simbolismo estranho aqui...

Sabá também faz uma aparição coadjuvante como convidada no Novo Testamento que serve para ligar Jesus a seu ancestral Salomão. Jesus indiretamente se refere a ela como “a rainha do sul”. Ele fala aos fariseus, uma seita que ele desprezava, que “a rainha do Sul se levantará no dia do juízo com esta geração, e a condenará”, (Mateus 12:42) É possível, a partir desse comentário, e o fato de que a Condessa de Toulouse às vezes tenha sido chamada de Rainha do Sul, que Sabá pode ter sido associada ao culto da Virgem Negra. Sua adoração era mais forte no sul da França, onde, heresia também floresceu durante a Idade Média.

Ean Begg (1985) também associa Sabá a uma lendária personagem folclórica da Idade Média, chamada rainha Sybilla, cujo nome provavelmente deriva de “sibila” ou vidente feminina. Ela supostamente foi a ancestral de todas as bruxas, bruxos e mágicos. Ela era caracterizada fisicamente por ter pés palmados como os de um ganso. Isso é comparado às pernas ou aos pé de bode de Sabá. Aliás, Sabá foi descrita como “uma sibila com pés iguais aos de um ganso e olhos cintilantes como as estrelas”. O pé de ganso é um nome antigo para o pentagrama, a Estrela de Davi,40 e dizem que é a pegada da deusa-demônio Lilith. Caitlin Matthews associou Sabá-Lilith com à deusa clássica Vênus e a lenda do Monte de Venus. Ela é “a deusa escondida na montanha que conhece tudo e cujo abraço concede a transmissão de conhecimento” (1991: 212). Essa “deusa escondida”, diz Matthews, é a Deusa Preta ou Negra que guarda o Graal e inicia o explorador na sabedoria.

A deusa de pé de ganso das bruxas aparece ñas rimas infantis como a Velha Mamãe Ganso, que possui a imagem típica de uma bruxa velha. Sibilina foi associada à princesa merovíngia Bertha, conhecida pelo apelido de “Pé Grande”. Embora Bertha seja um nome cristão convertido, seu nome é uma variação de Berchta ou Holda, a deusa germânica do inverno. Frau41 Holda viajava pelo céu à noite na forma de um ganso e neve caía de suas asas.

Dizem que os merovíngios descendem de um casamento de fadas entre um humano e um monstro feminino conhecido como um quinotauro42 chamado Melusine. Popularmente conhecidos como os “reis feiticeiros de cabelos compridos”, os merovíngios eram adoradores da deusa Diana- Ártemis, antes de serem convertidos ao Cristianismo. Na Idade Média, cabelo comprido em homens ou em mulheres era considerado um sinal de que eles praticavam feitiçaria e adoração ao demônio. Dizem que a dinastia preservou a linhagem sagrada do rei Davi e seu filho Salomão. Por essa razão, eles aparecem intensamente em especulações sobre a existência do sang rael ou a linhagem de Jesus de Nazaré.

Sabá pode também ser relacionada com Herodias, a esposa do rei Herodes que, dizem, imigrou para a França. Herodias, às vezes chamada de Herodiana, foi confundida com a deusa bruxa Habondia ou Nocticula. Ela concedeu um dos nomes alternativos para Aradia, a deusa das bruxas italianas e a filha de Diana e Dianus (Lúcifer). Habondia é também outra versão de Perchta ou Holda e ainda é reverenciada sob aquele nome em covens de bruxas tradicionais. Paul Huson descreve Habondia como “a deusa [bruxa] vista como a Dama do Amor e Abundância” (1970: 218). Portanto, fizemos uma análise completa, porém é óbvio que existe muito mais a respeito da Rainha de Sabá do que a breve menção dela na Bíblia pode dar a entender.


Luciferianismo - O Templo De Salomão


Historiadores maçônicos não deram nenhuma razão para a história de Ninrode e da Torre de Babel ter sido substituída pela lenda do Rei Salomão e seu templo nas origens lendárias da arte deles. No entanto, o projeto e a construção do templo em Jerusalém são imersos em doutrina arcana, simbolismo Luciferiano e história maçônica. Já no século XIII, um bispo cristão associou a construção do templo à construção das grandes catedrais góticas pela Europa. E observou como os construtores que as edificaram haviam incorporado naquelas igrejas medievais a escada em caracol do templo judaico, que representava “o conhecimento oculto que somente aqueles que ascenderam aos planos celestiais possuem. O bispo prossegue dizendo como ‘as pedras são polidas e quadriculadas, que é sagrado e puro e são construídas pelas mãos do Grande Desconhecido em um lugar permanente na igreja.” (Jones, 1950:426-7)

No relato bíblico sobre a construção do templo, é afirmado que Salomão pediu assistência ao pagão rei Hirão de Tiro na Fenicia (Líbano atual). Naquele tempo, Tiro era famosa em todo o Oriente Médio pela adoração da deusa Astarte. Salomão trocou com o Rei suprimentos de cevada, trigo, óleo, cereais e vinho como pagamento pela madeira de cedro usada para construir o templo e os serviços dos arquitetos, pedreiros, carpinteiros e trabalhadores de metal. O Rei também enviou um ferreiro e mestre construtor chamado Hiram Abiffpara supervisar os construtores e o trabalho deles. Abiff é descrito de várias maneiras como “um artífice de metal” ou “homem habilidoso”. Em termos bíblicos, um “artífice habilidoso” era um mago ou feiticeiro e, como veremos, o homônimo do rei tinha algum conhecimento das artes mágicas.

Hiram Abiff é às vezes chamado de filho do rei Hirão, e é descrito enigmaticamente como “o filho da viúva”. Ainda hoje os maçons se referem a si mesmos usando esse termo, que é às vezes usado para se apresentar para um membro Irmão. Em termos pagãos, a expressão é uma referência codificada ao “deus mortal” da mitologia do Oriente Médio, que morre, descende ao mundo subterrâneo e é pranteado pela sua mãe deusa. Essa figura da “viúva” aparece em muitas culturas; ela é Ishtar chorando por Tamuz, Isis em luto por Osíris e Frigga lamentando a morte de Baldur. Nos mistérios cristãos, ela é a Abençoada Virgem Maria, como Mãe Dolorosa, a “mãe aflita” ao pé da cruz que recebe em seus braços o corpo armiñado de seu filho sacrificado — a “Luz do Mundo”. (João 8:12)

A adoração do deus pagão Tamuz nos arredores do templo em Jerusalém é mencionada no Velho Testamento. Descrevendo uma visão recebida de Javé, o profeta Ezequiel diz: “Então ele me levou ao átrio interior da casa do Senhor, que está do lado do norte, e vi ali mulheres assentadas chorando por Tamuz”. Ele prossegue descrevendo como foi levado ao átrio intemo do templo. Lá, entre o pórtico e o altar, cerca de vinte homens estavam em pé com os rostos para o Oriente adorando o sol na maneira pagã. (Ezequiel 8:14-16)

Na doutrina maçônica, Hiram Abiff dividiu seus empregados em três grupos ou graus conhecidos como Aprendiz, Companheiro e Mestre Constmtor (maçom) e ainda hoje eles são usados na Maçonaria. Cada grau aplicava seu próprio conhecimento, palavras de passe secretas, sinais e marcas de construtores pelas quais eles se reconheciam e identificavam seus graus. Alguns dos construtores não estavam satisfeitos com os graus que tinham recebido e conspiraram para obter uma posição mais alta. Três Companheiros, Jubela, Jubelo e Jubelum, decidiram confrontar Hiram Abiff e forçá-lo a revelar a palavra de passe secreta do grau de Mestre Construtor. Eles prepararam uma emboscada nas três entradas do templo inacabado.

Enquanto Abiff passava pela entrada sul, ele foi confrontado por Jubela. Quando se recusou a revelar a palavra de passe, Abiff foi golpeado na garganta com uma régua. O construtor machucado cambaleou até a entrada oeste, e sua saída foi impedida por Jubelo. Novamente ele se recusou a entregar a palavra de passe e foi atingido no peito por um compasso. No final, mortalmente ferido e sangrando intensamente pelas duas feridas, ele tentou escapar pela entrada norte. Ali Jubelum estava à espera. Apesar de estar morrendo, Abiff ainda se recusou a revelar o segredo pela terceira vez. Ele foi atingido entre os olhos com um malho ou martelo de construtor e caiu morto.

Para esconder o seu ato covarde, os assassinos apavorados secretamente esconderam o corpo do arquiteto no Monte Monah, onde Enoch havia “andado com Deus e Ele o tomou”. Eles plantaram um arbusto de acácia perene sobre a cova rasa para esconder a terra remexida. Tentaram então fugir para o sul, em direção à Etiópia, mas foram pegos na fuga e executados. O Rei Salomão enviou grupos de busca para encontrar o corpo de Abiff e no final ele foi encontrado. Os Aprendizes do templo tentaram sem sucesso trazer seu mestre de volta do mundo dos mortos. Ele foi finalmente ressuscitado pelos Mestres Construtores usando “o aperto forte da garra do leão”.

Manly Palmer Hall disse sobre a história de Hiram Abiff e seu assassinato: “Dessa forma, o construtor assassinado é um tipo de mártir cósmico - o espírito crucificado do Bom, o deus mortal cujo mistério é famoso por todo o mundo". (1962: IXXVIII)

Hall associa Abiff à força criativa (fálica) solar que morre e é renascida durante o curso do ano. O rito de necromancia realizado pelos Mestres Construtores chamado de “o aperto forte da garra do leão” é, segundo Hall, uma referência ao signo zodiacal de características da realeza, o Leão. Ele é associado ao mês de agosto e, na moderna tradição neo- pagã, com Lammas e o sacrifício do rei divino.

