segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Kenneth Grant - Os Túneis de Seth


A TESE desenvolvida na Parte II é a de que os primeiros criadores de mitos, incapacitados de compreender adequadamente as forças do Não-Ser, lançaram-nas em um falso molde do qual estas emergiram como poderes do “mal”. Em consequência, os mitos e lendas estão vivos com demônios, monstros, vampiros, íncubos, súcubos, e uma hoste de entidades malignas dos quais são símbolos que ocultam glifos inomináveis, apavorantes e – para o homem primordial – conceitos inconscientes de Nada, Espaço Interior, Anti-Matéria, e o horror final da Ausência Absoluta. Este ‘outro universo’ que não podemos conhecer – posto que nós o somos, num sentido muito íntimo para sondar – tem sido indicado por Qabbalístas e Gnósticos. Algumas de suas estanhas doutrinas estão re-emergindo hoje usando novas máscaras curiosamente similares às suas antigas, embora com uma moldagem facial alterada sugerindo afinidades com especulações ainda mais estranhas. De algum modo ainda não adequadamente compreendido, Daäth pareceria ser um ‘buraco negro’ ou portal para o universo paralelo representado pelo outro lado da Árvore da Vida.

As vinte e duas celas das Qliphoth representadas pelas vinte e duas escalas da Serpente se relacionam à Gnose Ofidiana tal como conhecida pelos antigos. Ela é aqui interpretada à luz das pesquisas conduzidas por adeptos tais como Aleister Crowley, Austin Osman Spare, Charles Stansfeld Jones, Michael Bertiaux e outros.

A Besta com cabeça de Janus, Choronzon-Shugal (333 + 333) olhando para dentro e para fora no Pylon (uma forma arquitetônica egípcia – N.doT.) de Daäth, é idêntica à Besta 666 da tradição bíblica e o deus-demônio cultuado eras antes pelos Yezidis sob o nome de Teitan.

Em sua nota sobre “Satan, Seth & os Yezidis”443, Richard Cavendish expressa sua opinião de que este “Deus-Demônio dos Mistérios Caldaicos é uma invenção” da imaginação de Alexander Hislop444. Porém Hislop foi precedido por Gerald Massey cuja obra monumental, O Gênesis Natural, foi publicado em 1883. Na página 367 daquela obra aparece o original do material mais tarde usado por Hislop em seu livro. Massey observa que:

Irenaeus445 estava em uma certa medida correto quando deu como sua conclusão que Teitan era de longe o nome mais provável (da Besta) embora ele ignorasse a respeito da verdadeira razão do porquê.

Massey prossegue dizendo que “Teitan é a forma Caldaica de Shaitan, que é ainda adorado pelos que são denominados os Adoradores do Demônio do Curdistão, Shaitan sendo o nosso Satan”.

Richard Cavendish também mantém que “Aleister Crowley naturalmente compartilhou esta concepção inadequada e favoravelmente trouxe os Yezidis para dentro de seu próprio sistema. Ele queria pronunciar Demônio como Shaitan, em primeiro lugar porque isso o capacitaria a começar o nome do Inimigo com a letra Hebraica shin, que na tradição cabalística é a letra do Espírito Santo, e em segundo lugar porque qualquer outra coisa começando com “sh” o atraía.446

Esta declaração mostra um erro de compreensão sobre a razão de Crowley para comungar dos sentimentos de Massey (e através de Massey, os de Hislop) com relação a Shaitan; isto também reflete a opinião dos mais iludidos dos detratores de Crowley, pois isso confunde a natureza da matéria excremental à qual a fórmula de Shaitan ou Set se refere. A matéria já foi adequadamente explicada.447 O que ainda não foi considerado é a ignorância de Ienaeus sobre o porquê Teitan era de longe o nome mais provável da Besta. O próprio Massey dá uma indicação para o motivo na página 370 da sua Gênese Natural onde ele diz, a propósito, outro aspecto do assunto, “não pode haver dúvida de que o enigma é numérico”.

O número 666 resume a dupla natureza da Besta como Choronzon-Shugal, e isso explica a descrição aparentemente contraditória em Revelação (Apocalipse) ‘da Besta que foi, e não é, e ainda é’. A natureza ‘da Besta que era, e não é’, foi explicada na primeira parte deste livro; ainda resta explicar a Besta que ‘ainda é’.

A Besta anterior ‘que era, e não é’ é o lado negativo da Árvore; ele é como ele era o reflexo das qliphoth do lado anverso da Árvore que constitui o domínio do magista. Eis o porquê Crowley reivindicava que o Liber CCXXXI448 ‘é verdadeiro até o Grau de 7o = 4 (quadrado)’, pois além do Abismo, a magia(k) como um modo prático de ser, cessa de funcionar(?).

O esquema que será adotado aqui está baseado no Liber CCXXXI que oferece tanto o sigilo quanto o nome da qliphah correspondente à cada uma das vinte e duas escalas da Besta que rasteja ao longo dos vinte e dois caminhos, emitindo assim que passa os kalas e os bindus, e unindo o néctar da mulher com o veneno da Serpente.

Os vinte e dois caminhos da Árvore da Vida transmitem as influências das onze zonas de poder macrocósmico aos seus centros nervosos correspondentes no organismo humano449. Existem portanto 33 kalas no todo, 32 dos quais450 são de origem extra-terrestre. Sete deles451 são zonas de poder cósmico, e as três restantes452 transmitem influências extra-cósmicas das três formas do Nada.453

A parte II do presente livro trata portanto das qliphoth ou sombras destas zonas de poder tal como dado no Liber CCXXXI. A rubrica secreta deste Liber está contida na misteriosa tabela anexada à ele. A única parte dela que nos interessa aqui exibe os sigilos e os nomes das qliphoth que são fornecidos em seus locais apropriados no cabeçalho de cada uma das 22 seções que seguem a esta introdução. O número 231, o número do Liber sob o qual estas considerações estão baseadas, é a soma dos números de 0 a 21, a extensão de 22 e portanto a soma dos números principais dos Trunfos do Tarô.

Antes de descrever o mundo contrário do Meon, ou universo paralelo, obscurecido nos kalas da Árvore, talvez seja de auxílio ao leitor se eu desse uma breve descrição das zonas de poder cósmico e seu relacionamento entre si.

Segundo o sistema de Graus da A.’.A.’., Kether (10o=1) equaciona com Plutão, e Malkuth (1º=10) com a Terra, Chokmah (9o=2) equaciona com Netuno, e Yesod (2o=9) com a Lua; Binah (8º=3) equaciona com Saturno, e Hod (3º =8) com Mercúrio; Gedulah (7º=4) equaciona com Júpiter, e Netzach (4º=7) com Vênus, Geburah (6º=5) equaciona com Marte, e Tiphareth (5º=6) com o Sol.

A Décima-primeira zona de poder, Daäth, é atribuída a Urano e é a Morada dos Irmãos Negros, quando vista a partir da esfera de Malkuth (Terra). Os Irmãos Negros são representados fenomenalmente por aqueles que vêem o universo como uma realidade objetiva. Os cientistas são os seus protótipos. Daäth sendo o Portal do Abismo é o ponto tanto do ingresso dentro do numênico quanto do regresso dentro do fenômeno; em outras palavras ele é o portal da manifestação da não-manifestação.

Choronzon (333) é Chaos no sentido de Não-Palavra, tipificado pela Besta cuja união explosiva com Babalon454 abre os Portais do Abismo e admite as forças do Universo ‘B’ (o Meon). A fórmula de Choronzon portanto tem referência específica ao Aeon Sem Palavras ou Silente representado no Aeon de Hórus pelo bebê sem fala ou Khart, Harpocrates (Hoor-paar- Kraat)455.

A este Aeon Crowley atribuiu a letra Zain (Z-Ayin) as Forças Gêmeas da dualidade simbolizando – o símio de Thoth – a não-palavra do pré-humano ou ‘fala monstruosa’. Isto é o silêncio dos Irmãos Negros, aqueles que tipificam os atavismos da Besta separada de seu veículo natural de manifestação:456 o ‘tipo errado de silêncio’.457

Zain é a espada referida em AL.II.37, referindo-se ao ‘trabalho da vara e ao trabalho da espada’, a vara sendo simbolizada pela letra Beth. Aqui a blasfêmia da fórmula homossexual, pois ela nega Babalon e cria demônios no chaos. As torres gêmeas do abismo representam portanto dualidade não polarizada. Elas são a morada dos irmãos negros ou gêmeos – Set e seu duplo Hórus – Le Diable, o Demônio em sua fase positiva, corrupto e perverso. Aqui a fórmula típica da sodomia como aplicada à traseira da Árvore.

Os atavismos dos Irmãos Negros são as estrelas estéreis nascidas do Aeon sem fala ou balbuciante458, pois a Palavra pode ser vibrada sem distorção apenas via mênstruo da mulher. A maquinaria total da Igreja Romana, que é uma inversão da verdadeira Gnose ‘pré- Cristã’, é potencializada nos planos internos por esta fórmula de sodomia, como exemplificado por alguns de seus mais altos iniciados. No outro lado da Árvore, esta fórmula é idêntica àquela que Crowley designou como Per Vas Nefandum.459

O Pylon de Choronzon está guardado na forma de Shugal, a ideografia de Set como o uivador no deserto460. Não é sem interesse que o nome Al Azif que Lovecraft escolheu como um título para seu famoso Necronomicon era, como ele observa ‘a palavra usada pelos Árabes para designar aquele som noturno (produzidos pelos insetos) que se supunha serem os uivos dos demônios’461.

Operando para baixo a partir do Pylon de Daäth, representado pela Palavra, 462 Tiphareth surge abaixo do horizonte do Abismo como o Sol Negro, o símbolo do qual – a Coulevre Noire (Cobra Negra – N. do T.) – oculta o êxtase do ‘deus horrendo’463 cuja imagem é o reverso da Beleza tipificada por Tiphareth no mundo da existência fenomênica.

A explosão de orgasmo em Daäth vibra a Palavra da Serpente Negra e da Deusa cujo símbolo interno é a Coulevre Rouge 464. Estas são as serpentes gêmeas Ob e Od, da Corrente Kaliniana. Tiphareth representa portanto a Vontade solar-fálica: a Serpente de fogo no apogeu de sua apoteose fenomenal, e talvez humana.

