domingo, 16 de janeiro de 2022

A Conjuração de Espíritos Planetários

Este é um método de Magia Cerimonial que pode ser utilizado nas evocações dos Espíritos dos Planetas (arcanjos, espíritos olímpicos etc.) Espíritos ou Anjos do Ar assim como suas forças Elementais. 


As Hierarquias Espirituais 

Segundo a Tradição Oculta Ocidental os espíritos se dividem em várias classes, sendo portanto diferentes as suas aptidões e categorias. Existem os espíritos celestes, os aéreos, os terrestres e os infernais. Além disso cada espírito reúne qualidades e acepções distintas. Os chamados celestes residem no céu, os aéreos no espaço, os terrestres na terra e os infernais em seus refúgios. 

O Espírito Supremo ou Criador é o que a tudo rege e governa, e a Ele estão sujeitas, de um modo absoluto, todas as coisas criadas, tanto materiais como espirituais. Assim cada espírito cumpre sua missão especial no Universo e todos, em geral, rendem culto e obediência ao Espírito Supremo do Universo, também conhecido como Grande Arquiteto do Universo (GADU).

Na tradição oculta ocidental, cada planeta possui um corpo físico ou somático, um astrosoma (ou corpo astral) e uma alma. A teoria é que, se os humanos têm alma, certamente os planetas do reino celestial são muito mais espirituais. Isso ocorre porque eles existem mais perto de Deus e são construídos de uma matéria muito mais rarefeita. Era, portanto, lógico para os ocultistas que os planetas também possuíssem suas próprias almas. Como os seres humanos os planetas possuem um bom e um mau gênio ou seja uma inteligência (aspecto luminoso da alma), e um espírito (aspecto sombrio da alma) que são responsáveis ​​pelas influências malignas e benéficas (respectivamente) de cada planeta.

De acordo com o ocultista G. O. Mebes, além de seus corpos visíveis no plano físico, os planetas possuem aspectos energéticos positivos e negativos no plano astral. Os aspectos positivos são a síntese dos impulsos espirituais e as aspirações a favor do desenvolvimento do planeta em questão. Já os aspectos negativos são a oposição que essas aspirações encontradas no plano mental, devido à lei do karma. 

Assim é certo que cada um dos 7 "planetas" utilizados nas práticas mágicas (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno) possui o seu lado energético positivo e o seu lado negativo e que, em cada um deles, os aspectos de determinado lado são mais ou menos acentuados.

A Alta Magia Planetária é justamente a ciência de estabelecer uma comunicação com os Espíritos dos Planetas (Espíritos Olímpicos, Arcanjos, Deuses Planetários etc) desde os mais elevados, também conhecidos como Elohim ou deuses, que são os espíritos que governam os corpos celestes até os espíritos terrestres ou elementais que são os últimos receptáculos suprafísicos da força criativa universal que movimenta toda a vida. Os espíritos elementais deslizam através da contraparte etérica do Plano de Malkuth, e estão relacionados aos quatro elementos filosóficos (Terra, Água, Ar e Fogo). 

Desta forma os rituais aqui descritos são mais indicados para a comunicação com espíritos celestes, aéreos e terrestres. Nessa ciência não trabalhamos com os espíritos infernais ou demônios goéticos, chamados de "espíritos impuros" ou "espíritos malignos", como na literatura rabínica. Os magos cabalistas sabiam distinguir entre os espíritos que emanaram dos Reinos da Força Desequilibrada, e foram atribuídos a funções definidas nos “palácios da impureza” ou Kliphoth, e os demônios (daemons) que pairam no ar. Segundo fontes posteriores, os últimos preenchem com seus hospedeiros o espaço do céu entre a terra e a esfera da lua. 

Um iniciado (em sua compreensão da natureza invisível) nunca fala do Inferno teológico e nem determina que demônios habitam paisagens de “fogo e danação eterna” e sim liga suas existências como pertencente ao último grau dos poderes da emanação do "lado esquerdo" (o Sitra Ahra, "outro lado", do Zohar) que corresponde as Dez Sefiroth Inversas ou Malignas da Árvore da Vida Cabalística. 

Reza o Grande Grimório que Lúcifer, imperador; Belzebu, príncipe e Astaroth, grão-duque são os principais espíritos do Reino Infernal. A grafia de Belzebu reflete a identificação de Belzebu com Baal-Zebub, deus de Ekron (no Novo Testamento) demônios intermediários e menores têm pouca personalidade ou poder independente, mas estão subordinados aos três anteriores que formam a Trindade Infernal ou Maligna que é o contrário da Trindade Santa dos Céus.  