Nos ritos de iniciação dos mistérios pagãos, o leão representava “a superação das forças da morte e do renascimento, e a afirmação da imortalidade individual do espírito humano”. (Knight, 1985:70) No Rosacrucianismo, o leão é o símbolo para o sol e a força fálica solar associada ao “poder da serpente” do kundalini, acordado na magia sexual por um processo de equilíbrio dos quatro poderes elementais e pelo crescimento a partir dos poderes da Lua em conjunção com as outras seis forças planetárias. (Knight, 1985:88)

Na Alquimia, a união mística ou “casamento sagrado” dos poderes solares e lunares é simbolizada pela serpente com cabeça de leão. Podemos recordar que ela é um dos símbolos usados pelos antigos egípcios para descrever o deus solar negro Seth. Em processos alquímicos, a união entre o rei solar e a rainha lunar produziu um “filho mágico”, que era o ser humano andrógino aperfeiçoado antes de Adão. Como Gareth Knight diz: “a maior visão de unidade encontra-se na transformação da Deusa, a dançarina no centro da rosa. Esse é um mistério a ser encontrado também nas lendas do Santo Graal e o segredo da jóia na cabeça do sapo da Alquimia. Aquela [jóia]que caiu da coroa do caído Filho da Manhã'. (1985:189)

Jesus foi descrito como “... o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi...” (Apocalipse 5:5). Alguns escritores sugeriram que isso era porque ele nasceu sob o signo astrológico de Leão (Gilbert, 1996:223). No entanto, é mais provável que ele tenha recebido esse título por causa de sua ligação com os antigos mistérios egípcios e a linhagem sagrada dos antigos “reis leões”.

Alguns antigos historiadores maçônicos viam Hiram Abiff como outra forma de Osíris. Uma das entradas em que Abiff foi golpeado foi a do oeste, onde o sol se põe. Na mitologia egípcia, o mundo subterrâneo governado por Osíris depois de sua própria morte era situado no oceano ao oeste. Osíris tradicionalmente levanta dos mortos no norte, e na astrologia egípcia esse é o local associado ao Leão. O sul, onde Abiff foi ferido primeiro, era tradicionalmente o domínio de Seth. Osíris às vezes também era chamado de o Senhor da Arvore de Acácia, e essa é a mesma árvore que os três assassinos plantaram sobre a cova do mestre construtor.

A tradição esotérica alega que Hiram Abiff foi membro de uma antiga sociedade de construtores e arquitetos conhecida como os Artífices de Dioniso. Eles supostamente apareceram pela primeira vez por volta do ano 1000 a.C. e adotaram seu nome a partir do deus grego Dioniso, que é outra versão do deus mortal da vegetação. A Sociedade usava sinais secretos e palavras de passe para se identificar, era dividida em capítulos ou Lojas governadas por um mestre construtor e se dedicava a ajudar os pobres e os doentes. Dizem que eles estabeleceram Lojas secretas na maioria dos países mediterrâneos, por todo o Império Romano e até a índia no Oriente. Eles eram associados a outra sociedade secreta ligada à construção civil chamada Jônios. Membros desse grupo haviam se estabelecido na Ásia Menor e, como modelos culturais, eles se dedicaram a expandir a cultura, especialmente em sua forma grega, àquele que eles consideravam o mundo bárbaro.

Os Jônios foram supostamente responsáveis pelo famoso templo à deusa Diana, em Efeso, na Turquia de hoje, que foi condenado por São Paulo e destruído pelos cristãos. Uma lenda diz que os Jônios e os Artífices viajaram de Tiro para trabalhar no templo de Salomão. Mais tarde, os Artífices adotaram na prática o nome de os Filhos ou Crianças de Salomão, em sua honra. Eles também fundaram os Cassidens, um grupo na Palestina responsável pela construção e restauração de sinagogas. Foi alegado que, em contrapartida, os Cassidens colaboraram para a fundação da comunidade mística dos Essênios, cujos membros podem possivelmente incluir João Batista e Jesus de Nazaré.

Os Artífices de Dioniso tinham muitas opiniões em comum com as corporações de construtores medievais e com os maçons que os seguiram. Eles acreditavam que templos tinham de ser construídos usando os princípios da Geometria sagrada. Pelo uso habilidoso da simetria, medida e proporção, os Artífices construíram edifícios religiosos que representavam o corpo humano como um símbolo de Deus, o Universo e o Primeiro Adão, o “homem aperfeiçoado”. Os projetos de muitos templos antigos foram baseados na proporção do corpo humano como um microcosmo no macrocosmo em termos herméticos. Kircher, em seu livro Arca Noê27 (1675), disse: “Quando o homem se estica em cruz, de forma que o círculo toca as extremidades de suas mãos e pés, o centro está no umbigo. Mas, se ele coloca seus pés juntos, o centro está no meio do membro [falo] humano. Era de acordo com essa medida do corpo humano que Noé supostamente construiu sua arca e Salomão, seu templo.'’'

As teorias dos Artífices sobre o projeto do templo, a Geometria sagrada e a Arquitetura foram amplamente baseadas na unidade mística entre a humanidade, o Universo e Deus. Eles também fomentavam uma crença conjunta em uma utopia na Terra. Isso era expresso simbolicamente por um bloco grosseiro de pedra ou rocha chamado de pedra polida,28 que o mestre construtor, representando o Grande Arquiteto do Universo, estava constantemente polindo e talhando para transformá-la em um objeto de perfeição. O malho e o cinzel do construtor representam as forças cósmicas que moldam o destino da humanidade. As semelhanças entre essas crenças e aquelas dos maçons tempos depois são certamente notáveis para ser totalmente coincidentes.

Uma das muitas coisas surpreendentes sobre o templo de Salomão, que deveria supostamente ser a “Casa de Javé”, é que o rei hebreu pediu materiais e ajuda de um rei pagão e usou trabalhadores pagãos para construí-lo. Isso foi em uma época em que os hebreus deveríam estar adorando um deus monoteísta. B.W. Anderson alegou que “o templo projetado por arquitetos fenicios (isto é, canaanitas) representava a invasão da cultura canaanita exatamente no centro da vida e adoração de Is- raer. Aliás, o projeto do templo em Jemsalém era muito similar, se não idêntico, a outros templos do Oriente Médio, incluindo aqueles do Egito. Além disso, os suprimentos enviados por Salomão a Tiro como pagamento suspeitosamente se parecem com o tipo de ofertas sacrificatorias feitas às divindades dos cultos de fertilidade na região.

Dizem na tradição cabalista que havia uma troca de correspondências prolongada e secreta entre os dois reis contendo enigmas que Salomão tinha de responder. E extremamente tentador especular que Salomão tinha se tomado um aluno do rei pagão e “foi instruído por ele nos mistérios das deusas Ishtar e Astarte e na descida delas ao mundo subterrâneo”. (Howard, 1989: 15) O historiador e pesquisador maçônico J.S.M. Ward vai mais além ao alegar que o Rei Hirão e o Mestre Construtor Hiram Abiff eram uma e a mesma pessoa - um rei-sacer- dote de Tiro, “a encarnação viva de Adônis [Tamuz]”. Nessa função, ele foi oferecido como um sacrifício de consagração na conclusão do templo de Salomão.

Enquanto muitos leitores da Bíblia acreditam na história fabricada de que o templo foi construído e dedicado para a adoração de Javé, o dr. Raphael Patai alegou que por mais de quase quatrocentos anos existiu em Jemsalém uma estátua de Asherah, representando a deusa da fertilidade e a consorte secreta de Javé. O dr. Patai diz: “A adoração a ela fazia parte da verdadeira religião aceita e guiada pelo rei, a corte e a classe sacerdotal....” (1990:50) Essa imagem da deusa canaanita somente foi removida quando os babilônios invadiram o templo em 586 d.C. e o destruíram.

Mesmo enquanto ele era um seguidor dedicado de Javé, Salomão imitou o exemplo de muitos dos seus próprios súditos e foi também um adorador da deusa da fertilidade. O Antigo Testamento afirma de forma perfeitamente clara: “No tempo da velhice de Salomão, suas mulheres [estrangeiras] lhe perverteram o coração para seguir a outros deuses (...) Salomão seguiu a Astarote, deusa dos sidônios...” Suas mulheres também “queimavam incenso e sacrificavam a seus deuses (1 Reis 11:4-8) Enquanto dizem que isso aconteceu quando Salomão era velho, antes mesmo de construir seu templo, ele havia feito uma aliança com o faraó egípcio e se casou com uma de suas filhas. Fazer bolos como oferendas à “Rainha do Céu” e queimar incenso em bosques sagrados em “locais altos” para Baal, Anat e Asherah-Astarte eram práticas comuns durante o reinado de Salomão. Existem diversas referências a elas no Velho Testamento e sua reprovação pelos profetas.

Na doutrina esotérica maçônica, dizem que houve três templos de Salomão. O primeiro foi conhecido como “A Grande Casa do Universo” ou “A Casa da Luz Eterna”. Ele era representado pelos 12 símbolos do zodíaco girando em tomo do sol e simbolizava o sistema solar e o Universo físico. O “segundo templo” era o corpo humano como um microcosmo do macrocosmo. Ele representava o iniciado percorrendo o Caminho, aquele que está na busca da gnose e da iluminação espiritual por meio do contato com o Deus Oculto dentro dele.

Em termos esotéricos, o “segundo templo” era erguido quando o iniciado compreendia que ele ou ela era um “templo do espírito” e que “o espírito de Deus habitava dentro deles”. Um dos dizeres atribuídos às cerimônias de iniciação nos Mistérios pagãos era “Tu és Deus”. O assim conhecido “terceiro templo” é o “templo invisível e não feito com mãos humanas”. No Cristianismo esotérico é a “Igreja Oculta do Santo Graal” e “O Templo Celestial”.

Dizem que o templo “não foi construído por mãos humanas” porque supostamente um verme misterioso ou uma criatura serpentiforme chamada de Shamir talhava e cortava as pedras. Outras histórias dizem que Salomão contou com a ajuda sobrenatural para construir o templo na forma de serventes elementáis que ele invocou usando seus poderes de mago. Ele supostamente evocou djinns (espíritos) e demônios para mover enormes blocos de pedra para a posição correta. Curiosamente, um antigo documento de Alexandria refere-se aos poderes mágicos dos sacerdotes egípcios que “tinham domínio sobre os espíritos dos elementos”. Eles conseguiam, supostamente por magia, “carregar pedras para seus templos, através do ar, que mil homens não conseguiríam erguer”. (Collins, 1998: 39)

Um dos mais notáveis objetos no templo era o chamado Mar de Fundição. Ele era um caldeirão ou tigela enorme com uma borda decorada com lírios. Era sustentado por 12 bois, três em cada quadrante. (1 Reis 7:23-26) Manly Palmer Hall comenta sobre ele: “A alma, formada por uma invisível substância ardente, um metal dourado brilhante, é fundida pelo mestre construtor Chiram Abiff em um molde de barro (o corpo físico) e é chamado de Mar de Fundição”. (1962 CLXXV) Isso é uma alegoria ligada aos poderes da arte do forjador de metais, como um meio de transmutar o físico no espiritual. O Mar de Fundição é a obtenção da consciência cósmica por meio da “centelha divina na foija” operada pelo ferreiro divino. Anderson também diz: “O mar (alegórico ao primeiro oceano) era sustentado por 12 bois [e] reflete fertilidade e temas mitológicos do Crescente FértiF (1971). Na verdade, Hiram Abiff teve uma visão de Tubalcaim que concedeu a ele o poder para terminar o templo e fazer o Mar de Fundição. Dizem que a Rainha de Sabá se apaixonou por Hiram Abiff enquanto ela era hóspede e amante de Salomão. Quando o rei descobriu, contratou três dos construtores para matar o seu rival.