Luzindo ainda mais abaixo na Árvore nós encontramos Netzach, que tipifica a imaginação criativa inspirada pelo amor sensual que é refletida no reverso pela ‘fantasia da carne’465. O aspecto Hod da Árvore representa a zona de poder da mente, que vitaliza o mecanismo da magia(k) mental. Hod está abaixo da égide de Mercúrio e funciona através da fórmula de Narciso; portanto a prática do Grau VIIIo da O.T.O. Sua fórmula reversa está velada pela imagem de Azatoth, o Deus Idiota apresentado no Mito de Cthulu de Lovecraft. Netzach (Vênus) e Hod (Mercúrio) são equilibrados pela lua na esfera de Yezod, o Local do Ion-secreto466. Esta é a esfera do astro-etérico, ou Magia(k) do IXo. Seu reverso é a fórmula da feitiçaria envolvendo os atavismos negros de Gamaliel, a Mulher Obscena cujo símbolo é o asno. A Fundação ou Fundamento é um nome de Yesod e ela é a fonte do ion secreto, pois ele oculta o Olho de Set, sendo que um de seus títulos é “O Comedor do Asno”. Este é o ‘comedor de esterco, o aflito no Dia-do-Esteja-Conosco’467 (Dia do Juízo_?). Isto resume as fórmulas mais secretas dos caminhos mágicos de Kali. Estas forças são finalmente assentadas em Malkuth, a zona da reificação e do ‘assentamento’ ou encarnação da Matéria. O significado- reflexo de Malkuth está implícito na fórmula da Postura da Morte468 como um mecanismo de desintegração e dissolução, que uma vez mais libera a Matéria de 1º =10 para se tornar 10º =1 novamente. A fórmula de Malkuth, como da Postura da Morte, é o oposto do Xo.469

O Trono (Malkuth) é o complemento e o oposto da Coroa (Kether). Kether transmite a Corrente Plutoniana que conduz – via túneis de Set – através do triplo Véu do Vazio até as profundezas do espaço interior. É esta transmissão que é seguida aqui através dos túneis de Set. A rede em forma de teia da Árvore com respeito à estes túneis e zonas de poder se assemelha à um ‘buraco de verme’ que começa em Malkuth e termina em Kether470. Este é o salto através do super-espaço tipificado pelos voltigeurs, ou saltadores, e pelas vibrações voodoo de ritmo de ‘salto’ como exemplificado na música de Count Basie. Os saltadores são tipificados pela deusa de cabeça de rã Hekt, assim denominada porque os antigos – observando a ação peculiar da rã saltadora – atribuíram esta criatura aos saltadores nas águas (do espaço). Hekt, significando uma rã era o original Egípcio da [deusa] Grega Hecate, a deusa da trivia (três caminhos): os Caminhos do VIIIo, IXo, e XIo, que resumem as fórmulas secretas da magia(k) psico-sexual. Plutão, o Pylon mais externo, é também – por analogia – o Mais Interno, pois os espaços exterior e interior se tornam idênticos naquele ponto em subjetividade onde sujeito e objeto, numênico e fenomenal, negam um ao outro. Similarmente, a Coulevre Noir, ou Serpente da Escuridão, é idêntica à Coulevre Rouge quando tingida com o fogo da Kundalini erguida. Novamente, por analogia, a Postura da Morte é aquela do caminho de volta ou nascimento de ponta cabeça471 que simboliza renascimento em e através do lado noturno da Árvore.

Para recapitular: Daäth, o Portal do Abismo, contém a Torre Dupla ou Torre do Demônio que é o Pylon de Choronzon. Tiphareth é o Falo do Fogo (a Serpente de Fogo) refletida como o Sol Negro ou Serpente da Escuridão (Coulevre Noire). Vênus ou Netzach simboliza olho e sua luz, a ‘fantasia da carne’. Mercúrio é o deus da magia(k) mental cujo reflexo qliphótico é o Deus Idiota ou a qliphoth lunar; e Malkuth é a zona dos atavismos de Zos.472

Também deve ser lembrado que Daäth, o décimo primeiro kala cósmico é em um sentido recôndito idêntico, e sobrepõe-se em tempo-espaço, ao 31º kala que é o kala de ‘O Aeon’, atribuído à ambos Fogo e Espírito. Os 22 kalas remanescentes são dos Caminhos e serão tratados na devida oportunidade. As atribuições dos chakras aos kalas cósmicos – como concentrados através das Sephiroth – são como segue:

Plutão canaliza as influências de Nu-Isis a partir do Exterior.473 A influência permeia as zonas de poder desde Chokmah, a Esfera das Estrelas, até Geburah, a Esfera das energias transcósmicas conectadas com o sangue de Isis. O complexo Chokmah-Binah-Chesed-Geburah é o útero que recebe as influências extra-terrestres que incluem aquelas fluindo do Espaço Interior de Daäth. Estas influências condensam para formar o Véu do Abismo raiado pelos relâmpagos de Urano que ilumina os Pylons de Choronzon. Naquele lampejo de lúrida luminosidade os Pylons e o Portal são vistos como um [só] com a rede de túneis fugazmente revelados. Este campo magnético completo compreende o complexo Sahasrara- Brahmarandhra-Ajna.

Daäth, por outro lado, equaciona com o Visuddha chakra e representa a Palavra, e portanto o HOMEM, Aquele que Fala. Isto é refletido nas águas do abismo para trás, e é simbolizado por aquelas bestas [que retrocedem_???] que tipificam Choronzon e Shugal, o uivador nos desertos gelados do Nada. Este é o Chaos da Criação e da Aniquilação.

Tiphareth equaciona com o Anahata chakra e o coração da Árvore. Ele representa a Vontade solar-fálica (93) incorporada na Serpente de Fogo. Sua sombra é o Sol Negro tipificado pela Coulevre Noire.

Netzach equaciona com o Manipura chakra, a imaginação criativa cujo animal representativo é a mulher. Ela é o Olho de Zos que tece a fantasia da carne ao reproduzir sua imagem como um reflexo nas águas do abismo.

Hod equaciona com o Svadistthana chakra, a mente que organiza a fantasia mas que, como no mito de Narciso, é obcecada com sua própria beleza e está presa à fórmula do auto- amor através de técnicas masturbatórias tais como aquelas do VIIIo. O Deus Idiota é seu reflexo; também o Babão. 474 Esta fórmula se torna criativa apenas quando aliada àquela de Netzach, o lótus do Manipura no lago da mente. 475 A arma mágica de Narciso é a Mão que equilibra o Olho da Mulher, no Culto Zos Kia.476 Mercúrio rege a esfera da magia(k) mental; sua imagem é o cão e o macaco, ambos masturbadores notórios.

Yesod equaciona com o Muladhara chakra e representa o fluido astro-etérico que é o mênstruo da magia(k) sexual utilizado pelos Adeptos do IXo. Seu reflexo constitui as feitiçarias do XIo (o reverso do IXo), simbolizado pelo Asno da Mulher Obscena, Gamaliel. Sua aplicação ao deus mercurial é uma abominação, como Crowley o expressa em Magick (p.165).

Malkuth está abaixo dos chakras no sentido de que as qliphoth estão abaixo das sephiroth. Malkuth representa reificação, assentamento, a encarnação de espíritos, daemons, ou inteligências inferiores ou superiores ao homem. O reflexo de Malkuth é desintegração e a encarnação de formas instáveis de existência tais como elementais, demônios, etc. Ela é o antípoda de Plutão (Kether), e representa o lodo de Satan gerando nos espaços exteriores além da margem distante projetada do universo conhecido. Neste sentido Malkuth é o anti-polo do inundação(?) estelar do espaço além de Plutão.

De forma a trazer esta informação contida nesta Parte II dentro da compreensão de termos humanos o leitor poderá achar útil considerar os Túneis de Set como uma rede de células de sonho na mente subconsciente. Cada túnel se relaciona ao caminho sob o qual ele funciona, em grande parte como se poderia dizer que os gânglios neurais são subjacentes à estrutura esquelética do organismo humano, e ela funciona em várias dimensões simultâneamente. Existem portanto inter- relações e conexões inevitáveis, até mesmo necessárias, dos caminhos e os túneis que eles ocultam, mas deve ser compreendido que as influências que permeiam os caminhos tem sua origem, não nos próprios túneis (que são meramente canais ou passagens de trânsito), mas de além do Portal de Daäth.

Embora não tendo posição real na Árvore, Daäth é ainda assim a zona de poder ou ato-evento que torna possível o esquema inteiro das Sephiroth, Caminhos e Túneis, com todas as suas complexidades ramificadas. Se isso for compreendido deveria haver pouca dificuldade em seguir a distribuição de ideias e conceitos é cada uma das células de sonho.

Sendo tal como se fosse um comentário aos caminhos da mão esquerda da Árvore da Vida, este livro preocupa-se mais especificamente com o lado de trás ou reverso da Árvore. Minhas fontes de informação são as Qliphoth, sendo que os nomes e sigilos das quais são fornecidos no Liber CCXXXI de Crowley. As escalas de som e cor utilizadas nas evocações dos sentinelas de cada túnel ou célula são oferecidos em cada caso, e as cores atribuídas aos sigilos foram extraídas da Escala de Cores da Terra ou ‘Filha’ como fornecido no Liber 777, coluna xviii. As chaves sonoras são derivadas das pesquisas de um Adepto cujas anotações marginais (paralelas_?) na cópia pessoal de Crowley do 777 me capacitaram a distribuir a vibração correta ao demônio ou qlipha pertinente. Estas chaves não foram anteriormente publicadas. Também não publicado na edição póstuma do Liber 777477 é o material formando uma coluna adicional entitulada Enfermidades Típicas, que também apareceu em manuscrito na cópia pessoal de Crowley. Como essas enfermidades pertencem essencialmente às qliphoth, eu as incluí, embora a lista de Crowley é conhecida por ter sido experimental.

Outro item importante que foi omitido da primeira e última edição do 777 são as fórmulas mágicas relevantes aos Caminhos, os quais, em sua aplicação às qliphoth, deveriam ser consideradas como uma extensão em profundidade, e em uma dimensão negativa, do complexo psicossomático relevante ao caminho em questão. Novamente aqui a lista foi experimental e Crowley omitiu em atribuir fórmulas para todos os Caminhos, provavelmente porque ele não havia trabalhado um esquema satisfatório. Eu não tive a presunção de terminar a obra que ele deixou incompleta porém incluí as atribuições que ele realmente trabalhou, mais como uma matéria de interesse acadêmico e com jeito de perfeição do que por qualquer valor prático que elas possam ter ou não.