Devo sempre usar o Triângulo da Arte?

Existe um outro método de evocação de Espíritos do Ar onde o Triângulo de Manifestação pode ser dispensado. É o que dizem os feiticeiros dos antigos grimórios. 

Neste método os espíritos evocados surgem no exterior do círculo mágico e não podem ultrapassá-lo, devido a barreira protetora invisível dos nomes divinos nele inscritos. Acrescentam que se o feiticeiro bater com a vara mágica (baqueta etc) em um dos espíritos (demônios/daemons) que andam ao redor do círculo, cuja aparência apresenta uma multiplicidade variável conforme a fluidez da luz astral, ele é forçado a entrar no interior do círculo mágico e obedecer ao feiticeiro; não readquire a liberdade senão quando lhe dão permissão. Na maioria das vezes o espírito conjurado é um dos Reis (Rex) do Ar. Muitas vezes ele é forçado a posicionar-se à frente do feiticeiro diante do espelho mágico. Outras vezes ele é persuadido através de conjuros e agrados a “entrar e animar” uma imagem talismânica, cristal ou garrafa mágica, cujos símbolos e elementos são atraentes a natureza do espírito conjurado. Entretanto essa é uma das possibilidades, não é todo magista que pode trabalhar com esse método impunemente e nem é todo espírito que pode ser convocado através dele. Tendo em vista que o espírito ao penetrar na esfera de consciência do magista (simbolizada pelo círculo mágico) deixa-o mais exposto, o que pode afetá-lo em sua psique. Na maioria das vezes o magista mantêm os espíritos fora do círculo ou ordena que um deles entre dentro do Triângulo da Arte, onde fica confinado até o final da cerimônia. Assim sendo, o método aqui descrito, só é indicado se o magista que apresenta um certo domínio da arte e da prática da Magia Cerimonial.  


CONJURAÇÃO DOS ESPÍRITOS AÉREOS


(Espíritos do AR)

Trata-se da evocação dos espíritos (entidades) que se conformam aos dias da semana. Portanto não busca conjurar um espírito ou entidade específica mas quaisquer espíritos que deslizam nas correntes astro-etéricas do dia e hora da operação. Em termos técnicos estamos estabelecendo contato com as falanges de espíritos aéreos que os autores medievais davam o nome de “Anjos do Ar”. Os Espíritos do Ar são entidades etéreas que preenchem o espaço do céu entre a terra e a esfera da lua, e que fazem a comunicação entre Malkuth e os espíritos superiores de primeira e segunda hierarquia.

Um autor grimorial escreveu “os espíritos aéreos são bons e maus. Eles podem mostrar qualquer coisa oculta no mundo, capaz de buscar, transportar e fazer qualquer coisa contida nos quatro elementos da terra, ar, água e fogo. Eles podem descobrir os segredos de qualquer pessoa, incluindo Reis e Poderosos”. 

Portanto não busca conjurar um espírito ou entidade específica mas quaisquer espíritos (falanges) que deslizam nas correntes astro-etéricas do dia e hora da operação. Em termos técnicos estamos estabelecendo contato com as falanges de espíritos que os autores medievais davam o nome de “Anjos do Ar”. Trata-se, na verdade de inteligências que se conformam aos dias da semana e que vivem no mundo sublunar ou seja: que preenchem espaço que existe entre a esfera da Lua e a Terra.

Esses espíritos, e sua hierarquia, são paralelos aos do Grimorium Verum. Entretanto em outro grimório intitulado Heptameron, também chamado Elementos Mágicos, eles estão associados, e subordinados, aos regentes angélicos/planetários de cada dia da semana. 

É importante salientar que para todos os efeitos práticos os Espíritos do Ar são indubitavelmente demônios (daemons). Sendo assim os espíritos evocados não devem ser confundidos com os vários anjos mencionados de acordo com os dias da semana. Neste ritual, como todos derivados de Salomão, os anjos são simplesmente usados ​​para ajudar a contê-los, nada mais. Eles se relacionam com a operação real, na medida em que estão entre os meios pelos quais essa evocação é realizada.  