Dois outros objetos entre os mais importantes no templo eram os pilares gêmeos chamados de Joachin e Boaz, que se encontravam na entrada do edifício. Eles eram decorados com romãs, que dizem ter sido as “maçãs” que nasciam na Arvore do Bem e do Mal no Jardim do Éden. Diz-se que estes pilares foram montados como cópias dos obeliscos encontrados nas entradas dos templos egípcios. Os mais famosos destes são aqueles erguidos pelo faraó Tutmés ou Tutmósis III na cidade solar de Heliópolis por volta do século XV a.C. Freqüentemente, mas de forma incorreta, referidos como os Obeliscos de Cleópatra, um se encontra na barragem do Tâmisa em Londres e o outro, no Central Park em Nova York.

No Egito Antigo, mesmo antes da construção das pirâmides, obeliscos ou pilares eram usados para unir simbolicamente a Terra com o Céu. Antes da unificação das Duas Terras, cada uma tinha seu djed ou pilar especial. No Baixo (ou do norte) Egito, o pilar ficava em Heliópolis e no Alto (ou do sul) Egito ele era situado em Tebas. Pilares gêmeos similares foram encontrados no templo de Astarte em Tiro e em seu outro centro de culto em Biblos, que aparece como o local de descanso de Osíris, cujo caixão foi transformado em um dos pilares do templo. Jacó também ergueu um menir ou um pilar para ligar o Céu à Terra (Gênesis 28:18), e esses diversos pilares poderíam ser outra versão da Torre de Babel.


Foi sugerido que os pilares gêmeos representavam o poder fálico e da yoni29 na natureza, simbolizados pelos casais divinos como Baal e Astarote, ísis e Osíris, Ishtar e Tamuz e talvez até Javé e Asherah. (Home, 1977:223) O escritor e historiador maçônico Albert Churchward, em seu livro Os Mistérios da Maçonaria30 (1915), diz que os pilares gêmeos podem ter sido cópias dos egípcios chamados de Pilares de Seth e Hóms. Eles simbolizavam os poderes da escuridão e as forças da luz e sua luta pela supremacia sobre o Egito (o Universo).

Os pilares exerceram uma parte importante na tradição salomónica. O Rei requisitou ser ungido como o governante de Israel enquanto era coroado entre eles. Foi também aqui que Javé concedeu a ele o dom da sabedoria, onde ele saudou o rei Hirão de Tiro e onde ele entrevistou Hiram Abiff para a função de arquiteto chefe e mestre construtor. O que acabou de ser citado sugere que os pilares estavam em suas posições originais antes de as fundações do templo ser construídas. Foi também entre os pilares que o rei casou com sua princesa egípcia, a Rainha de Sabá, e a receberam em audiência. (Home, 1977: 231, citando documentos maçônicos do século XVIII)

Na tradição maçônica, os pilares gêmeos salomónicos são evidentemente associados aos famosos Pilares Antediluvianos, que são conhecidos de diversas maneiras, como, por exemplo, os Pilares de Seth, os Pilares de Enoch, os Pilares de Noé, os Pilares de Jabal ou os Pilares de Tubalcaim, dependendo da versão na qual suas origens são relatadas. Eles não são obviamente os originais, mas cópias feitas por Hiram Abiff sob as ordens de seu empregador real. No entanto, ainda em outro ato de sanitização, os pilares salomónicos substituíram os Pilares Antediluvianos em algum momento no século XVI ou no começo do século XVII. (Home, 1977:238) Hoje esses dois pilares devem ser encontrados em toda Loja Maçônica. Dentro de algumas ordens mágicas, como a Ordem Hermética da Aurora Dourada, fundada por maçons de altos graus e neo-rosa- cruzes, alguns mágicos cerimoniais modernos adotaram os pilares gêmeos como acessórios de templo convenientes.

Um exemplo medieval de como crenças maçônicas, pagas e heréticas se misturaram na construção religiosa crista, tendo como modelo o templo de Salomão, pode ser encontrado na capela Rosslyn, perto de Edimburgo, na Escocia. A capela foi projetada e construída no século XV por sir William de St. Clair (Sinclair na ortografía moderna do nome da familia). Ele tinha sangue viking e possuía os títulos de Conde de Órcades, Cavaleiro da Ordem do Tosão de Ouro e Cavaleiro da Ordem de Santiago de Compostela. A familia St. Clair era associada aos Templários e, desde tempos antigos, foram protetores da Maçonaria e defensores dos costumes (pagãos) populares ainda existentes. No século XVIII, foram também leais seguidores da causa Jacobita para restaurar a dinastia Stuart ao trono britânico no lugar dos usurpadores da casa real de Hanover.

A singular capela em Rosslyn incorpora em sua decoração interior símbolos dos mistérios dos maçons e rosa-cruzes, paganismo Nórdico e Celta, Gnosticismo e heresia cristã. Sir Andrew Sinclair mencionou que, além do simbolismo cristão, judaico, islâmico, rosa-cruz e maçônico na capela, “os construtores também gravaram suas crenças antigas nos espíritos da floresta da qual os nórdicos vieram”. (1993:107) Em relação a isso, por toda a capela há mais de cem exemplos de máscaras em formas de folha do símbolo de fertilidade, conhecido como o Homem Verde. Ele é considerado por alguns escritores uma imagem dos deuses mortais de vegetação do Oriente Médio.

A capela possui uma imagem de São Jorge, o santo patrono grego da alegre Inglaterra, que também é venerado por algumas seitas Sufis na forma do seu Santo Verde Khidr. Como Osíris, ele foi desmembrado e renascido e aparece aos seus devotos como uma pura luz branca. Dizem que, por onde quer que vá, ele deixa pegadas verdes. Coincidentemente compartilha seu dia festivo de 23 de abril com o santo patrono da Inglaterra. São Jorge sempre foi associado ao Homem Verde e Tamuz. Em Rosslyn, ele se encontra sobre uma tábua decorada com rosas. Como sabemos, essa é uma flor com certa significância Luciferiana. Ela é um emblema de Vênus e Ishtar e o símbolo da linhagem sagrada, ou a “Família da Rosa” que descende dos Vigias. 

É importante notar que, entre as outras imagens (nominalmente) cristas na capela, podemos encontrar a de São Miguel. Em urna forma menos ortodoxa, ele é, naturalmente, o Arcanjo Miguel, mas como um santo ele é o patrono dos Templários. Outra figura controversa encontrada na capela é São Longuinho. Ele foi o centurião romano que golpeou a parte lateral do corpo de Jesus enquanto ele estava pregado à cruz e acelerou a sua morte. A arma usada foi supostamente a mística Lança do Destino forjada por Tubalcaim.

Dizem que sir William construiu a capela de Rosslyn como “um memorial às crenças da herética Ordem dos Templários” (T. Wallace Murphy). Um dos ancestrais de William havia lutado ñas Cruzadas* e cavalgou ao lado de Hugh de Payens, um dos fundadores dos Templários. Além disso, De Payens casou com alguém da família St. Clair. Apenas recentemente um entalhe ligeiramente danificado em uma das paredes em Rosslyn foi identificado com um Cavaleiro Templário aparentemente iniciando um homem na Maçonaria. Ou isso ou os ritos de iniciação maçônica e templária são quase idênticos.

Sua Alteza Real Príncipe Michael de Albany,* 31 o presente chefe da casa real dos Stewart, disse que os Cavaleiros Templários franceses que fugiram para a Escócia para escapar da perseguição no começo do século XIV se associaram a família St. Clair. Dizem que, “sob a orientação dos St. Clair, os membros escondidos da Ordem dos Templários selecionaram candidatos adequados para as corporações de arte operativa [de construtores] para ensino nos diversos ramos do conhecimento sagrado. As disciplinas tratadas incluíam ciências, geometria, füosofia e os conteúdos dos manuscritos recuperados pelos Templários durante suas escavações em Jerusalém.” (Elopkins, Simmons e Wallace Murphy, 2000)

A capela de Rosslyn também tem sua própria versão sobre o mito de Hiram Abiff associado a um pilar entalhado. O chamado Pilar do Aprendiz perpetua a história de como, durante a construção da igreja, o mestre construtor viajou para o exterior deixando o pilar inacabado. Enquanto ele estava fora, seu aprendiz teve um sonho do pilar acabado. Quando acordou, começou a trabalhar e finalizou a construção do pilar. Quando o mestre construtor chegou, ele estava tão dominado pela inveja em razão da qualidade do trabalho do jovem, e tão furioso pelo fato de o aprendiz ter completado o pilar sem permissão enquanto ele estava fora, que matou o aprendiz a golpes de martelo. Um entalhe do mestre construtor com barba pode ser visto na capela. Suas feições são contorcidas, dizem que elas são assim porque ele foi enforcado pelo seu crime. Perto há uma cabeça de mulher, e ela é conhecida como “a mulher viúva”. Isso indica que seu filho assassinado é o “filho da viúva”. 

O próprio pilar possui de certa forma um simbolismo muito interessante entalhado nele. Ele é baseado no Yggdrasil ou Arvore do Mundo na mitologia nórdica. Aparentemente, o aprendiz assassinado veio das Órcades, onde crenças pagãs nórdicas se estenderam até a Idade Média. A base do pilar tem nada menos do que oito cobras com as caudas nas bocas, criando o ouroboros, um antigo símbolo de eternidade. Esse é o símbolo da “serpente alada” ou dragão que vive na base da Arvore do Mundo ou Árvore da Vida em muitas mitologias antigas ao redor do mundo. De forma alternativa, ela pode ser a Serpente do Mundo que circunda a Terra. Outros a viram como a misteriosa criatura chamada Shamir, que entalhou as pedras do templo de Salomão.