O método real de evocação mágica não foi dado explicitamente devido aos perigos óbvios envolvidos, e porque seu abuso, seja por acidente ou proposital, é apenas muito provável de ocorrer. A técnica apropriada será contudo evidente àqueles que tenham lido a minha Trilogia Tifoniana. Também ficará evidentemente claro para tais leitores que o uso de um cristal não é aconselhável, pois no caso de tal uso as qliphoth seriam inevitavelmente obrigadas à se manifestar no lado mais próximo da Árvore, e o desequilíbrio assim gerado pelo vácuo criado no outro lado da Árvore causaria destruição no universo subjetivo do vidente. É porque o operador deve se lançar dentro dos próprios túneis que os perigos de infortúnio estão sempre presente, sendo o maior que ele será subjugado pelas condições existentes nas dimensões alienígenas que ele ingressou; o menor [perigo] sendo que ele pode se perder no labirinto intrincado de túneis, células, e tubos, com os quais o outro lado da Árvore forma uma grade (?).

É, portanto, de máxima importância não imaginar esta rede como seguindo de modo preciso os padrões do lado anverso da Árvore, embora os principais túneis dos caminhos da mão esquerda realmente subjazem àqueles da direita. Contudo, como uma veia ou nervo principal no corpo humano tenham uma multiplicidade de vasos auxiliares e capilares ramificando deste, da mesma forma as células das qliphoth contém túneis e tubos que não são apenas fáceis de acessar – uma vez que o portão principal tenha sido aberto – mas positivamente criam seus próprios vértices rodopiantes dentro dos quais são sugados quaisquer entidades perdidas que estejam na posição desafortunada de ‘não conhecer os sagrados alinhamentos.’478

Assumindo que as observações anteriores serão atendidas, as vinte e duas escalas da Serpente das Qliphoth que através dos túneis dos Caminhos da Mão Esquerda da Árvore serão agora descritos em sequência de onze a trinta e dois, as dez primeiras zonas de poder infernal tendo sido compreendidas na primeira parte deste livro.

Ilustrações deste capítulo:


Fig. 2: O Banquete do Demônio, Margaret Cook.


Fig. 3: O Pylon da Cova, Steffi Grant.


Fig. 4: A Deusa Negra do Espaço, Michael Bertiaux.


Fig. 5: Habitantes Além de Daäth Janice Ayers (Soror Tanith).


Fig. 6: Lua de Hécate, David Smith.


Fig. 7: Vinum Sabati, Steffi Grant.


Fig. 8: O Abutre na Torre do Silêncio, Allen Holub.


Fig. 9: Grimório da Doutrina Negra, Steffi Grant.


Fig.10: A Mente Ofidiana, Austin Osman Spare.


Fig.11: O Crocodilo de Khem, Allen Holub.


Fig.12: Kundalini Negra. Dois Deuses Transyugotianos da Magia, Michael Bertiaux (Foto de Nina Miller).


Fig.13: O Túnel de Temphioth, Jan Bailey.


Fig.14: Lava de Mulkunofat, Frederick Seaton.



Fig.15: Tragédia do Trapézio, Austin Osman Spare.


Fig.16: A Deusa do Futuro, Michael Bertiaux (Foto de Nina Miller).


Fig.17: Vórtice Criativo, Steffi Grant.


Fig.18: O Trabalho da Vara e o Trabalho da Espada, Allen Holub.



443 Os Poderes do Mal (RKP, 1975), pp.263, 264.

444 Vide As Duas Babilônias (Partridge, 1916).

445 Um escritor gnóstico do segundo século (Nota presente do autor).

446 Os Poderes do Mal, p.264.

447 Vide Parte I, Capítulo 7.

448 Vide O Equinócio, I. vii.

449 i.e., o microcosmo.

450 Malkuth, sendo a terra, é excluída.

451 Yezod a Binah inclusive.

452 Daäth, Chokmah, Kether, atribuídas à Urano, Netuno e Plutão, respectivamente.

453 i.e., Ain Soph Aur, Ain Soph, Ain. Vide A Kabalah Desvelada, de S. L. MacGregor Mathers.

454 O protótipo da manifestação.

455 Khart (Egípcio) também significa o deus anão ou aleijado, aquele sem fala, denotando não-manifestação, como que para equilibrar o Aeon dos Nephilim ou Gigantes que caíram através do abismo na manifestação do aeon primevo.

456 i.e., Babalon.

457 Crowley, em 777 Revisado, p.xxv.

458 ‘Lisp “Balbuciante”’ significa ‘imperfeito em expressão’(Skeat). Inglês Médio lispen, lipsen. Cf.lapse.

459 Vide Aleister Crowley & o Deus Oculto, capítulo 7.

460 A palavra Goetia também significa ‘uivador’ e sugere portanto um grimório de atavismos pré-humanos.

461 Vide Lovecraft por Fim, de Willis Conover, página 104.

462 O visuddha chakra no homem. Note que este chakra possui 16 pétalas ou kalas e é portanto o height(?) ou oitavo kala em ambos organismos masculino e feminino quando ele floresce no maithuna.

463 Liber A’ash vel Capricorni Pneumatici (Crowley), verso 23.

464 Nota do Tradutor: Cobra Vermelha.

465 A frase é de Austin Spare. O aspecto oposto de Netzach combinado com uma certa admistura lunar motivou sua arte que era uma celebração de tal fantasia.

466 Vide Cultos das Sombras, capítulo 8, para uma das mais importantes descobertas relativas ao significado de AL.III,39.

467 ‘Esterco’ e ‘aflição’ neste contexto estão conectados à corrente lunar como previamente explicado.

468 Vide Imagens e Oráculos de Austin Osman Spare, Parte II. Também O Livro do Prazer, de A.O. Spare, reimpresso em 1975 por 93 Publishing, Montreal, Canada.

469 i.e., o Xo O.T.O., que representa o Trono de Administração da Ordem. Vide Cultos das Sombras, p.138.

470 O físico Taylor utiliza o similar dos buracos de verme e uma rosca para descrever o super-espaço. O parágrafo citado na página 90 (supra) implica com igual competência aos vazios atrás da Árvore.

471 Portanto a tradição de que um feiticeiro ou bruxo é nascido desta maneira.

472 Vide Imagens e Oráculos de Austin Osman Spare, Parte II.

473 i.e., de espaços além do sistema compreendido pelo glifo da Árvore da Vida.

474 Vide a descrição do Guardião em Uma Realidade Separada, de Carlos Castaneda, Parte Dois, A Tarefa de ‘Ver’.

475 i.e., a mulher interna erguida do sono através de yoga integral intenso.

476 Vide Imagens e Oráculos de Austin Osman Spare, Parte II.

477 Conhecido como 777 Revisado, Neptune Press, London, 1959.

478 A frase é de Austin Spare.

A Língua Primordial - Visconde de Figanière

 

A Língua Primordial e a Comunicação Telepática Nos Primeiros Tempos Da Humanidade

 

DA LÍNGUA-MÃE

Diz-se que nos primeiros tempos a transmissão e percepção do pensamento se faziam sem dependência de órgãos. É como parece que devia ser. 

Os textos teosóficos limitam-se ao simples enunciado que a primeira linguagem foi adâmica [2], de onde derivou a da segunda raça, e desta a língua-mãe dos Lemurianos. O único que se tenha aventurado a explicar semelhante evolução [3]  é o já por vezes citado Man.[4]  Assegura que, depois de desenvolvidos (subentenda-se, nas potências do ciclo) [5]  vista, tato, audição e olfato, e à medida que se manifestasse o sentido do paladar (o que seria sob a quinta sub-raça adâmica), o homem, buscando outro meio de comunicação, descobriu que o possuía no órgão do dito sentido, e que a tentativa começou pela imitação da voz dos pássaros e de outros animais, criaturas tão diversas das conhecidas [6], que o som que emitiam nenhum efeito produziria no nosso sensório, etc. (p. 97). 

Duvido que esta lição tenha recebido a chancela dos Mestres. As percepções desenvolvidas pela primeira raça eram suprafísicas, nem passaram além; não eram sentidos na nossa acepção da palavra. Que o meio de transmitir o pensamento quando a raça chegava ao seu termo, deixasse de ser de todo em todo o mesmo que ao início do seu desenvolvimento, é crível e consentâneo com a lógica da evolução, nem há porque não se chame esse meio a “linguagem primeva dos homens”. Mas em nada representaria a ideia que formamos da linguagem; e dar-lhe por fonte e origem a imitação satisfazendo-se no exemplo de entidades inferiores, condiz mal com o escopo da Filosofia Esotérica. Roça-se muito de perto com o ensino de algumas das escolas materialistas. Fosse o que fosse a dita língua, me parece que teve um princípio mais nobre. 

Por que não significaria uma derivação, por progressivo decaimento, da “língua” dos celestiais, que os ditos homens conversavam tão a miúdo, com os quais se achavam em constante convivência, dos quais haviam recebido a doutrina fundamental do ciclo (textual)? A 7.ª sub-raça acabou por possuir sete percepções, que se haviam desenvolvido por meio de órgãos pré-físicos. Equivaleriam a uma síntese supraorgânica que a aproximava do nível da 1.ª sub-raça, sem contudo levá-la tão alto. No pressuposto que o meio de intercomunicação entre os dhyan-chohans e a 1.ª sub-raça fosse a mútua percepção pelo que se poderia denominar vista ultrasuperorgânica – que nem por isso escapa ao simbólico – então vista, tato, audição, olfato desenvolvidos organicamente, embora em circunstâncias pré-físicas, constituíram quatro escalas de rebaixamento, quatro estádios mais apartados e removidos do plano chohânico ou planetário. O meio primitivo degenerara pela complexidade, tornando-se menos inteligível; não de homem para homem, nem deste para planetário, mas de planetário para homem – decadência na intimidade. Esse meio continuaria a ser fundamentalmente visual, em condições pré-físicas, já não ultrasuperorgânicas. Isso, tanto mais porquanto a evolução da vista foi a especialidade dos Adâmicos (textual). Ora, a 5.ª sub-raça – de qualquer ciclo – é a bem dizer o protagonista da subida, e desenvolvedor do paladar, quanto a sentidos, da mente, no tocante a faculdades superiores. Estou de acordo com os autores de Man em como esta 5.ª sub-raça abrisse a evolução da “língua adâmica”; mas não quanto à natureza que atribuem a semelhante evolução. 

O órgão gustativo – se é que tal houve em corpos pré-físicos – nada teve que ver, na minha opinião, com a efetividade da língua adâmica. A evolução desta consistiu num processo de reabsorção pela vista, das outras percepções desenvolvidas. Desdobramento do “paladar” – mero símbolo de uma analogia – equivaleu ao envolvimento dos “órgãos” com vantagem da vista superorgânica, e o resultado da evolução do 5.º subciclo, ou seja, a linguagem na sua potência efetiva, pode-se exprimir assim: 

 

     Percepção =      Vista + mente = kama + manas           =   1.ª linguagem adâmica

     ——————————————————————————————

          Órgãos =      paladar, olfato (audição, tato, vista)    =    símbolos. 