Conselhos de um mago grimorial

Dizem os antigos grimórios que nem sempre os espíritos se encontram disponíveis para atender aos conjuros e invocações dos mortais, e por vezes é necessário repetir-se o chamado, conjurando-os de novo a se apresentarem e obrigando-os, se não atendem, com algum talismã (geralmente o Selo de Salomão) ou amuleto que possua suficiente domínio sobre eles. Caso contrário, quando o espírito não pode comparecer (por algum motivo oculto) ele deve ser persuadido a enviar outro espírito, com habilidade idêntica ao espírito conjurado, para cumprir as determinações do magista sob as mesmas condições já estipuladas. As invocações devem ser feitas sempre em direção aos quatro pontos cardeais do Universo, para que tenham a eficácia necessária, posto ser o modo mais seguro de se acertar o local onde se encontram os espíritos cuja aparição se solicita. Ainda que presumindo que os espíritos possam estar em qualquer ponto do Universo ao se fazer a invocação (evocação etc.), não é demais saber que sua residência normalmente é o Oriente para os espíritos celestes ou superiores, o Norte para os de natureza fria ou telúricos, o Oeste para os aquáticos, e o Sul para os de temperamento de fogo. Por último nunca é demais lembrar que os espíritos superiores dominam sempre os espíritos inferiores e não estes sobre aqueles, porque assim dispôs o Soberano Criador, a quem todos rendem uma obediência absoluta. 

É recomendável que o ambiente onde será realizado o Ritual Evocatório seja propício a esse trabalho e que o magista tenha se preparado no mínimo por três dias, fazendo uma alimentação especial e a seleção de objetos/instrumentos que serão usados. Papus chega a recomendar um regime estritamente vegetariano até nove dias antes da operação e que na véspera e antevéspera da operação, o magista realize uma confissão de suas faltas. É claro que esse processo é bem austero (com influência cristã) e cada magista deve encontrar um meio termo que se encaixe em suas necessidades. Por último devemos lembrar que qualquer ritual evocatório deve ser tratado também como um exorcismo, apenas que neste caso ao invés de banir os espíritos estamos atraindo-os a nossa presença e obediência. 


Adendo: 


Inferno: O conceito do inferno como lugar de fogo e danação eterna vem sofrendo mutações ao longo das idades. Segundo o autor ocultista Kenneth Grant “o inferno é a região que os antigos egípcios chamavam Amenti – o local do Sol Oculto. A palavra Amen significa “o oculto” e ta significa “terra” ou “morada”. Amenta ou Amenti é, assim, o lugar dos espíritos dos mortos; quer dizer mortos para a mente consciente, mas muito vivos para o subconsciente. (...) Os “mortos” são as imagens esquecidas de nossos passados que respondem ao encantamento e ressurgem na carne do presente”. É evidente que nessa passagem Kenneth Grant sugere os níveis atávicos de nosso ser, as lembranças selvagens dos reinos animais,  que parecem inscritos em nossa memória celular ou biograma. O deus egípcio Kephra, na forma de uma divindade com cabeça de besouro, é o “Sol à Meia Noite, o Deus Oculto, ou Sol em Amenti, que ilumina as regiões inferiores. Psicologicamente falando, ele é o “deus” que traz o subconsciente à vida, isto é, desperta os “mortos”. Assim Grand oferece uma explicação psicológica para o conceito do Inferno. Outros autores, de influência espiritualista, sugerem que o Inferno é de fato uma região metafísica localizado no Astral inferior, justamente na dimensão Astralina (ou espiritual) do plano terreno ou abaixo da crosta terrestre. Eles o chamam de Umbral ou, abaixo dele em vibração, o Limbo. 

Mundo Sublunar: Os autores medievais acreditavam que abaixo da Lua está o mundo ou esfera sublunar, um reino ou região do cosmos gerado pela mistura dos quatro elementos (fogo, ar, água e terra), cujas combinações instáveis são responsáveis pela mutabilidade do mundo manifesto. A região sublunar era caracterizada por estar sujeita a mudanças, ao contrário da Lua e do resto das esferas superiores onde a imutabilidade dominava. Assim ele contrasta com o reino supralunar ou celestial, dos planetas e das estrelas fixas, que é composto apenas de um quinto elemento chamado éter. Este quinto elemento não podia ser transformado nos outros quatro, nem alterado de forma alguma, sendo ingenerado e incorruptível. No mundo sublunar (entre a Terra e a Lua) existem Três Reinos: o Reino Animal, o Mineral e o Vegetal, com suas simpatias e correspondências. Conhecê-los facilita o magista na realização de seu trabalho.

Essa divisão do universo em duas regiões, uma inferior sujeita a mudanças e outra superior imutável, acabaria se tornando uma doutrina básica da filosofia e cosmologia medievais.