Sir Andrew Sinclair interessantemente associa o pilar à Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal no Jardim do Éden. Ele diz que “a serpente com a canda na boca não era apenas Lucifer, mas também parte da sabedoria sagrada dos Cátaros e dos Templários” (1993). Ele acrescenta que o Pilar do Aprendiz, e outro na capela de Nossa Senhora em Rosslyn, “simbolizavam o conhecimento hermético, a compreensão secreta do Cosmos, dada à humanidade pela serpente" (1995:83).

O mais notável entre todos os muitos entalhes na capela é descrito como o “anjo caído de Rosslyn”. A tradição popular teme que seja uma imagem de Lúcifer depois da queda. Ele retrata uma figura humanóide masculina pendurada de cabeça para baixo e frouxamente atada com uma corda - ou talvez ela deva simbolizar uma serpente enrolada em seu corpo. Ele lembra a famosa pintura do místico William Blake representando Deus ladeado pelos seus “dois filhos” - Jesus32 e Satã - pendurados de ponta-cabeça com serpentes enroladas em tomo deles. Andrew Collins identificou essa figura com Semyasa, o líder dos anjos caídos na mitologia persa, que é associado ao anjo caído hebraico e ao deus bode do deserto Azazel. De acordo com uma lenda, foi Azazel que revelou a Salomão “o mistério divino” que o tomou o homem mais sábio do mundo. 

E. W. Liddell alegou que as idéias e o simbolismo maçônico infiltraram o culto de bruxaria medieval, ou talvez vice-versa. Todavia, Liddell afirmou que bruxas e maçons divergiam sobre a interpretação dos mesmos símbolos. Por exemplo: “Maçons não associam os pilares gêmeos com polaridade sexual (...) Maçons e Cátaros concordavam que tinham opiniões diferentes acerca dos meios de alcançar seu objetivo em comum [a união com o Deus interior] (1994:54). Liddell alega que no século XVII “muitos intelectuais foram atraídos para a Arte [magia] porque eles acreditavam que ela continha elementos do druidismo. Rosa-cruzes, maçons e pseudo-ocultistas foram admitidos na Arte.” (1994:54)

Ele ainda alega que as “muitas semelhanças entre a Arte [das bruxas] e a Arte Maçônica podem ser amplamente esclarecidas pelo influxo dos ‘homens habilidosos ’ no movimento maçônico” (1994: 64). Liddell afirma que esses homens habilidosos se criaram dentro das Lojas. Alguns eram proprietários de terras locais e também mestres de magia. Eles se associavam livremente aos ocultistas rosa-cruzes e maçons.

Uma tradição de magia antiga preenchendo a lacuna entre as duas formas da “Arte” pode existir ainda. Andrew Chumbley escreveu sobre “um mito que foi transmitido, tanto oralmente quanto em forma escrita, e que recorda a descendência do sangue bruxo desde a preexistência até os dias de hoje por meio da transmissão do Fogo Criativo Primordial”. Chumbley diz que o mito hoje está “disfarçado na linguagem da gnose demonológica” e “no imaginário folclórico nativo - o ferreiro e a forja”. Isso se associa às magias e ao simbolismo Luciferiano do Oriente Médio. Tal tradição sobrenatural ainda é praticada de diferentes formas em grupos de magia e covens de magia em Essex, Cheshire, Staffordshire, País de Gales e Ilha de Man.

De acordo com Chumbley: “Em essência, o mito fala sobre os deuses antigos, seu estado preexistente de negatividade, a criação e a revelação do Fogo Antigo à raça dos Vigias, pelo casamento entre a raça humana e a dos antigos, a interpenetração da chama e da semente de Sarnael e Lilith, a criação de Caim, e seu papel como o Senhor dos Cavaleiros”. Essa lenda da descendência dos Vigias e a criação por eles do “sangue bruxo”, herdado ou em um nível físico ou espiritual transmitido para aqueles que estão no círculo hoje, é ainda uma fortíssima crença da fé antiga nas práticas e costumes da tradição de magia pré-modemista nos dias de hoje.

E.W. Liddell informa que: “As afinidades que existiam entre maçons e bruxas provém do seu devotamento comum a Lúcifer, o Portador da Luz. Lúcifer era considerado o ‘espírito que mora ’ no mecanismo humano. A queda dos anjos foi corretamente entendida como a representação da encarnação da divindade na carne mundana. A alegoria em relação aos Filhos de Deus e as ‘filhas dos homens ’ é ainda outra tentativa de explicar o mistério segundo o qual a divindade se associa com a carne” (1994:72-3). A encarnação da Luz em forma humana e a criação do “sangue bruxo” pelos Caídos constituem os ensinamentos centrais do que pode ser descrito, para distanciar da Wicca neo-pagã moderna, como a tradição da Arte Luciferiana. 


Luciferianismo - Os Filhos Da Viúva

No último capítulo e antes neste livro, fizemos várias referências à Maçonaria. Agora gostaríamos de examinar esse movimento mais detalhadamente como um canal histórico para a tradição Luciferiana e a doutrina dos Vigias. Reportagens de jornal recentes sobre a adequação ou não de juizes, policiais, políticos e médicos para serem maçons sugerem que essa “sociedade com segredos” é apenas uma rede de amigos íntimos para homens de classe média e meia-idade. No entanto, um exame minucioso da Maçonaria, com seus ricos e exóticos símbolos, sugere que no passado ela pode ter sido a zeladora e guardiã de conhecimento herético e sabedoria proibida. A Maçonaria antiga certamente tinha ligações próximas com as sociedades secretas de ocultismo que possuíam informações semelhantes e com os mistérios masculinos da magia.

Infelizmente, as origens históricas da Maçonaria estão ocultas em um miasma de mistério, especulação, exagero e evidente fantasia. AMaçonaria Especulativa baseou-se nas corporações de construtores operativos que eram responsáveis pela construção das catedrais góticas da Europa medieval. Os construtores se organizavam em corporações, companhias e Lojas usando sinais secretos e palavras de passe para reconhecer uns aos outros como companheiros artesãos. Originalmente a Loja era uma pequena cabana ou choupana com teto de palha erguida perto do canteiro de obras.

Ela era usada como abrigo durante clima severo, para guardar ferramentas, descanso e refeições. As vezes, também era usada para reuniões em que eram discutidos o progresso do trabalho, quaisquer problemas encontrados no trabalho, e o bem-estar geral dos construtores.

Gradualmente, com o passar do tempo, construtores “honorários” não ativos foram admitidos nas corporações e companhias. Eles eram como maçons especulativos, aceitos ou “livres”. Com o tempo, esses “maçons livres” formaram seus grupos ou Lojas independentes e interpretaram a arte da Maçonaria como um caminho espiritual para auto- aperfeiçoamento moral, obras de caridade e iluminação.

Discussões sobre o quanto dessa ênfase espiritual foi herdada dos construtores medievais e quanto dela foi produto do renascimento do ocultismo no século XVIII ainda assolam historiadores maçônicos e não maçônicos. Os maçons especulativos associavam as “ferramentas de trabalho” da arte dos maçons operativos a um significado relacionado com a história lendária da Maçonaria. Essas ferramentas incluíam machados, martelos, malhetes, malhos, compassos, esquadros, níveis, trolhas e fios de prumo. Elas também eram incorporadas nas insígnias e jóias usadas pelos maçons na forma de distintivos, anéis, faixas e pingentes. O avental de couro e as luvas do maçom operativo se tomaram o uniforme cerimonial dos maçons.

A moderna história da Maçonaria tem usualmente sua origem datada a partir da reunião de fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra na Tavema The Goose and Gridiron,22 no pátio traseiro da Catedral de St. Paul, na cidade de Londres, no dia de São João,23 em 1717. Na verdade, há evidência de ampla atividade maçônica no século anterior. Alguns historiadores modernos dizem que as origens da Maçonaria datam pelo menos do século XVI. O fundador do museu Ashmolean, em Oxford, Elias Ashmole, registrou em seu diário que foi iniciado em uma Loja Maçônica em Warrington, Cheshire, em 16 de outubro de 1646. Ashmole também era um rosa-cruz e astrólogo que se tomou membro da Sociedade Real, quando ela foi fundada logo após a restauração da monarquia em 1660.

Como vimos anteriormente, uma alegação antiga e muito controvertida nos círculos maçônicos é a de que os Templários, fugindo da perseguição na França, estabeleceram a Maçonaria antiga na Escocia durante o começo do século XIV. No equinócio da primavera de 1737, um ma- çom escocês e jacobita chamado de Chevalier Andrew Michael Ramsey, outrora tutor do Belo Príncipe Charlie, deu urna palestra na Loja Maçôni- ca de St. Thomas, em París. Ele surpreendeu sua audiência ao alegar que os Templários tinham incorporado em sua Ordem os mistérios antigos das deusas Ceres, Isis, Minerva-Atena e Diana-Artemis. Ele também alegou que os cruzados, ao retomar da Terra Santa, fundaram Lojas Maçônicas em seus países de origem. Isso inclui a famosa Loja Kilwinning, supostamente estabelecida na Escócia já em 1286. Foi registrado que, um ano após a palestra de Ramsey ligar a Maçonaria aos Templários, o papa Clemente XII emitiu uma bula papal condenando o envolvimento de católicos com a Maçonaria. AInquisição imediatamente iniciou uma campanha contra a Maçonaria nos países católicos. Eles fecharam Lojas e torturaram, prenderam e excomungaram qualquer pessoa que achavam estar envolvida.