 

 Isto é, a percepção ia impedida ainda de dois órgãos. No fim da 6.ª sub-raça, teríamos: 

 

    Percepção =     Vista + mente = manas (bud. – at.) =  2.ª linguagem adâmica

     ——————————————————————————————

          Órgãos =     paladar (olf., aud. tato, vista)        =   símbolos. 

 

Ao cabo da última sub-raça, tem-se: 

 

     Percepção = Vista = intuição = manas + buddhi-atma  = 3.ª linguagem adâmica

         ———————————————————————————————

     (pal., olf., aud. tato, vista)                     =  rudimentos orgânicos, ou  condição potencial

 

Quer dizer, a língua adâmica na sua perfeição = vista desimpedida ou superorgânica + mente superorgânica = intuição nas potências do ciclo. 

Por outro lado, essa língua era puramente telepática: o Adâmico “falava” pela vista, “escutava” pela vista. A mente gerava a ideia, a vista a emitia, a vista a recebia, e a mente a conhecia. Significava visão mental. A vista era a síntese das percepções, e correlativa da mente, sendo esta uma função da alma. Os dois correlativos se coordenam pela faculdade unitiva, a visão mental ou intuição (em vários graus) onde causa e efeito se conhecem simultaneamente. Harmoniosa com a condição corpórea de então, sendo os Adâmicos homens diáfanos e transparentes (textual). E, se a imitação foi um elemento no resultado, não vemos dessa forma que o exemplo veio de cima, não de baixo? 

Se homens transparentes, cuja característica foi desenvolver a vista, pela vista se entendiam, é natural concluir que os Pós-adâmicos, apenas físicos, mas já vestidos de pele, cuja característica foi desenvolver o tato, pelo tato – ajudado pela vista – esquadrinhassem o pensamento alheio, e descobrissem o próprio. Tanto mais quando vemos que os homens da raça seguinte – os Lemurianos – cuja especialidade foi o acabamento da audição, mantinham conversa pelo som, pela voz, auxiliada pela vista – expressão do rosto – e pelo tato – ênfase dos enérgicos, violentos ou malcriados – meio ainda hoje prevalecente e em plena voga. 

A linguagem dos Pós-adâmicos nos primeiros tempos foi necessariamente telepática, reduzindo-se à vista. Depois este meio tornou-se secundário, e a intercomunicação dos homens foi pelo tato. Como? O pensamento de quem “falava”, ferindo o ambiente – então de uma sutileza e sensibilidade extremas – produzia um efeito de que se ressentia logo a pessoa  do “interlocutor”; o ambiente recebia o impacto mental – tangível a respeito desse ar finíssimo – e os interessados recebiam na pele a persuasiva e eloquente vibração aérea…  

Argumento final. Os melhores textos teosóficos estão de acordo em que a linguagem da Lemúria foi a verdadeira língua-mãe da humanidade física. Equivale [7] a dizer que as outras duas não podiam deixar vestígios de si. Se a excelência [8] do ambiente dos Adâmicos estava na luz e nas cores; se o fluido em que viviam os Pós-adâmicos se destacava [9] como meio das ligeiríssimas impressões do pensar, transmitindo-as com tão admirável nitidez – o ar, já mais afogueado, dos tempos Lemurianos tinha-se tornado condutor eficaz do som, ao passo que perdera toda a sensibilidade aos impulsos da mente (sensibilidade que hoje compete à luz astral). Com este progresso físico no meio vital, ia de envolta o dos homens, que só em tais condições haviam podido desenvolver o órgão auditivo e a sua correlação ativa, a voz, progresso aliás que se revelava também pela maior atividade [10] do cérebro. Os Lemurianos eram bastante deficientes em olfato (especialidade dos Atlantes), mas possuíam um ouvido sutilíssimo, atingindo grandes distâncias, e de longe objetivavam as vibrações produzidas pelo órgão vocal. Foi graças a este, acompanhado das crescentes operações mentais, que em Lemúria se realizou a primeira linguagem articulada, desdobrando-se em diversos idiomas, e portanto a primeira série de civilizações do circuito. [11]

(VICO  [12] não deixa de acertar bastante, quando diz que as ideias e as línguas se desenvolvem pari passu: SCIENC. NOVA, ax. 62. Foi o primeiro a imaginar a origem monossilábica da língua falada,  lema de que os filólogos modernos têm tirado o seu proveito, ibid. ax. 60). 

Pisando agora um terreno mais seguro da observação aventurada acima – que as duas primeiras linguagens não podiam deixar vestígios de si – inferir-se-ia que da terceira tem ficado algum. De fato, se afirma que nos centros acromáticos [13] existe a chave que abre o parentesco da língua atlante com a dos Lemurianos. Cá por fora não cabe nos estudos filológicos penetrar além da superfície idiomática da quarta evolução linguística, cuja ramificação deu origem [14] a muitos idiomas. 

O dialeto que acusam os sanscritistas, chamando-o de Rakshasi Bahsa, não representa o estilo comum aos Atlantes no tempo do seu encontro com os Indo-aryas; identifica-se noutro muito posterior e alterado, que se tem conservado no sânscrito reformado (MAN, pag. 99). O falar predominante na Atlântida consistia numa linguagem que apenas sobrevive nos dialetos de algumas tribos americanas (raça vermelha), e do interior da China (tribos do Kivang-ze). Uniam-se nela o que os filólogos modernos chamam o aglutinado e o monossilábico (FIVE YEARS, p. 332) [15]. 

Das línguas conhecidas, a que se aproxima mais da atlante é o sânscrito, elemento principal dos idiomas aryanos, e produto da quinta evolução linguística ainda pendente.[16]  A língua-mãe dos Aryas chamava-se Devabhasa, nome que se aplicou depois com menos propriedade ao sânscrito, derivado dela. Foi portanto em Devabhasa que originariamente falavam os Indo-aryas, nossa primeira sub-raça. Hoje é só conhecida dos adeptos [17] que, entre si, lhe dão o nome de Sensar, de onde saiu o Zend (idioma sagrado dos Zoroastros) assim como as línguas desenvolvidas pelas outras sub-raças do presente ciclo. 

 

NOTAS:

[1] “Estudos Esotéricos: Submundo, Mundo, Supramundo”, Livraria Internacional de Ernesto Chardron, Porto, 1889, 744 pp., Capítulo XI, “A Palavra”, pp. 455-461. Esta obra teve uma edição brasileira que publicou apenas parte do seu conteúdo. Trata-se de “Submundo, Mundo e Supramundo”, Visconde de Figanière, Editora Três, Biblioteca Planeta,  São Paulo, 298 pp., 1973. (CCA)

[2] O termo “adâmica” se refere neste contexto à primeira raça-mãe, ou raça-raiz,  da humanidade.  No Glossário do seu livro, porém, Figanière explica que em função da recente publicação de “A Doutrina Secreta”, e conforme ele escreveu no capítulo suplementar de “Estudos Esotéricos”, isso deve ser corrigido. Ele escreve na p. XIX de “Estudos Esotéricos”, enquanto sua obra já estava sendo impressa, em 1889:   “Atendendo aos novos esclarecimentos do capítulo suplementar este nome já não tem lugar. A 1.ª raça foi sub-humana e pré-adâmica. Os adâmicos correspondem aos primeiros homens das grandes raças 3.ª, 4.ª e 5.ª Lemuriana, Atlante e Aryana”.   Assim, o termo “adâmico” no âmbito do presente texto se refere à primeira raça-mãe ou raça-raiz, mas o  seu significado é outro em contextos diferentes. (CCA)

[3]  O presente texto de Figanière é imediatamente anterior à publicação de “A Doutrina Secreta”. O livro estava sendo impresso quando chegou às mãos do autor um exemplo recém publicado da obra de H.P.B.  Ele teve tempo apenas de acrescentar algumas páginas adequando em um Capítulo Suplementar certos aspectos da sua obra aos ensinamentos  publicados pela sra. Blavatsky. Por isso, nesta frase, ele não se refere a “A Doutrina Secreta”. (CCA)   

[4] Nota de Figanière: “Man: Fragments of Forgotten History”, by Two Chelas, Londres, 1885.  

[5]  “Dentro das potências do ciclo” – isto é, dentro das possibilidades do seu ciclo de evolução. (CCA)

[6]  Isto é, segundo esta ideia, os pássaros e outros animais eram criaturas tão diversas das hoje conhecidas  que o som que emitiam nenhum efeito produziria sobre a nossa audição atual. (CCA)   

[7]  No original, “monta a dizer”, isto é, “equivale a dizer”.  Estamos substituindo a palavra para facilitar a compreensão. (CCA)

[8] No original, “preexcellencia”, isto é, “excelência” ou “ponto  alto”.  Substituímos a palavra para facilitar a compreensão. (CCA)

[9]  No original, “avantajava”, isto é “se destacava”. Substituímos a palavra para facilitar a compreensão.  (CCA)

[10] No original, “atuosidade”, isto é, “atividade”. Substituímos a palavra para facilitar a compreensão. (CCA)

[11] “Do circuito”, isto é, do ciclo maior, que inclui sete raças-raízes. (CCA)

[12] “VICO” – Giambattista Vico (1668-1744). Filósofo italiano, autor de “Nova Ciência da Natureza Comum das Nações”. Vico propunha uma visão interdisciplinar do conhecimento. (CCA)

[13] “Centros Acromáticos”- centros sublimes, esotéricos.  Alusão aos centros e agrupações dos sábios que zelam anonimamente pela sabedoria universal e pela evolução humana. (CCA)

[14] No original, “deu ser”, isto é, “deu origem”. Substituímos a palavra para facilitar a compreensão. (CCA)

[15] “Five Years of Theosophy”, Londres, 1885, 575 pp.  Este volume é uma seleção de artigos dos cinco primeiros anos da revista mensal “The Theosophist”, fundada por H. P. Blavatsky na Índia em outubro de 1879. Há uma edição fac-similar da obra à venda hoje pela “Theosophy Company”, de Los Angeles. (CCA)

[16] “Ainda pendente” – ainda em curso. (CCA)

[17]  “Adeptos” – altos Iniciados, Mestres, Raja-Iogues, “Imortais”, seres proficientes na sabedoria esotérica. (CCA)

 

Biografia Kenneth Mackenzie

Kenneth Robert Henderson Mackenzie (Deptford, 31 de outubro de 1833 — 3 de julho de 1886) foi um linguista, orientalista e esoterista inglês.