Como mencionamos anteriormente, Elias Ashmole era um maçom e um rosa-cruz. A Maçonaria antiga era intimamente ligada à Ordem da Rosa-Cruz, ou Rosacrucianismo, outra sociedade secreta com uma história lendária e fantástica. Em um poema do século XVII, as duas sociedades são vinculadas: “Porque o que profetizamos não é grosseiro / pois somos irmãos da Rosa-Cruz / temos a Palavra do Maçom e a Videncia / o que nos espera podemos prever corretamente”. Na tradição popular, os rosa-cruzes eram considerados bruxos que tinham poderes psíquicos e mágicos. Esses poderes incluíam a habilidade de prolongar a juventude, evocar espíritos, tomar-se invisíveis, criar pedras preciosas e transmutar chumbo em ouro. O ensaísta do século XVII Thomas de Quincy foi muito além, ao alegar que “os primeiros maçons eram parte de uma sociedade que surgiu da mania do Rosacrucianismo”. Ele também disse que os “maçons da Inglaterra copiaram algumas cerimônias dos rosa-cruzes e disseram que eles as criaram, e o mesmo com eles”. (1972:252,255)

Os registros mais antigos mencionando a Irmandade da Rosa-Cruz estavam circulando na Europa no começo do século XVII. Eles foram compilados sob o grande título de A Restauração do Templo Decaído de Palas [Atena]. Em 1610, urna historia legendária, chamada de Fama Fratemitas, foi publicada por um escritor anônimo. Ela dizia que a Ordem havia sido fundada duzentos anos antes por um místico alemão descendente de uma família aristocrata. Ahistória não foi efetivamente publicada até 1614 e foi amplamente circulada como uma publicação livre para todos aqueles que conseguiam 1er.

De acordo com a historia, o místico alemão chamava-se Christian Rosenkreuz, embora esse não fosse seu nome verdadeiro. Quando ele era jovem, seus pais o colocaram em um mosteiro para aprender como ser um padre. O jovem se rebelou contra as limitações da vida monástica e, quando um monge mais velho pediu que o acompanhasse em uma viagem ao Oriente Médio, ele prontamente concordou. Infelizmente o homem mais velho morreu no caminho, mas Rosenkreuz conseguiu chegar a Damasco, na Síria moderna. Lá ele se tomou amigo de um grupo de adeptos cabalísticos e foi aceito como aluno deles. Com o tempo, como um homem maduro, ele retomou à Europa via Fez, no norte da África e Espanha moura. Naqueles lugares, ele estudou as artes ocultas sob a orientação de adeptos árabes. Ele aprendeu como evocar espíritos e os segredos da Alquimia.

Foi sugerido que, pelo fato de Rosenkreuz ter estudado com ocultistas muçulmanos, ele pode ter sido versado nos ensinamentos do Sufismo, a escola de mistérios secreta do Islã que supostamente antecedeu a ele. O mestre Sufi moderno Idries Shah comparou o Rosacmcianismo com uma sociedade secreta Sufi chamada de a Ordem Kadari, fundada por Abdelkadir Gilani em Bagdá (Iraque atual) no século XII. Gilani era conhecido pelos seus seguidores como “a Luz da Rosa”, e o símbolo da sociedade era uma rosa. No Sufismo, o Caminho da Rosa se referia a uma forma específica de misticismo Islâmico envolvendo Alquimia, exercícios de devoção e palavras de poder. (Darkual (Shah), 1961: 173-4) Como veremos em um capítulo posterior, a rosa é um símbolo importante na tradição Luciferiana. Ela é associada àqueles grupos e indivíduos ligados ao ocultismo que mantiveram sua chama queimando radiante ao longo de séculos de perseguição.

Quando Rosenkreuz voltou para a Alemanha, ele continuou seus estudos sobre o oculto por vários anos. Ao término desse período de estudo individual, ele decidiu informar o mundo sobre os ensinamentos que havia recebido aos pés de seus mestres do Oriente. Ele acreditava que a Europa do século XIV somente podería ser salva da degradação moral por meio de uma injeção de crenças espirituais. Quando seu conhecimento foi ignorado por muitos, Rosenkreuz decidiu formar uma sociedade secreta de pessoas iluminadas para trabalhar por trás das cenas, no intuito de promover mudanças. O objetivo da sociedade era influenciar as pessoas no poder para que elas colocassem em prática as mudanças sociais que a Ordem desejava. Alguns escritores alegaram que uma dessas mudanças radicais era a modernização da Igreja Romana, e isso resultou na Reforma. Uma visão contrária é que o surgimento do Protestantismo destruiu efetivamente o ensinamento da sabedoria antiga e o simbolismo, que tinham sobrevivido escondidos nos mistérios esotéricos Cristãos. Parece improvável que fosse esse o objetivo do Rosacmcianismo.

Rosenkreuz retomou ao mosteiro que ele conheceu quando era um menino e persuadiu os três dos monges séniores, chamados no mito rosa- cruz de “os Três Homens Sábios”, a deixar o lugar e se juntar a ele. Mais tarde, outros quatro monges foram recrutados com êxito para a causa. Rosenkreuz ensinou a esses sete dignos homens e, quando eles estavam qualificados, eles viajaram secretamente pelo mundo disseminando conhecimentos sobre o ocultismo. O mestre ficou na Alemanha para continuar seus estudos herméticos.

Os rosa-cruzes concordaram em cumprir seis regras de conduta, sendo que as duas primeiras muitos daqueles que são supostamente ocultistas nos dias de hoje deveríam copiar. Eles concordaram em curar os doentes sem cobrar nada, não vestir roupas especiais ou abertamente mostrar qualquer símbolo em público que pudesse revelar sua vocação secreta, que uma vez por ano eles se reuniríam na sede da Ordem para reportar seus progressos, que cada membro iria iniciar um candidato digno antes de desencarnar, que eles usariam as iniciais RC como uma marca identificadora e palavra de passe, e que eles prometeríam manter a existência da Ordem em segredo por pelo menos cem anos.

Quando eles morreram, os primeiros irmãos rosa-cruzes concordaram que os corpos deveríam ser enterrados secretamente e sem nenhuma cerimônia Quando Rosenkreuz deixou este mundo e foi enterrado, seus seguidores não sabiam onde seu túmulo estava localizado. Ele apenas foi descoberto por acidente 120 anos mais tarde. Seu túmulo era supostamente uma cripta de sete lados, iluminada por urna luz perpétua. Conforme se alega, o corpo do mestre rosa-cruz estava ainda em perfeito estado de preservação, apesar de todo o tempo que havia passado.

A conexão entre os rosa-cruzes e os maçons na crença popular foi exemplificada em uma publicação supostamente não real que saiu em um jornal satírico em 1676. Ela dizia: “Isso é para informar que o Moderno Grupo de Conspiradores Verde-Listrado, juntamente com a Antiga Irmandade dos rosa-cruzes, o Adepto Hermético e a Companhia de Maçons, pretendem jantar juntos em 31 de novembro no Flying Bull, situado na Rua Wind-mill Crown, tendo já encomendado um grande suprimento de tortas de Cisne Negro, ovos de Fênix fritos, coxas de unicórnios, etc”.

O dr. Francés Yates considera essa sátira como uma representação das “primeiras tradições de, por assim dizer, intercomunicação entre as sociedades secretas”. (1972:261)

Yates também cita o escritor do século XIX Thomas de Quincy, que publicou na London Magazine (1824) os resultados de uma pesquisa alemã sobre as origens da Maçonaria e dos rosa-cruzes. Usando informações de suas fontes alemãs, Quincy estava confiante de que, “quando o Rosacrucianismo foi transportado para a Inglaterra, ele virou Maçonaria”. Ele citou o alquimista e astrólogo do século XVII Robert Fludd como o suspeito principal nesse movimento. Posteriormente, Quincy acreditou que “as crenças epráticas maçônicas ligadas à mística interpretação da construção do templo em Jerusalém podem (...) já ser percebidas nos textos dos rosa-cruzes, mas quando o Rosacrucianismo foi transportado para a Inglaterra eles foram vinculados pela Maçonaria às tradições das corporações de construtores”. Ele conclui: “Os primeiros maçons formavam uma sociedade secreta que surgiu da mania do Rosacrucianismo, certamente entre os 13 anos de 1633 até 1643, e provavelmente entre 1633 e 1640” (Yates, 1972:252)

Em seu livro A Tradição Secreta na Maçonaria, Arthur Edward Waite apresentou a teoria de que cabalistas se infiltraram nas Lojas livres do século XVII. Junto a isso, Christopher Mclntosh faz menção a urna fraternidade oculta na Europa central no século XVIII que misturava Ma- çonaria, Rosacrucianismo e a Cabala com uma crença em reencamação e Alquimia. Em 1765, uma Loja Maçônica juntou forças com um capítulo rosa-cruz em Marburg para realizar a prática da Alquimia. Tais grupos híbridos podem ter influenciado o renascimento do ocultismo nos séculos XVIII e XIX. De acordo com Mclntosh, tais Lojas Maçônicas-rosa- cruzes funcionaram sob o nome genérico de Ordem Dourada e Rosa- Cruz. Essa Ordem tinha ligações com a Maçonaria Escocesa e com o surgimento do Templarismo no final do século XVIII.

Em um documento de 1788, seus objetivos declarados eram “fazer com que as forças escondidas da natureza entrassem em operação, para liberar a luz da natureza, foi profundamente enterrada embaixo das impurezas resultantes da maldição (a Queda), portanto iluminar o interior de cada Irmão, uma tocha, por cuja luz poderemos reconhecer o deus escondido, e com isso ficaremos mais próximos da fonte original de luz”. (Mclntosh, 1980:94) Mclntosh menciona o conteúdo gnóstico nesses objetivos. Em contrapartida, também podemos mencionar o quanto esse conteúdo acuradamente se adequa à doutrina Luciferiana de despertar espiritual da humanidade do materialismo bmto para a liberação da “luz interna” ou do “deus intemo” dentro de nós.