Mackenzie nasceu em Deptford, perto de Londres (Inglaterra), em 1833. No ano seguinte, sua família mudou-se para Viena (Áustria), onde o pai, Dr. Rowland Hill Mackenzie, foi trabalhar como cirurgião assistente no Departamento de Obstetrícia do Hospital Imperial. Mas quando seus pais retornaram à Inglaterra, por volta de 1840, ele permaneceu em Viena, para completar sua educação, obtendo grau de excelência em idiomas: alemão, francês, latim, grego e hebraico. Afinal, aos 17 anos, estava de volta a Londres, passando a trabalhar na editora de Benjamin Disraeli.

Em 1861, ele esteve em Paris, onde conheceu o ocultista francês Eliphas Levi (Alphonse Louis Constant). Data dessa época seu crescente interesse por assuntos esotéricos, aproximando-se da Maçonaria e mantendo estreito contato com personalidades rosacrucianistas. Em 1866, ajudou Robert Wentworth Little a fundar a Societas Rosicruciana in Anglia, que atraiu figuras de destaque do esoterismo europeu dessa época, dentre elas William Wynn Westcott e Samuel Liddell MacGregor Mathers, que viriam a ser fundadores da "Ordem Hermética da Aurora Dourada" (Golden Dawn).

Em 1881, Mackenzie publicou as primeiras edições do periódico maçônico "Kneph" e planejava editar um livro chamado "O Jogo de Tarô: Arqueologicamente e simbolicamente considerado", projeto que não se concretizou por força de sua morte prematura, aos 53 anos de idade.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Abraxas - E. Buonainti

 

Com este nome queremos indicar esse conjunto de pedras gravadas, usadas especialmente pelos integrantes da escola de Basílides, conhecidas dos padres e hoje dispersas pelos museus da Europa. São designados com o nome de Abraxas, porque quase todas trazem esse nome. As figuras simbólicas, as palavras estranhas, as aliterações bem combinadas, mostram que tais pedras serviam de talismã. As inscrições são sempre redigidas em grego e, em geral, são uniformes. Lê-se nelas, IAÔ, Sabaoth, Adonai, Anúbis, Ísis, Mitras. Nessas pedras, ora estão inscritas as vogais gregas aeêioyô, da direita para a esquerda ou vice-versa; consoantes sem significado; sílabas incompreensíveis; palavras indecifráveis, derivados do grego, do copta, do hebraico, do siríaco, longos vocábulos que se podem ler começando indiferentemente da direita ou da esquerda, como ABLANATHANALBA; frases vazias de sentido. Ora representam figuras nuas em posturas eróticas, personagens simbólicas, por exemplo, uma cabeça de galo, com braços e bustos humanos, pernas formadas por duas serpentes, de escudo numa das mãos e, na outra, um açoite; ou então, uma mulher sem cinto, com uma estrela na cabeça, um açoite na mão esquerda, a direita apontando para a boca, sentada numa flor de lótus, símbolo frequentíssimo da fecundidade.
Essas pedras são de inestimável valor para sondar a psicologia gnóstica. Esses talismãs enigmáticos revelam o estado de exaltação que jaz sob a especulação da gnose, esse estado de ébrio extravio espiritual, em que toda palavra assume valor de rito; invocação estranha e paradoxal, um meio de infalível comunicação com o divino. Além do mais, essa promiscuidade de divindades invocadas, esse estranho acasalamento de palavras de origens várias demonstram um estreito parentesco da gnose basilidiana com os sistemas solares e astronômicos, o judaico e a religião egípcia. As cabeças irradiantes de homem, galo, leão, serpente, o açoite, Mitra fazem pensar nos cultos solares: Sírio, os sete planetas, a lua crescente, o Zodíaco revelam elementos astrológicos; o escaravelho, Ísis, Anúbis são de derivação egípcia; as palavras Sabaoth, Gabriel, Adonai denotam dependência ao judaísmo. O elemento cristão é o que menos transparece nessas manifestações de uma religiosidade mórbida; o cristianismo quase se sumia nesse oceano de variedades sacras, fundidas num vasto e ardente sonho de sincretismo.
Porém, para dar uma idéia mais precisa desses Abraxas, descreverei alguns, tais, quais se reproduzem na obra de Matter. Um desses representa, de um lado, um Pandemônio de quatro asas, com os ramos místicos e uma espécie de chave ou emblema de mistério, levemente indicados. A cabeleira é estranha; compõe-se de folhagem, de dois cornos, símbolos de Amon ( o Sol), e de sete raios de luz, figurando os sete planetas. O caranguejo da mão direita recorda a constelação homônima. A serpente que morde a própria calda, feita pedestal, e que encerra em si, ordinariamente, o nome de IAÔ, ou qualquer símbolo sideral, desta vez está sozinha. A imagem isolaga da serpente era claríssima para a inteligência do gnóstico. Do outro lado, está gravado um Harpócrates, símbolo da peregrinação do espírito, sentado no cálice de um Lótus, com o dedo na boca e um duplo açoite na mão. O valor simbólico desta pedra é notabilíssimo (está na edição de Gronovius e das Geminae antiquae de Leonardo Agostini). Harpócrates é o Sol em seu estado de debilitamento, no inverno, quer dizer, a alma, ao findar sua carreira terrestre, no ponto de renovar-se ex-integro. O lótus, onde está sentada a divindade, é, concomitantemente, símbolo do Nilo e da vida, inexaurível nas suas alegrias, como a fonte do venerando rio.
Outro abraxas representa uma mulher, nua até a cintura, que parece implorar insistentemente, assinalado favor de um jovem de cabeça irradiante, o qual a ouve com evidente atenção. O simbolismo aí é claro; o indivíduo é o Cristo, o Hórus-Sol, a quem a alma, dolorosamente regressa dos sofrimentos do mundo, pede que seja reconduzida ao pleroma, de que se afastara. A mulher é a alma redimida e sua parcial nudez simboliza o seu parcial desprendimento da terra.
Um terceiro representa Harpócrates saindo do lótus, com a cabeça irradiante, circundado pela lua e duas outras estrelas. O reverso traz gravada a serpente mordendo a cauda. No círculo resultante estão palavras em hebraico. Sabaoth, Michael, Adonai, etc.; em torno, outras palavras de que se colhe esta legenda; ille (Ialdabaoth) rebellavit (sed) tu pater es nobis Abrasach; - Ele se rebelou, mas tu és para nós o pai Abrasach - (tu te manifestaste mediante o Logos unido ao nome de Jesus).
Em outro, enfim, se vê Harpócrates apontando para os lábios de onde saiu a revelação; tem na mão uma coroa, a coroa do triunfo para os pneumáticos, que a compreenderam sabiamente.
Outro abraxas, pertencente a coleção Denon (Matter t. II c. 1), representa, de um lado, Anúbis, guarda dos dois horizontes, inferior e superior, guia das almas nas regiões ultra-terrenas, com cabeça de cão (guarda), com o caduceu (Guia), com a palma. Do outro, um indivíduo nu, em que se figura a alma do defunto, com um cutelo na dextra, emblema do sacrifício, uma chama símbolo da purificação; tem na fronte o sinal da ciência dos mistérios, a que se deve o destino feliz do defunto, destino expresso por uma serpente (a vida que o Ophis-Cris comunicou aos pneumáticos), por uma cabeça de gavião, pelo Leão e pelo escaravelho.
Em outro, Anúbis pesa as ações da alma, figura num pássaro. Em outro, enfim, está escrito o nome de Judas (para alguns gnósticos, o único discípulo que compreendeu o mestre e ajudou a cumprir-se a sua obra) e figura-se um homem com a cabeça de cão, ao lado da qual vêem gravadas letras gregas que Matter interpreta como as iniciais desta frase: “Jesus Cristo, o Senhor Deus, Logos, tem sido para nós a vida e a palma da vitória”.
Todos esses Abraxas (é inútil exemplificar com outros) correspondem, assim, a um conceito fundamental. Querem, sob símbolos conhecidos de religiões diversas, indicar a evolução da alma que ascende, através da contemplação da vida misteriosa, ao seu completo renovamento.
Matter reproduz 102 abraxas da mais variada origem; mas todos concebidos segundo uma idéia uniforme. Eles são de grande auxílio para verificação das doutrinas gnóstica expostas pelos Padres da Igreja.

Paganos y Neo-paganos

Una referencia importante, porque es la que siguen el academicismo, críticos ¡y no pocos paganos! Y es justo matizar, que muchas religiones ni tan siquiera han aceptado ser reconocidas como paganas, entendiendo que es una palabra exógena para señalar de manera peyorativa sus respectivas Confesiones religiosas, cuánto menos definirlas como neopaganas. Leíamos, que la Iglesia Católica lo explica de la siguiente manera:

“Neopaganismo: término rechazado con frecuencia por aquellos a quienes se aplica. Se refiere a una corriente que sigue un trayecto paralelo al de la Nueva Era y con el cual suele relacionarse. En la oleada de reacción contra las religiones tradicionales, especialmente la herencia judeocristiana de occidente, son muchos los que han vuelto la mirada a las antiguas religiones indígenas, tradicionales, paganas. Se considera que cuanto precedió al cristianismo era más conforme al espíritu de la tierra y de la nación, o que era una forma pura de la religión natural, en contacto con las fuerzas de la naturaleza, a menudo matriarcal, mágica o chamánica. Según dicen, la humanidad será más sana si retorna al ciclo natural de las fiestas (agrícolas) y a la afirmación general de la vida. Algunas religiones «neopaganas» son reconstrucciones recientes cuya verdadera relación con las formas originales puede ser discutible, particularmente en los casos en que están dominadas por componentes ideológicos modernos como la ecología, el feminismo o, en casos raros, por los mitos de pureza racial.” 

En vez de buscar un sentido más acorde con la realidad, como por ejemplo hablar de un Paganismo contemporáneo o de nuevos seguidores de los viejos Cultos precristianos, incluso por haberlo, de un Neopaganismo paralelo en tanto RELIGIOSO, POLITEÍSTA y NUEVO, prefieren guiarse por la directriz cristiana del totum revolutum y el desarraigo histórico, negando incluso su religiosidad, una forma de despreciar sus creencias y vanagloriarse de eliminar presuntamente un modelo religioso (Politeísmo) perseguido durante siglos, que tuvo quién se lo “comprase” en la (pseudo)neoenciclopedia Wikipedia y en lerdos neorevisionistas, que van de neopaganólogos por las Redes.

Y los peores, son aquellos que se describen como creyentes pero que no pasan de ciberpaganos, incapaces de practicar estas creencias más allá de la batería de su Android… o de su IPad si tienen buen “caché”. Sí, simples postulantes del “postureo” de Red Social, de selfis con árbol de fondo que lo más cerca que han estado de un auténtico rito pagano, es a un “click”.

Centrándonos en la (pseudo)neoenciclopedia Wikipedia, lo primero que dicen en su entrada NEOPAGANISMO, es que es el “conjunto de movimientos espirituales modernos basados en creencias tradicionales antiguas.”*. Un comentario, mejor una opinión pero nunca una descripción, que no es veraz porque se obcecan en incluir al Paganismo contemporáneo, mezclan confesiones religiosas con movimientos espirituales y ocultan la religiosidad de estos Cultos tildándolos de espiritualidades.

La Religión, es inherente al Paganismo, y sólo por eso el enunciado es tendencioso, una declaración de intenciones que distorsiona el paganismo contemporáneo, presentándolo como neopaganismo (sin arraigo ni pasado) y por lo común ajeno a la religión (espiritualidad). Sin embargo, la Religión, es el resultado de compilar, ordenar y reglar las creencias y prácticas comunes, y la Espiritualidad, es una consecuencia íntima de la percepción de lo trascendente. Ergo, se puede ser espiritual sin ser religioso, pero no se puede ser religioso sin ser espiritual. Ahí, está la trampa.

Así, los neorevisionistas enseñan que un pagano actual no tiene por qué ser religioso, y que si lo es, no deja de ser neopagano. Una estrategia de desarraigo y orfandad cultual que cumple con las directrices cristianas que dirigen la opinión de estas pseudofuentes, como vamos a leer a continuación. Seguido del enunciado anterior, precisan:

“El neopaganismo es el conjunto de movimientos espirituales modernos inspirados en diversas formas de religiosidad politeísta anteriores al cristianismo, a menudo emparejado con una interpretación religiosa de la ecología moderna. Este movimiento puede dividirse en cuatro grandes ámbitos: la brujería tradicional, la wicca y tradiciones derivadas, los sincretismos y, finalmente, diversos tipos de reconstruccionismo neopagano. […]”

Repetimos, si hablásemos de Neopaganismo, poco tendríamos que decir, pero al meter a las religiones precristianas en el mismo saco e intentar desnaturalizarlas, nos obliga a marcar y explicar las diferencias. Matices, que empiezan por recordar que las religiones PA-GA-NAS son eso, RE-LI-GIO-NES, y no movimientos espirituales. De hecho, muchos Cultos ya están reconocidos legalmente como religiones, ¿quiénes son, pues, estos (pseudo)neowikipedistas, para negar un reconocimiento que hasta los propios Estados les han dado?

Además, los Cultos paganos contemporáneos no se “inspiran” en religiones precristianas, son la consecuencia y el testimonio vivo de las mismas. En efecto, son religiones, son previas al Cristianismo y CONTINÚAN las creencias y prácticas de los Viejos Cultos. Los Cultos Neopaganos, son nuevas religiones que se inspiran en formas religiosas paganas o crean otras nuevas de sesgo pagano. Por eso, neopagana es la corriente religiosa que se inspira en religiones paganas, para crear una NUEVA RELIGIÓN, pero no la religión que PROSIGUE con las prácticas de Cultos antiguos, como el Asatrú, el Druidismo o la Wicca, pues éstas son sin duda paganas.

Abundando en los tópicos y estereotipos, que han regado las Redes Sociales de malos artículos, señala como ejemplo de Neopaganismo a las religiones paganas, llegando al extremo, como leeremos más adelante, de mezclarlas y confundirlas con movimientos que por no ser religiosos no podrían ser ni neopaganos, como las diferentes prácticas hechiceriles que llama y mal, “Brujería Tradicional”.

Sobra decir, que la división artificiosa que hace de lo que entiende por Neopaganismo, en cuatro ámbitos, es falaz y está llena de contradicciones. Por ejemplo, lo que llama Brujería Tradicional, no es religiosa, tampoco brujería ni tradicional. La Wicca, no es neopagana y sus tradiciones derivadas son wiccanas, o no son tradiciones. Esto de diferenciar wicca de brujería (witchcraft), sólo tiene una respuesta: La traducción literal de Brujería Tradicional, es ‘la práctica tradicional de la Wicca’. Todo lo demás, es mentir. Punto.

Y por cierto, un movimiento nuevo y por lo tanto diferente, no puede reconstruirse, sino CREARSE. O sea, que asimilar los prefijos neo– (‘nuevo’, de neopagano) y re– (‘volver a’, de reconstruir), es lo propio de quien intenta ACULTURIZARNOS (de a-, ‘sin’, privar de cultura), prefijo griego que tiene su semejante latino en i-/in– (como en ilógico, irracional, irrespetuoso, irrelevante, imbécil…), calificativos que describen a la perfección esta entrada.

Sobre la Wicca, que dice es neopagana, apenas da algún dato cierto, y como sería diluir el tema hacerlo ahora, nos quedamos con que mantiene la absurda idea, que Gardner inventó lo que está documentado existe miles de años antes que naciese. Por buscar un símil: si alguien dijese que un cura ha inventado el BAUTISMO, porque bautiza, sería tan cierto como decir que quien lo crea es el primer idiota, por creerlo… y todos sabemos que la idiotez no es de ahora, que es una cualidad humana tan antigua como abundante. Dicho esto, recordemos que Gardner jamás dijo fundar la Wicca, sino haber sido iniciado en la Vieja Religión, llamada Brujería, que oh justicia poética, es decir estar iniciado en ‘la práctica de la Wicca’ (witchcraft, wicce-cræfte).

Acusar (…) a Gardner de wiccano, fue tratar de despreciar su corriente por atreverse a defender que la Brujería es una religión, haciendo de su afirmación una “blasfemia moderna”. Y todo, sin ser conscientes que como demostraría el tiempo, será el mismo término el que avale la veracidad de su testimonio. En todo caso, la pésima referencia que está entrada hace de la Brujería Tradicional, merece más de atención. Dice:

“Algunas tradiciones de brujería a menudo se autodenominan brujería tradicional para indicar que difieren de la Wicca y no comparten orígenes históricos con la misma. […]”

Para que una corriente brujeril sea tradicional, debe existir una tradición que la respalde ¿no? ¿y qué tradición acumula, una religión NUEVA?

Como imitan una enciclopedia -sin serlo-, aclaremos: si brujería significa ‘la práctica de la Wicca’, no hay brujería, tradicional o moderna, que no sea wiccana. Su afirmación, está plagada de contradicciones. Decir, que hay tradiciones que practican la wicca tradicional, para diferenciarse de la Wicca, y que haya prácticas tradicionales de la wicca que no comparten orígenes históricos con la Wicca, es profundamente estúpido. Y cuando empieza a dar razones, lo remata:

“La brujería tradicional, cuando no se refiere a las tradiciones específicas (Clan de Tubal Caín, Cultus Sabbati, Anderson Feri) es un término que incluye diversas tradiciones de la brujería – algunas basadas en la «cultura» (spaecrafte, seidr, brujería latinoamericana, streghoneria) y otras basadas en la práctica (hedgewitchery, greenwitchery, kitchenwitchery). Por último, otras son tradiciones únicas y personales para el individuo.”

Si ya es anormal, llamar brujería tradicional a grupos y cultos que no son wiccanos, peor es decirlo de las que no son religiones, siguen fórmulas del Ocultismo decimonónico, tienen creencias cabalísticas y judeocristianas y ninguna es anterior a Gardner, a quien le suponen fundador de la Wicca. Vamos, decir que la Wica Gardneriana es neopagana, porque no existía antes de Gardner, se fundó en los años 50 del siglo pasado y toma préstamos de la Magia ceremonial y de la Cábala, tiene cuajo. Me explico.

Clan de Tubal Caín, Cultus Sabbati y Anderson Feri, SON FRATERNIDADES CONTEMPORÁNEAS, o sea, que las crearon sus respectivos fundadores en el s. XX. Robert Cochrane (1931-1966), fundó el Clan de Tubal Caín; Andrew D. Chumbley (1967-2004), fundó el Cultus Sabbati; Víctor Anderson (1917-2001) y Cora Anderson (1915-2008) fundaron el Culto Anderson Feri.

Clan de Tubal Caín, Cultus Sabbati y Anderson Feri, SON POSTERIORES A QUE GARDNER FUNDASE SU COVEN, o sea, que fueron creados después que Gardner visibilizase la Wicca. Cochrane, fundó el Clan de Tubal Caín a principios de los años 60 del siglo pasado; Chumbley, fundó el Cultus Sabbati a finales de los años 80 y principios de los 90 del siglo pasado; y los Anderson, fundaron el Culto Anderson Feri en la década de los años 60 del siglo pasado, inspirándose en la obra de Gardner, dijeron.

Clan de Tubal Caín, Cultus Sabbati y Anderson Feri, SON CREACIONES ECLÉCTICAS, o sea, que mezclan creencias y prácticas de diferentes culturas con otras nuevas e ideadas por sus fundadores. Para no alargarnos innecesariamente, pues ya tratamos en otros artículos estas fraternidades, vamos a dar un solo ejemplo:

El CULTUS SABBATI, se crea a partir de mezclar hechicería, cábala, judaísmo, tantra, cristianismo, satanismo, magia ceremonial, sufismo… Chumbley, miembro de la OTO, incorporó ritos de esa Orden (Zos Kia Cultus). Adoran a la Lilith judaizada, al Lucifer de la Vulgata, al Satán cristiano y al Caín veterotestamentario. A éste último, le llaman “Primogénito del linaje de los brujos”, “aquel que recibió la Marca de la Bestia sobre su frente”, etc., pero, mejor leer a Chumbley en una entrevista para THE CAULDRON, responder a por qué introducen en la Brujería Tradicional Británica a Caín y Lilith. Chumbley, además, dijo estar iniciado en la brujería rural inglesa, pero no pudo confirmarlo. Sus ritos, explica, se adaptan, modifican o crean a gusto de cada uno… o sea, un sistema moderno y ecléctico, de corte iniciático, que no sigue ningún patrón precristiano europeo, pero que responde a un movimiento espiritual herético moderno. En XOANON (editora de Cultus Sabbati), pueden leerse estos detalles.

¿Y qué tenemos? Tenemos, a una persona que dijo haber sido iniciado en un coven, del que no hay constancia, ¿nos suena? que estuvo en la OTO y usó parte de su ritual, ¿nos suena? y que de la hechicería rural y tradiciones del folclore local, construye una fraternidad iniciática con aportaciones de diferentes filosofías, mitos judeocristianos y préstamos esotéricos modernos, ¿nos suena? pero ¡oh sorpresa! No se trata de Gardner, sino de Chumbley, ni de la Wicca, sino del Cultus Sabbati. Esto mismo, puede aplicarse al resto de grupos mencionados.