A antiga história lendária da Maçonaria, adotada pela Grande Loja em 1723, e parte dos manuscritos do século XV, conhecidos como os Antigos Deveres,25 rastreavam as habilidades de construção e geometria, desde a figura de Lameque do Velho Testamento até o Rei Salomão. Ela possuía uma versão da construção dos Pilares do Sábio e do porquê de eles serem associados à Tubalcaim. Lameque tinha três filhos e uma filha: o primeiro filho era chamado Jabal, descobriu a Geometria e era um pastor e construtor de casas; Jubal foi o segundo filho e era um músico que fazia instrumentos musicais; o terceiro filho era o nosso velho amigo Tubalcaim que, como nós sabemos, era um ferreiro e um “artífice em cobre”. A filha, Naamá, inventou a fiação e a tecelagem. Os quatro filhos de Lameque escreveram tudo o que eles sabiam sobre artes, ofícios e ciências em dois pilares de pedra ou ferro para que esse conhecimento fosse preservado para as gerações futuras. Esses pilares pareciam ser idênticos àqueles criados pelo filho de Adão, Seth, e mais tarde, de acordo com outra versão do mito, com àqueles criados por Noé e seu filho. Na doutrina maçônica, eles são os pilares gêmeos na entrada do templo de Salomão e da Loja Maçônica Tubalcaim, como já vimos, foi uma versão do deus da magia que está presente em documentos maçônicos porque era um “artífice de cobre e ferro”. O historiador hebreu Flávio Josefo alega que Tubalcaim na verdade inventou o latão - uma mistura de bronze e cobre - para usar como ferramentas cortantes e armas. O escritor maçônico Bemard Jones sugeriu que Tubal foi um armeiro e o associa com o deus romano dos ferreiros Vulcano. Ele diz: “Foi sugerido que Tubalcaim era associado à divindade primitiva do fogo conhecida do povo altaico, que estavam aparentemente entre os primeiros trabalhadores de metal no mundo’’'’ (1950:298). Além disso, Jones relaciona Tubal a uma tribo de nômades perto do Mar Cáspio chamada de queneus, que alegavam descendência de Caim e eram ferreiros por herança e criadores de cavalos.

A lendária história da Maçonaria rastreia a invenção da Geometria até Adão. Ele ensinou a ciência a Caim, seu filho de pouca inteligência, para que ele pudesse construir as primeiras cidades. Alguns desses antigos relatos da história maçônica também fazem referência aos supostos Noachitas ou “Maçonaria Antediluviana”. Aliás, os primeiros maçons eram chamados de “filhos de Noé”. Um dos filhos de Noé, Cão, foi o pai de Ninrode, supostamente o primeiro Grão-Mestre dos maçons e um famoso construtor de cidades. Uffa, na Mesopotâmia (agora na Turquia), é considerada na lenda local uma das cidades construídas por Ninrode. Em tempos antigos, ela era conhecida como “o trono de Ninrode”. Ele também construiu Acade, Nínive e Babel (Babilônia) (Gênesis capítulos 6 e 10).

No mito bíblico da queda da Torre de Babel de Ninrode nós podemos ver uma referência à língua universal de “Enoch”, que era falada no mundo inteiro. Infelizmente Javé ficou ofendido com os humanos por construírem uma torre para alcançar o Céu. Ba-Bel ou Babel quase literalmente significa “portão de deus” e sugere um passagem entre este mundo e o reino divino. Javé destruiu a cidade, confundindo as pessoas para que elas não pudessem entender umas às outras (daí a palavra em inglês babble, que significa “balbuciar” ou “falar de forma ininteligível”), e as espalhou pela Terra (Gênesis 11).

É tentador identificar nesse mito o fato de que os primeiros humanos estavam se desenvolvendo muito rapidamente e, na realidade, até pensando por eles mesmos, por isso suas tendências Luciferianas tiveram de ser contidas por uma intervenção extrema. A Torre de Babel representa a busca espiritual por autoconhecimento e auto-iluminação visados pelos “exilados”, que estão lutando para se unirem novamente ao Ente Supremo. A Torre pode muito bem ter existido como um edifício real no mundo material em algum período da história. Alternativamente, ela pode representar um estágio em nossa evolução planetária, quando os primeiros humanos estavam se esforçando para se conectar novamente com o Divino.

Maçons modernos tendem a repudiar as histórias sobre Babel e a antiga história de sua arte por razões que são provavelmente óbvias. No entanto, Jones admitiu que é possível que haja uma tradição relativa a Noé de uma ordem de necromancia mais velha que a história de Hiram. Essa antiga tradição substituiu Ninrode e o mito da Torre de Babel pela narrativa de Hiram Abiff e o templo de Salomão no ritual maçônico. No entanto, no Grande Oriente Maçônico na França, que sempre foi tratado com desconfiança pelos maçons ingleses, o Rito de Adoção usa um anagrama de ‘Babel’ como uma palavra de passe.

O significado secreto do mito de Babel era conhecido em um estágio antigo em épocas históricas. O bispo anglo-saxão de Londres Wulfstan, escrevendo em sua homilía De Falsis Deis ou Sobre os Falsos Deuses, remontou o ressurgimento das crenças pagãs entre os hebreus em relação a Ninrode e à Torre de Babel. Ele disse: “por meio do ensinamento do Diabo, eles pegaram o conhecimento para adorar o sol e a Lua como se fossem deuses...'” Ele também mencionou a antiga crença pagã de que as estrelas eram adoradas como deuses, juntamente com água e “vários gigantes e homens terrenos ferozes”. (Nephilim) Essa declaração pode ter influenciado as dilatações clericais anglo-saxônicas da prática de magia e a sobrevivência dos costumes pagãos de adoração ao Sol, à Lua, às estrelas, menires, árvores e poços.

A Torre de Babel aparece tanto na doutrina maçônica quanto na bruxaria tradicional. A bruxa herdeira de Pickingill E.W. Liddell afirmou que: “Ninrode é um termo genérico [na Arte] para a luta do ‘deus que habitava no interior ’ que ambicionava o Céu. Lúcifer, como a entidade instrutora na humanidade, pode ser igualado a Ninrode — a tentativa da personalidade humana em retornar à nossa glória prístina primordial. (1994:74) Essa declaração transforma as alegações feitas por algumas pretensas bruxas de que o Luciferanismo é apenas outro nome para o Satanismo e que ele não é em nada relacionado com a Arte em algo sem sentido.


Luciferianismo - Os Pilares Dos Sábios


Apesar de sua onipresença na simbologia da tradição mística ocidental, é extremamente curioso que o glifo do Olho que Tudo Vê (de Deus) até agora não tenha recebido nada além de uma interpretação simples.

Podemos presumir uma evasão duradoura da condição única do símbolo com um signo de mistérios pré-humanos dos Anciões. Além disso, com uma visão de total penetração e percepção transcendental, durante a “execução” das quais os véus da ignorância obscurecedora e da desilusão, que ocultam a essência da Realidade Suprema, são rompidos e totalmente destruídos. Esse é o verdadeiro ekpyrosis pelo Fogo do Conhecimento. Em resumo, o Olho que Tudo Vê é o hieróglifo original dos Vigias. Ele simboliza o nível mais alto da corrente arcana Luciferiana e, nesse contexto iniciático, ele age como um ponto de convergência para as diferentes correntes próximas da doutrina críptica. Isso é especialmente verdade porque ele simboliza o Grande Vigia ou Azazel-Lasifarus. O Olho sempre mostra a corrente de sabedoria provinda dos Vigias. Essa é a primeira revelação concedida à primeira humanidade pelos filhos de Deus ou os Caídos muitos éons atrás. Essas revelações foram expressas pelos privilegiados das espécies, mencionados pelos sacerdotes dos Yazidis como “a nação peculiar de Azazil” (Masaf-Ras. VI4).

Tipologias arcaicas do Oriente Médio atestam esse segredo; a palavra hebraico-caldéia para Vigilante é IR (OIR) e no plural é IRIN. Aqui existe uma conexão evidente com o substantivo IR-T, significando “um olho”. Em cóptico é YR. O Olho aparece entre os hieróglifos determinativos (não-fonéticos) como um símbolo que significa “vigiar, ver”. Adicionalmente, o glifo IR é representado por um olho. Plutarco, em De Iside et Os ir ide,18 menciona a forma IRI significando “olho”. Uma ligação evidente, portanto, é demonstrada entre o culto aos Vigias e o Olho Divino da corrente de Hórus no Egito antigo (pré-dinástico). Ele se liga especialmente à adoração de Hor-Khenti-Ir-ti ou “Hor19 que governa com seus olhos”. Desse primeiro símbolo de olho, deriva o formato “O” da letra fenicia, representando a pupila do olho e o símbolo dos primeiros Cainitas do Enu e da Arábia do Sul, de onde veio a letra hebraica Ayin - o olho. Correspondentemente, a letra Ayin é a primeira letra símbolo nos nomes de Azrael ou Azazel (OzaZAL) e no dos Vigias ou Irin (ORIN).

A raiz semítica OZ, que significa “um bode, vigor”, é formada por Ayin e Zayin, esotéricamente significando o Olho que Tudo Vê e a Espada Flamejante (empunhada pelo Querubim que expulsou Adão e Eva do Éden). Azazel foi o primeiro artista artesão do fogo e Senhor dos Metais, de acordo com a mitologia Luciferiana. A antiga tradição Yazidi / Gnóstica de que Azazel era uma serpente de sabedoria no Éden evoca o antigo pacto realizado embaixo dos ramos da Árvore da Sabedoria pelo primeiro homem e a primeira mulher - “seus olhos serão abertos e vocês deverão ser como Deuses”.

Uma nuance parecida de significado ocular é certamente evidenciada pela plumagem com olhos do pavão sagrado para Azazel-Lúcifer e Melek Taus e também pelos “Seres Viventes Sagrados” da visão famosa de Ezequiel. Eles eram esfinges aladas “cheias de olhos ao redor” (Eze- quiel 1:18). Além disso, o deus Mitraico do “Tempo infinito” com cabeça de leão Aion (Deo Arimanió) é descrito às vezes com um olho aberto em seu peito.

Entre os fiéis das antigas “Lojas de homens habilidosos”20 na velha Inglaterra, o Olho que Tudo Vê era o símbolo verdadeiro dos Vigias. Ele caracterizava o grau magistral ou “terceiro voto” dentro da Arte habilidosa, mas é para a emblemática linguagem da Maçonaria que devemos nos voltar para uma melhor compreensão dos mistérios associados ao símbolo. Todas as jóias usadas pelos grandes oficiais das Lojas de Rito Escocês possuem esse símbolo. Por exemplo, aquela usada pelo Grão-Mestre é descrita como: “Compassos abertos em 45° no segmento de uma circunferência nas pontas e uma placa de ouro compreendida na qual está um Olho radiante dentro de um Triângulo radiante”. Geralmente na Maçonaria o Olho que Tudo Vê é o símbolo do Mestre Maçom ou do Grão- Mestre de uma Loja. Ele serve para lembrar o maçom que o olho de Deus está sempre aberto e zelando tanto pela Loja quanto pela raça humana. Como Plínio disse: “Deus é todo olhos". É o símbolo principal do Grande Arquiteto do Universo que, no devido tempo, pesa toda alma na balança e julga a verdade de cada ação, pensamento e palavra humana enquanto estiveram encamados no plano terrestre. Na mitologia egípcia, essa era a função do deus Thoth, que era vigiado pelo Olho de Hóms.

Essa gnose encontrou um veículo de expressão particularmente dinâmico na Ordem dos Illuminati fundada na Bavária, perto do fim do século XVIII, por Adam Weishaupt e o barão von Knigge. O Grande selo dessa sociedade secreta política era o Olho no Triângulo. Ele representava a pedra Ben-Ben ou a pequena pirâmide do antigo Egito associada ao pássaro Bennu ou Fênix, que botou o ovo cósmico da criação. Foi alegado que, por causa da ação dos Illuminati e sua intervenção na Revolução Americana, o Olho que Tudo Vê e a pirâmide aparecem na nota de dólar. O projeto radical dos Illuminati visava a nada menos do que o estabelecimento do reino do Portador de Luz por meio da compreensão da divindade inata do homem, que Weishaupt acreditava ser o Mundo Perdido. O processo de iluminação era progressivamente alcançado dentro de um programa de nove graus, o mais alto deles era o do Homem- Rei no grau de Principatus Illuminatus, ou “Príncipe Iluminado”, em que a essência soberana da mais alta consciência era manifestada.

Atualmente, os Illuminati estão submersos em teorias de conspiração relacionadas a um suposto plano judaico para dominar o mundo, governos às sombras e fantasias relacionadas ao Satanismo. Foram escritas mais besteiras sensacionalistas e fantásticas sobre a Ordem que sobre qualquer outra organização secreta na história humana. Na verdade, os fatos são provavelmente mais estranhos que a ficção. Weishaupt era um jovem professor na Universidade da Bavária de descendência Judaica, um fato convenientemente ignorado pelos seus caluniadores modernos. Em 1774, ele foi iniciado na Maçonaria, mas logo ficou desiludido, quando percebeu que seus colegas na Loja desconheciam a significância oculta na Ordem e nada sabiam sobre o simbolismo pagão pertencente às antigas escolas de mistérios.

Weishaupt resolveu criar sua própria sociedade secreta e a baseou em sua própria visão política revolucionária de um estado utópico, um paraíso na Terra, em que as pessoas viveríam em harmonia. Esse estado seria dentro de uma irmandade universal baseada no amor livre, na paz, na sabedoria espiritual, na igualdade social e na liberdade de expressão religiosa. Weishaupt acreditava na tentativa de restaurar os seres humanos ao estado edênico de perfeição que existia antes da Queda do homem. Diferentemente de várias outras sociedades secretas, os Illuminati acreditavam em igualdade sexual e aceitavam homens e mulheres como membros em termos iguais. Essas crenças levaram Weishaupt a ser rotulado como um socialista pioneiro ou primeiro comunista. Na realidade, suas visões políticas tinham mais a ver com o anarquismo que com os excessos totalitários dos seguidores de Lênin e Marx no século XX, com sua sociedade escrava e seus campos de extermínio. Pelo fato de que naquela época os inimigos da paz, da liberdade religiosa e do amor livre eram a Igreja e, freqüentemente, as casas reais da Europa, Weishaupt promoveu postura de anticlericalismo e anti-realeza. Foram suas visões anarquistas e anti-autoritaristas que no fim levaram ao banimento da Ordem, considerada uma organização revolucionária e subversiva. Supostamente, os Illuminati tomaram-se clandestinos, mas seus agentes secretos tiveram um papel importante tanto na Revolução Francesa quanto na Americana. Muitos malucos por conspiração ainda alegam que a Ordem exerce um papel escondido por trás da face pública da política internacional.

Vários outros indícios abundantes da tradição Luciferiana serão encontrados na Cerimônia de Exaltação, existente na Ordem Maçônica do Santo Arco Real de Jerusalém. Essa ordem é derivada da revisão do Cavaleiro Arco Real do Rito de Heredom, do século XVIII, também conhecido como o “Conselho dos Imperadores do Oriente e do Ocidente, Príncipes Maçons Soberanos”, que foi estabelecido em Paris em 1758. Na parte cerimonial da Maçonaria do Arco Real,* o iniciado desce pelos e nove “Arcos”, ou passagens abobadadas, do templo subterrâneo como divinamente revelado a Enoch. Tais passagens foram construídas pelo patriarca e seu filho mais velho Matusalém, na caverna da Montanha de Canaã. As passagens eram cobertas com símbolos mágicos e nomes divinos, e no nicho da “nona passagem” Enoch escondeu um “delta” dourado, ou triângulo, e uma “pedra de pórfiro branca”, que representa a semente- luz e o fogo cósmico trazido para a Terra por Lúcifer, como a pirâmide Ben-Ben. Sobre essa pedra, estava escrita a Palavra Secreta do Grande Mistério que simbolizava a sabedoria antediluviana dos Vigias.

Os três “principais” ou oficiais do Real Arco trabalhando representavam Zorobabel, Ageu e Josué, o príncipe, o profeta e o sacerdote, respectivamente. Suas jóias maçônicas eram “uma Coroa, um Olho e um Livro aberto, cada um cercado por um halo e colocados em um triângulo”. Púrpura é a cor simbólica do trabalho do Arco Real, que representa o sangue real. No antigo códice francês do Arco Real de Enoch também há menção de dois pilares imensos levantados pelo patriarca antes do Dilúvio e escritos com a tradição enigmática das “sete ciências”. Dizem que Enoch teve uma premonição do dilúvio e queria que o conhecimento nos pilares fosse preservado para o benefício de quaisquer sobreviventes.

Na obra Manuscritos de Cooke da Maçonaria, do começo do século XV, a construção desses pilares foi atribuída ao primeiro ferreiro Tubalcaim. Por essa razão, na tradição Luciferiana, eles são chamados às vezes de Pilares de Tubalcaim. Eles estão gravados com a sabedoria mágica das supostas “dinastias divinas”, os reis gigantes que eram instruidos pelos Iluminados das estrelas, os próprios deuses. Por essa razão, existe o significado secreto da disposição da Loja com seus dois pilares sagrados encimados com globos do Sol e da Lúa. Sobre a Loja, brilham a Estrela Flamígera e o Olho que Tudo Vê, o Iret ou símbolo dos Vigias dentro de urna auréola de raios de luzes e estrelas. Muito tempo antes da cultivação cavalheiresca e dos conceitos barrocos do século XVIII, a sabedoria mágica primária dos Pilares e do Olho, que supostamente vieram do antigo Egito após o Dilúvio, tinha sido sancionada na Inglaterra Saxônicapelo rei Althelstan. Dizem que ele foi o “predileto da Maçonaria”, como o Manuscrito Halliwell ou Poema Regius registra. A fusão do mito dos Vigias com as já preexistentes subeulturas pré-cristãs e de corporações de ofícios, algumas associadas a cultos de bruxaria indígenas, era evidentemente realizada em um período primordial na Inglaterra anglo-saxônica. Aproximadamente trezentos anos mais tarde, a herética Ordem dos Cavaleiros Templários transmitiu uma nova corrente intimamente ligada ao esoterismo dos Yazidis e persas na Europa, alimentando a tradição secreta da bruxaria e enriquecendo seu conteúdo hermético consideravelmente.

O Olho que Tudo Vê, situado no centro da testa do corpo sutil, análogo ao terceiro olho ou glândula pineal, é o centro da gnose do psiquismo e da iluminação. Ele se relaciona com a cimeira de esmeralda, a Arkhmardi ou “pedra na coroa” do Portador da Luz. Em termos cosmológicos, é a Sakhrat, a pedra verde ou “Lapis Smaragdus” que está no cume da montanha cósmica freqüentada pelos djinns, chamada de Qaf. Isso constitui o “eixo do mundo” axial da Estrela Polar do norte, o ponto de acesso para a Terra paradisíaca das Cidades de Esmeraldas “além do arco-íris”, o mundo de Hurqalya. Uma vez que a jóia da coroa caiu na Terra, ela foi guardada no castelo escondido no topo da Wildenberg, ou “montanha selvagem”, de acordo com o que Wolfram von Eschenbach explícitamente nos conta, por uma irmandade eleita de Templários do Graal.

Depois da destruição dos Cavaleiros Templários e do martírio do seu último Grão-Mestre, Jacques DeMolay, em 1314, o Prior do Templo e Marechal da Ordem Pierre d’Aumont reputadamente escapou com sete irmãos cavaleiros para a Escócia. Foi lá, dizem, que eles restabeleceram e preservaram os mais secretos mistérios da Ordem dentro de santuários maçônicos. Um dos primeiros membros da Ordem, Hugh de Payens, de fato se casou com uma integrante da família Saint Claire na Escócia, e um dos primeiros priorados templários foi estabelecido lá. Em continuidade a essa suposta sucessão templária ininterrupta, o barão Johann von Hund estabeleceu o Rito Maçônico Templário da Estrita Observância em 1754.

O barão von Hund tinha sido iniciado em uma Loja Maçônica convencional em Paris dirigida pelo lorde Kilmamock, o então Grão-Mestre da Maçonaria Escocesa, cujas Lojas alegavam ser as guardiãs da tradição templária. Em sua cerimônia de iniciação, von Hund alega que foi apresentado a uma personalidade misteriosa que era chamado de Cavaleiro da Pena Vermelha. Dizem que essa figura era conhecida como Príncipe Charles Stuart ou “Belo Príncipe Charlie”. Desde então, supostamente existiram ligações históricas entre a causa Jacobita, a Maçonaria e a Maçonaria Templária.

Jacques DeMolay tinha orquestrado cuidadosamente a sobrevivência dos Templários antes de sua morte na fogueira. Na noite anterior à sua execução, ele enviou um confidente a uma cripta secreta embaixo de um priorado templário em Paris, em que os corpos dos Grão-Mestres da Ordem anteriores estavam enterrados. DeMolay contou a seu ajudante que os dois pilares na entrada da tumba, que foram modelados a partir dos Pilares de Tubalcaim, e os dois pilares gêmeos na entrada do templo de Salomão eram ocos. Eles supostamente continham moedas de ouro e documentos secretos relacionados à história e às crenças secretas dos Templários. Esse “tesouro” foi aparentemente usado para financiar a sobrevivência futura da Ordem na Escócia.