El Clan de Tubal Caín, Cultus Sabbati y Anderson Feri, están tan alejados de lo que es Tradicional, como lo que llaman “hedgewitchery”, “greenwitchery”, “kitchenwitchery” y el resto de propuestas modernas, a cada cual más extravagante, pero todas ellas, sin duda, en lo que entienden como “espiritualidades”.

Puesto que no se trata de comparar entre religiones, no corregiremos los errores y datos falsos que da. Pero es procedente leer qué dice del Reconstruccionismo:

“Se denominan «reconstruccionismos» aquellas formas de neopaganismo que aspiran a una recuperación de religiones antiguas de la humanidad, particularmente las de Europa, Oriente Medio y Egipto. Destacan principalmente Asatrú (reconstruccionismo nórdico o germánico), el politeísmo helénico, la religión romana, el druidismo (celta), la mitología guanche en las Islas Canarias (España), las religiones precristianas de los países bálticos como la Romuva (Lituania) o Dievturība (Letonia),el tengrismo (monoteísmo húngaro-altaico) y distintas formas de neochamanismo, así como, en menor medida, los cultos a Mitra y a deidades egipcias de la época faraónica.

Los seguidores de cada uno de los distintos reconstruccionismos suelen reunirse (por lo general de manera separada) en grandes festivales anuales donde se visten de acuerdo a la época histórica que intentan revivir y realizan distintos rituales inspirados en aquellas tradiciones, aunque suelen evitar los aspectos más crueles y sangrientos de las mismas, como los sacrificios […]”.

Como en los anteriores enunciados de esta entrada, equivoca las razones, los datos e incluso el planteamiento. Si un Culto, tiene la cualidad de ser reconstruccionista, es porque contempla reconstruirse, no porque sea de nueva creación. Y de hecho, dice que lo son porque “aspiran a una recuperación de religiones antiguas de la humanidad”. Pero, para continuar practicando sus creencias, no para crear otras nuevas y diferentes, a no ser que NUEVO (neo), ahora signifique ARCAICO. No se puede “recuperar”, lo que por nuevo no se haya perdido. Llamar neopaganas, a las religiones que están reconstruyendo SUS propios Cultos para practicarlos acorde a las fórmulas originales, es como llamar neocristianas a las iglesias evangélicas, por tratar de reconstruir el espíritu cristiano primitivo -con más pena que gloria, todo sea dicho-.

Algunos de los Cultos religiosos que enumera (Asatrú, Druidismo, Wicca, etc.), sin lugar a dudas que son paganos en tanto que precristianos, politeístas e idolátricos, pero es curioso leer entre aquellos que considera reconstruccionistas, presencias y ausencias cuestionables que demuestra un sentido ideológico y no académico, incluso FÓBICO.

Entre las presencias, destacamos la Romuva, religión pagana báltico-lituana que como es lógico AQUÍ hacen moderna, neopagana, porque le apetece al escriba de turno. Por supuesto que, como el resto, es un Culto reconstruccionista que debe considerarse pagano, y hasta quienes la definen mal, lo explican bien, quizá por no estar tan idiotizados por la estrategia Cristiana de confusionismo y ambigüedad:

“Romuva, también conocida como Ruomuva o Romové, es una religión considerada, primero, como una restauración moderna de la religión étnica tradicional de los pueblos bálticos. En este sentido, la Romuva busca revivir todas aquellas prácticas antiguas tradicionales religiosas de los lituanos, previo a la instalación del cristianismo, período que fue conocido como “cristianización” hacia el año 1387 en esta zona del mundo.” 

De las ausencias entre los Cultos reconstruccionistas, mencionar a la Wicca. Y no será -que es-, porque Wicca Celtíbera, por ejemplo, sea Reconstruccionista Celta (celtíbera), sino porque toda la Wicca lo ha de ser en sí misma. Por eso, Eleanor Bone (Suma Sacerdotisa de la Wica Gardneriana) diría en la revista LIFE, en 1964:

“Para encontrar el origen de la brujería debemos retroceder un largo camino en el tiempo, miles de años antes del cristianismo, de vuelta a la antigua religión; una religión pagana. Preguntas si somos paganos, y la respuesta es: «¡Sí, lo somos!»… Los wiccan eran el sacerdocio de la antigua religión que adoraba al dios solar y la diosa lunar. […]” 

¿Seguro que esto es lo que diría un neopagano? Una cosa parece clara, sólo quien está convencido que es PAGANO y hace de la reconstrucción del Culto una virtud de su Tradición, puede decir estas palabras. Si tras leer esta afirmación, hay quien siga poniendo en duda que el sentido de la Wicca no ha dejado de ser reconstruccionista y pagano, es que no quiere enterarse. De hecho, fue el mismo intento de Gardner por reconstruir con mayor o peor fortuna el Culto, en lo que entendía que faltaba y con lo que creía que lo “remendaría” mejor, lo que suscitó su mayor descrédito y etiquetar a la Wicca con los adjetivos más despreciables. Por lo tanto, negar la cualidad pagana y reconstruccionista de la Wicca, es un error más en una cadena interminable de errores.

Porque la Wicca es pagana y reconstruccionista, es que Doreen Valiente, otra Suma Sacerdotisa de Gardner dijese, también en 1964,

“Valiente afirmó que la WRA estaba ahora contactando con covens que no tenían ninguna conexión con Gerald Gardner. Esto indicaba, dijo, que el «Viejo oficio» había sobrevivido en toda Gran Bretaña en un estado fragmentado. Debido a la Persecución histórica, cada uno tenía su propia versión de la brujería e iba a ser un proyecto emocionante comparar las diferentes tradiciones y ver cómo se complementaban y diferían entre sí. […]” 

O sea, que en 1964, Valiente también era consciente que la Wicca no nacía con Gardner, que había más tradiciones que, como ellos, seguían la Vieja Religión, y que sería un proyecto emocionante, comparar entre Tradiciones y ver qué había en común, valorando las fuentes y por lo tanto reconstruyendo el pasado común. Pero, ¡oh herejía! Esto, significaba aceptar una Wicca reconstruccionista, reconocerla ese pasado y sobre todo la historia que el cristianismo y ciertos neorevisionistas están obsesionados en ocultar.

Y, que quien escribe estas cosas no sabe lo que dice o peor, miente descaradamente, queda demostrado cuando acaba diciendo:

“Los seguidores de cada uno de los distintos reconstruccionismos suelen reunirse (por lo general de manera separada) en grandes festivales anuales donde se visten de acuerdo a la época histórica que intentan revivir y realizan distintos rituales inspirados en aquellas tradiciones, aunque suelen evitar los aspectos más crueles y sangrientos de las mismas, como los sacrificios. […]”

Ignora, que los reconstruccionistas, no “intentan” revivir el pasado, sino que viven conforme a sus creencias y tradiciones, que son las de sus Ancestros, una menudencia, que los neorevisionistas no tienen en cuenta. Celebrar los Festivales, es una forma de hacerlo.

Lo de vestirse “de acuerdo a la época histórica que intentan revivir…”, es ridículo ¿Hemos de creer, que los cristianos celebran la Semana Santa para revivir la época que murió Jesús, vistiendo a sus sacerdotes de época para recrear aquél tiempo?

Ridículo, porque no “intentan”, sino que consiguen revivir EL ACTO, NO EL TIEMPO. Sería, como decir que un obispo lleva Mitra durante la Misa de Navidad porque trata de revivir la Edad Media y no el nacimiento de su Dios, evitando los aspectos más crueles y sangrientos de la Iglesia Católica, como los Autos de Fé y las conversiones forzosas.

Ridículo, porque el hábito, no hace al monje, pero lo distingue… entre los fieles y frente a terceros, sin olvidar que sirve para retener en todo momento qué representa, y revestirse con los símbolos y elementos sagrados que facilita ejercer su función. Por cierto, oficiar desnudos también es una forma de investirse de lo sagrado, lo que sabrían leyendo un poquito más de lo que escriben con tanta torpeza.

Quien lea esta entrada, verá la fijación de la (pseudo)neoenciclopedia Wikipedia por (contra) la Wicca. Es una obsesión cansina, señalarla siempre y con cualquier excusa. Por eso y para no alejarnos de nuestro análisis, pasaremos de puntillas sobre casi todo lo que dice, cuando elucubra de cosmología, liturgia, etc., de lo que empieza llamando Neopaganismo y luego acaba “acusando” de Wicca. Estaría bien, hacer un recuento de las veces que se ocupa de cualquier religión que llama neopagana, y lo que tarda en hablar CONTRA la Wicca. Por ejemplo, sobre la Liturgia, dice:

“Los sistemas rituales neopaganos se diferencian de una tradición a otra. Existe todavía un hilo conductor que pasa a través del contacto con la naturaleza. La mayor parte de los ritos envuelven la presencia de elementos y símbolos naturales. Otros se relacionan con el pentáculo… Los neopaganos creen que el mejor modo de estar en contacto con los dioses es vivir y meditar en el universo que ellos llenan.”

Al margen de perogrulladas, es llamativo que uno de los símbolos rituales que más se han relacionado con la Wicca y que luego explicita, el Pentáculo, se diga que se diferencia de otros ritos que no detalla en los que -dice- usan “símbolos naturales”. Si ya es sospechoso, que no indique a qué símbolos se refiere, lo es más separar el pentáculo de los “símbolos naturales” ¿En qué ritos o en comparación con cuáles, no es “natural” el pentáculo? Porque en este intento fallido de enciclopedia seria, dice precisamente lo contrario:

“Estrella Pentagonal. En ciencia, el pentagrama es una interesante figura que grafica varias leyes matemáticas: guarda una estrecha relación con el número áureo, la sucesión de Fibonacci, la espiral logarítmica, fractales y logaritmos, entre otros, y por ello con muchos fenómenos de la naturaleza.” 

Vamos, que digo una cosa y la contraria y seguro que no me equivoco. En todo caso, y teniendo en cuenta la disposición pentacular de santuarios y templos precristianos, el uso de este símbolo entre los pitagóricos y plasmar el Cosmos atendiendo a sus formas, o su propia presencia en la Naturaleza, hacen del comentario una prueba más de la ignorancia o malicia de sus autores y de la plataforma que ampara estos BODRIOS.

Si con la liturgia, mantiene y con nota el imprimatur del artículo, cuando llega al apartado Magia y Esoterismo no podemos esperar menos que estar a la “bajura” del resto:

“Algunas corrientes neopaganas, pero en particular la wicca, adoptan la magia como elemento de la doctrina. Las prácticas mágicas no son todavía mayoritarias, pero se utilizan como elemento ritual que canaliza la energía cósmica para favorecer el contacto con las fuerzas divinas. La práctica mágica puede utilizarse para guarecerse, como en el chamanismo. En la wicca la magia está sujeta a la «ley de tres», por la cual los practicantes deben abstenerse de hacer mal con la magia porque recibirán el mal multiplicado por tres. En la brujería tradicional ese sentido ético no está presente.

En otras religiones en las cuales está incluido el concepto de magia, como el druidismo, es considerada únicamente como algo de los órdenes sacerdotales de los druidas; paralelamente, la mayor parte de las religiones neopaganas, en particular el kemetismo, dodecateísmo romanismo y Ásatrú no consideran la magia como parte central de su propia doctrina y, por lo tanto, sus fieles la practican de forma personal al margen de los rituales colectivos.”

Bien, la primera mentira, como decíamos, es sostener que la Wicca sea una corriente neopagana, por inexacto y falaz. Inexacto, porque ignora el término religión, y falaz, por ubicarla en el Neopaganismo. Dicho esto, para hablar de Magia lo primero que hay que hacer es haberla estudiado, que no lo han hecho. Pero, aún en el caso de referirse a la interpretación cristiana de la palabra (peyorativa y destructiva), son muchos los errores.

Entendiendo magia, como el conjunto de técnicas rituales para actuar en el cosmos (κóσμος), en el orden o el estado de las cosas, en la naturaleza y lo sagrado, es obvio que TODAS las religiones practican la Magia. Y, entendiendo magia como la práctica propia del mago (sacerdote), su vinculación religiosa no ofrece dudas; y si las hay, vale con recurrir a las prácticas cristianas, que nunca vinculan con la Magia, y contrastarlo. Esto es, ¿las ROGATIVAS, TÉMPORAS y EXCONJURACIONES, no son prácticas mágicas, pero conjurar la lluvia o procurarse mejores cosechas (abundancia) si lo son? ¿no hablamos, exactamente de lo mismo?

Para situarnos, Exconjurar (Arag., esconchurar), supone conjurar con invocaciones e imprecaciones las tormentas, y sobre las Cuatro Témporas, copia cristiana de las FERIÆ (Messis, Vindemiales y Sementivæ), leemos:

“Ciertas festividades rurales antiquísimas habían entrado en el calendario litúrgico del paganismo romano, y cada año se celebraban las feriae messis después de la cosecha de los cereales, las feriae vindemiales en septiembre, después de la vendimia, y las feriae sementivae en diciembre, durante la siembra. De vez en cuando los pontifices establecían las fechas en que debían celebrarse las feriae. Es fácil imaginar la amplia participación popular en estas celebraciones rurales, fiestas de la naturaleza, cuya feracidad aseguraba la existencia del hombre; alegría estacional y, al mismo tiempo, acción de gracias que tenían por objeto atraer sobre los frutos de la tierra las bendiciones del cielo. Todo el mundo campesino estaba directamente interesado e implicado en este tipo de ritos propiciatorios, y ninguna reflexión doctrinal, ninguna norma legislativa habría tenido fuerza para modificarlos y mucho menos para abolirlos por completo…

Ceremonias análogas se desarrollaron muy pronto también en el cristianismo: las Rogativas y las Cuatro Témporas tienen origen y explicación en un mundo agrícola-pastoril y, a pesar del renovado espíritu que las anima, enlazan con los precedentes rituales del mundo romano. Acerca del origen de la disciplina penitencial de las Cuatro Témporas, los liturgistas han formulado varias hipótesis e intentado explicaciones diversas. La más acreditada sigue siendo la de Morin, según la cual el papa Calixto, como refiere el Liber Pontificalis, las habría instituido en sustitución de análogas festividades paganas. En vez de los viejos ritos campesinos de las fiestas messis, vindemiales y sementivae, estableció un ayuno con las oraciones correspondientes, que debía observarse el sábado tres veces al año:

Hic constituit ieiunium die sabathi ter in anno fieri, frumenti, vini et olei prophetiam.

Luego, para completar el ciclo anual del ayuno estacional, se añadió el cuarto periodo de las Témporas de primavera. A través de la psicología de la penitencia y de la práctica del ayuno se trataba de interiorizar y revestir de devoción y compostura un rito que demasiado fácilmente habría reclamado la festiva tumultuosidad de las feriae vindemiales o las de los ambarvalia romanos.” 

Ritos mágicos, pues, los tienen TODAS las religiones, incluso las abrahámicas, y no es característico del Neopaganismo o de la Wicca en particular. Y siendo cierto, que la práctica mágica se utiliza “… como elemento ritual que canaliza la energía cósmica para favorecer el contacto con las fuerzas divinas […]”, no sólo ocurre en la Wicca como religión pagana, y no sólo en las religiones neopaganas.

Y en cuanto a la “Ley del Tres”, decir que: “En la brujería tradicional ese sentido ético no está presente…”, es falso.

Para no demorarnos: no creemos estar revelando ningún secreto, recordando la Ley del Retorno, o dicho más moderno: Efecto bumerán, ahora un principio de la Ecología Emocional (Mercè Conangla y Jaume Soler, 2002), presente en muchas doctrinas y filosofías de todo el mundo, menos, según parece, en esa forma de hechicería que llaman “brujería tradicional”. Dirá Eric Fronm: “Todo lo que haces a los demás, también te lo haces a ti mismo”. Sabiendo esto, es de suponer que el problema no esté en un efecto rebote que es bien conocido. El conflicto, estaría en admitir que la vida nos devuelva “multiplicado por tres” lo que hacemos, o que se vincule solo con los actos “mágicos”. Pero, quien escribe, ¿conoce la Cultura Indoeuropea? Porque, es de lo que se trata.

“En la mentalidad mágico-religiosa de los pueblos indoeuropeos la triplicidad constituye uno de sus rasgos más destacados… El número tres en la literatura vernácula irlandesa y galesa, así como en la iconografía y el simbolismo celtas, alcanzó una gran importancia porque entendían que al triplicar un acto o una imagen se potenciaba la capacidad y el efecto de la idea depositada en ellos. […]» 

En la mentalidad celta, una persona podía ser castigada o premiada multiplicando POR TRES la repercusión de sus actos, como un aumentativo de intensidad:

«… Para GREEN en la polisemia de la triplicidad del cuerno cabe la intensificación de un potente símbolo de fertilidad o de destrucción, pues –pars pro toto- “la multiplicación de la esencia de la criatura y de su fuerza es una via natural para aumentar su potencia sexual”. […]» 

En cuanto a que la Ley del Tres, sea un dogma wiccano enfocado a los actos rituales, mejor que nosotros, leamos lo que dijo Valiente al respecto en 1990, en una entrevista de Michael Thorn para FIREHEART MAGAZINE:

«No creo en eso del triple retorno, la verdad. Siempre he sido muy escéptica al respecto, pero ahora soy incluso más escéptica de lo que solía ser. Cuanto más mayor me hago, más escéptica me vuelvo. No creo en muchas cosas en las que solía creer… Creo que el viejo Gerald lo ingenió para uno de sus rituales y la gente se lo tomó de forma demasiado literal. Personalmente, siempre he sido bastante escéptica sobre ella porque no parece tener sentido. No veo por qué tiene que haber una ley del karma específica para las brujas y otra para el resto del mundo […].» 

Sobre ética y moral, se limita a hacer hincapié en la Naturaleza y su relación con el Neopaganismo, diciendo que “Todas las religiones neopaganas tienen en común un sentido ético similar, el cual pone el acento sobre el respeto a la naturaleza.” Porque, claro, ya se sabe que sólo las religiones neopaganas ponen el acento en el respeto de la Naturaleza; bueno, las paganas también, aunque sería un detalle por su parte explicar cuáles son las religiones paganas actuales…

“El neopaganismo ofrece, por tanto, una significativa ética social, que permite al ser humano vivir respetando totalmente al prójimo, este respeto se traduce en respeto a cualquier diferencia. La enseñanza pagana se fundamenta, por tanto, en preceptos que pueden ser fácilmente traducidos como reglas de vida cotidiana en particular en el campo ecológico y en el campo social; simples reglas éticas de aproximación a la cotidianidad que permite la realización de una armonía que subraya el legado del ser humano con el mundo, con el prójimo y con la tierra.”

¿Pero, no dicen que no hay religión pagana que no sea neopagana y si acaso “inspirada” por alguna religión pagana ya desaparecida? Y si solo hay religiones neopaganas, ¿por qué dice que la enseñanza pagana se “fundamenta”, en presente, en vez de decir que la enseñanza pagana se fundamentaba o se fundamentó…? En fin.

El colmo, si es que puede destacarse un esperpento final entre tantas majaderías, está en el apartado dedicado a la Simbología. Allí, leeremos cómo dice justamente lo contrario de lo que contaba unos párrafos atrás (“La mayor parte de los ritos envuelven la presencia de elementos y símbolos naturales. Otros se relacionan con el pentáculo…”). Mezcla, confunde y esparce su desconocimiento en todas direcciones, y con un donde dije digo, digo Diego de manual, explica:

“Las religiones neopaganas siempre han sido ricas en símbolos de mucha variedad y de orígenes pasados. Hoy es predominante un símbolo, el cual proviene de la religión grecorromana, el pentáculo que puede ser utilizado por todas las variedades del neopaganismo porque tiene mucha simbología.

… representa, de hecho, una suerte de reproducciones esquematizadas de los procesos vitales que rigen el universo y, por tanto, el cosmos. […]

El pentáculo es muy utilizado en la liturgia de muchas de las corrientes paganas. Generalmente es puesto en los altares, siendo considerado un símbolo en grado de evocar las fuerzas misteriosas del cosmos, pero aunque generalmente es utilizado como amuleto para colgar del cuello, en particular por el clero (como la cruz de los cristianos, que se ponen los sacerdotes, monjes y fieles).”

Daría para muchas más páginas, poner todos los ejemplos que demuestran por qué es mentira, que el pentáculo venga de las religiones grecorromanas, que esté vinculado sólo con la Wicca o que sea ajeno al Culto Natural, pero como daría para desmentir una y mil veces todas las incongruencias y falsedades de este “neoentrada”. Así, que lo dejaremos para mejor ocasión.

Sí es necesario, para cerrar este trabajo, repetir que lo que la (pseudo)neoenciclopedia Wikipedia llama Neopaganismo, no lo es, que lo pagano no es nuevo, que lo nuevo no es tradicional y que lo único cierto de una mentira, por muy convincente que sea, por mucho que se repita y por más que se crea, es que no es verdad.