Resta pouca dúvida de que o iluminismo primordial dos Vigias, cuja assinatura críptica é o Olho que Tudo Vê, fornece a base esotérica da Maçonaria Templária. O deus secreto dos Templários, o Baphomet (da palavra grega “Baphometis” ou “batismo de sabedoria”), resume toda a escala das formas evolucionárias. Essas formas variam dos atavismos de formas serpentiformes e de répteis e bestas comíferas até a humanidade e os anjos alados. A encarnação gnóstica de iluminação espiritual e conhecimento sobre-humano também é representada pelo símbolo do crânio com dois fémures cruzados, encontrado em capelas de Templários e em suas lápides. Com um fundo negro, esse símbolo também constituía a bandeira de batalha dos navios templários, que foi adotada mais tarde pelos piratas. Essa imagem de crânio e ossos é urna das várias ligações íntimas entre a Ordem e as antigas tradições de bruxaria. Nos altares dos modernos convéns tradicionais de magia, um crânio humano ainda representa o Deus.

O iniciado da gnose Luciferiana busca, por meio da iluminação mágica, aceitar ou compreender o Corpo Esmeraldino inextinguível dentro do qual ele ou ela poderá “abrir o Olho que Tudo Vê”. Uma vez aberto, ele dissolve o aparente mundo ilusório para revelar a Xvarenah, a luz do Primeiro Existente, o Reino Divino por trás da aparência visível do plano material de existência. Em um último contexto, o Olho que Tudo Vê deve representar a mente transcendente como a testemunha onisciente de todos os fenómenos. O silencioso Vigia imutável por trás de tudo isso é idêntico ao continuum imaculado de sabedoria.

A compreensão disso destrói os grilhões da ignorância na redenção da libertação mística. E a abertura do Olho Místico a que as profecias ousadas dos adoradores de anjos, os Yazidis, se referem. Como apontamos anteriormente, eles dizem que depois da Queda dos Vigias deverá haver uma Restauração. Em seguida, Azazel reconquistará seu estado divino e habitará mais uma vez no Paraíso. Essa é a promessa murmurada por esses antigos mistérios guardados como relíquias na tradição oculta do antigo Egito, Pérsia e Arábia, como são praticados nas criptas das preceptorias dos Templários, nas antigas abóbadas dos maçons, nas Lojas sombrias dos homens habilidosos e nos encontros sob o luar do domínio das bruxas.

Mais tradição Luciferiana é vinculada ao Mistério da Espada Oriental (provavelmente a cimitarra), que é a arma mística e mágica do quadrante ou estação oriental do fogo elemental no círculo da magia técnica. Ela é mencionada brevemente em uma referência no Velho Testamento, quando o Altíssimo “pôs querubins ao oriente do Jardim do Éden, e uma espada flamejante que se revolvia por todos os lados, para guardar o caminho da Arvore da Vida”. (Gênesis 3:24) Essa espada flamejante e giratória simboliza a purificação e a limpeza iniciática pelo fogo experimentadas por aquele que percorre o caminho tortuoso dos mistérios do Paraíso antes da realização de que o Novo Edén pode ser alcançado. O reflexo no mundo angelical é a espada flamejante de São Miguel, o capitão dos Bandos Divinos e o atual senhor da esfera solar. A significação secreta da espada Zayin é caracterizada por Azazel como o Senhor dos Metais e o Senhor da Foija. A pirotecnia e a arte da fundição são profundamente associadas à gnose dos Vigias, tanto espiritualmente quanto fisicamente. Como o epítome da criativa arte alquímica, elas estão entre as principais habilidades ensinadas aos primeiros humanos pelos Caídos. Longe de ser urna mera referência aos primeiros avanços utilitários na tecnologia primitiva, ela é uma metáfora clara que faz referência ao controle do “fogo interior”, a força sexual e a transmutação mágica de energia por meio do dinamismo criativo.

Ferreiros e feiticeiros sempre compartilharam de uma famosa identidade conjunta nas artes mágicas de muitas culturas. Várias culturas indo- europeias têm um ferreiro divino em seus mitos antigos que ensinou os segredos do uso do fogo para os humanos e que forjou as armas dos deuses. Exemplos disso são: Vulcano, Wayland, Hefesto, etc. No mito de Vulcano, seu pai Zeus ou Júpiter o jogou para fora do Céu e ele caiu na Terra. Na queda, ele machucou a pema e ficou coxo. Uma das denominações do deus de magia tradicional é o Deus Coxo. Vulcano também é casado com a deusa Vênus, a estrela da noite e uma consorte Luciferiana. No Xamanismo mongol e siberiano, invocações eram feitas ao misterioso “ferreiro branco”, que eles acreditavam ser o responsável pela criação dos tambores e outras ferramentas mágicas usadas para chamar espíritos. Em alguns ramos da Arte Tradicional, os instrumentos do ferreiro, como sua foija, tenaz, avental de couro, pregos e ferraduras, têm sido incorporados como símbolos ou ferramentas mágicas da gnose de magia.

A forma da letra hebraica Zayin, a lâmina da espada, é o fogo supra- cósmico que, como um raio ou relâmpago brilhante, “atravessa” o véu da necedade material. Ela sem exceção simboliza a sabedoria iluminativa por todo o mundo, da Celta-Arthuriana Calad-Vwlch (espada relâmpago) ou Excalibur e a Espada de Xangô até a adaga indo-tibetana phurba, usada nos ritos exorcistas da religião Bon. Na tradição secreta da Arte Tradicional da Inglaterra, dizem que a primeira athame (“arthany”, da palavra grega athanatos ou “imortal”), a lâmina ritual usada por bruxas para evocar e controlar espíritos, foi fotjada por Tubalcaim, o mestre de magia ancestral. QYN significa artífice de metais, pirotécnico ou “ponta de lança de ferro” na língua hebraica.

A espada Zayin pode ser alinhada através dos primeiros canais ca- naanitas com o hieróglifo egípcio de Neter, que significa “um deus” (Neteru para o plural) e representa a lámina de um machado. Essa arma parece ter sido preservada ñas formas hebraicas e árabes/sabéia da letra “Z”. Pode ser um glifo do “fogo caído do Céu”, o Bia-en-Pet, ou “metal celestial”. Como já vimos, o deus pré-dinástico Seth ocupava o papel do Senhor dos Metais nos mistérios quânticos, e a faca mágica de Seth era um dos seus atributos importantes. Além disso, de acordo com alguns textos antigos em papiro, o esqueleto de Seth era feito de ferro meteórico. Da mesma forma, dizem que os antigos “ancestrais estrelares” e os deificados “Ancestrais Veneráveis” de Hóms e Seth ou Ancestrais Antigos possuíam ossos com ferro nascido nas estrelas ou lançado das estrelas.

Isso faz lembrar os esqueletos de ferro usados em vestes cerimoniais dos praticantes do Mantícismo do povo Yakut. Essas vestes simbolizavam a iniciação de morte e renascimento do xamã, durante a qual sua “capa de pele” é retirada de seus ossos e seu esqueleto é desmontado. Ele é remontado usando ferro para ligar os ossos. Isso pode ser relacionado com as antigas crenças Xamânicas em relação ao Homem-Ferro-Pilar, ou axis mundi, que conduz ao domínio dos deuses estrelares em relação à escada feita de lâminas de espadas que ascende ao Céu. (Eliade, 1964:36, 263, 426) Na mitologia Celta, a entrada na Terra que conduz à terra dos mortos é às vezes descrita como “a ponte de espadas”. Esse tema dos “ossos de ferro do feiticeiro” é evidentemente de grande antiguidade transcultural.

Geralmente o simbolismo místico e oculto dos metais revela uma verdadeira teofania metalúrgica e alquímica presente na magia egípcia, com relatos de qualidades esotéricas específicas de cada metal. Anti, o deus falcão do 12° e do 18° nomo, possuía ossos de prata que eram expostos quando ele era esfolado como castigo.

Um relato antigo nos conta que “Quanto aos seus ossos, eles existem pelo sêmen do seu paf \ Hedj ou prata, nesse contexto, é o osso- semente lunar seminal dos Neteru e é sagrado ao deus da Lua de Tebas Khonsu. Neb ou ouro é “carne divina”. Rá, por exemplo, é descrito como tendo ossos de prata, carne de ouro e cabelos de turquesa. Ferro, no entanto, é a semente estrelar das Sete Estrelas (Ursa Maior) governadas pela mãe de Seth, Nut. Prata é a semente branca da Lua, e ouro é a semente vermelha do sol, frequentemente igualada ao fluxo menstruai feminino.

Outras ligações metalúrgicas com Azazel e sua hipóstase Tubalcaim são encontradas na tradição quântica. Eles preservaram nas inscrições do templo de Edfu, as quais relatam os mitos de Hórus-Behutet ou Hórus, “que habita no disco”. Ele era adorado nessa forma em seu centro sagrado de Edfu como o “Senhor da Cidade da Foija”, possivelmente um título copiado da sua nêmese sombria Seth.

Lewis Spence escreveu que: “Em Edfu, o grande disco de ouro (...) foi forjado, como vemos a partir de certa inscrição, e no templo daquela cidade havia uma câmara atrás do santuário chamada Mesnet, ou Fundição, em que a casta ferreira de sacerdotes acompanhava um deus". Os seguidores divinos de Hórus-Behutet são mencionados nos textos do templo como Mesnitu ou trabalhadores de metal. Podemos identificar afinidades com os mitos Cainita e de Seth com: “Hórus-Behutet chegou e seus seguidores, que estavam atrás dele em formas de trabalhadores de metal, cada um tendo em sua mão uma lança de ferro e uma corrente”. O deus Thoth também proclamou as vitórias de Hórus como o Habitante no Disco [solar]: “Os Domínios Intermediários deverão ser chamados pelos nomes desses ferreiros (...) e o deus que habita entre eles (...) deverá ser chamado de Senhor de Mesnet”. O simbolismo oculto do trabalhador de metal ou artífice de metal e seu deus ferreiro é consequentemente um aspecto importante no mito Luciferiano, associado tanto com a Espada Flamejante quanto com os Pilares de Tubalcaim.