domingo, 16 de janeiro de 2022

A Quimbanda Nàgô

A Quimbanda Nàgô é uma tradição com muitas famílias. Existe um sistema ou fundamentação de feitiçaria congo-angolano que alimenta todas essas famílias, como um pano de fundo que a todas subjaz, mas elas no entanto têm particularidades próprias que refletem a cultura regional de cada uma.

Algumas famílias de Quimbanda Nàgô têm inclinações filosóficas refinadas, outras não têm quase nenhuma; algumas são orientadas ao autoconhecimento, outras a exclusiva prática de demandas. Isso depende sempre do Sacerdote e de sua formação iniciática, não da corrente efetivamente.

A concepção filosófica e religiosa do Chefe Império Maioral e das deidades que compõem sua trindade mudam de família para família na Quimbanda Nàgô. Nessa diversidade de famílias temos algumas concepções interessantes acerca da trindade infernal que compõe o Chefe Império Maioral:


1. Massofia, Satanás e Ferrabrás;

2. Lúcifer, Ferrabrás e Barrabás;

3. Larrodé, Adônias e Massofia;

4. Lúcifer, Beelzebuth e Barrabás;

5. Em nossa família são Lúcifer, Beelzebuth e Ashtaroth.


A trindade infernal da Quimbanda Nàgô tem sido sincretizada com o que denominamos Exus Primordiais nas diversas famílias, por serem espíritos muito antigos, os primeiros gangas da Quimbanda. Não se trata de um sincretismo homogênio e ele muda de família para família. Exemplo: Lúcifer é sincretizado com Exu Lúcifer ou Exu Rei da Lira; Massofia é sincretizado com Exu Nego Bamba (um preto-velho kimbanda); Ashtaroth é sincretizado com Exu Rei das Sete Encruzilhadas; em nossa família concebemos Ashtaroth como uma força mágica lunar e por causa disso a sincretizamos com Pombagira Rainha das Sete Encruzilhadas.

A visão que nossa família tem do Chefe Império Maioral, o Diabo, é cósmica. Maioral é o Espírito da Matéria. Quando utilizamos esse termo, matéria, vem logo a mente a imagem de mundo material. Mas o mundo material não é uma referência ao planeta Terra, mas todo o cosmos material: os planetas, as estrelas, o espaço. Em Maioral as forças dos Quatro Elementos se encontram concentradas e equilibradas, criando e recriando vida no cosmos. Portanto, Maioral se estende por todo universo material, o manto negro por detrás da engenharia do universo. De igual modo, quando chamamos Maioral de Espírito da Natureza (com n maiúsculo), não se trata da natureza (fauna e flora) do planeta Terra, mas Natureza como sinônimo de matéria cósmica. Na teogonia da Quimbanda Nágô o Chefe Império Maioral comporta as forças cósmicas e materiais do Fogo (Lúcifer), do Sol (Beelzebulth) e da Lua (Ashtaroth) com regentes da operação material e espiritual da alquimia: Solve et Coagula. Maioral é uma força cósmica conectada – e que testemunhou – a criação da vida e o desenvolvimento do cosmos e da consciência humana. Ele é a primeira encruzilhada de fogo de onde nasceram e se desenvolveram os Reinos da Quimbanda.

A Quimbanda Nàgô foi a primeira a eleger a imagem de Baphomet como iconografia hierática do Chefe Império Maioral, bem como a primeira a divulgar seu ponto e bandeira (imagem do topo), encerrando todos os símbolos cósmicos que compõem suas forças.


NOTA:


[1] Como demonstrei no meu texto Os Reinos da Quimbanda, a organização e hierarquia das falanges da Quimbanda foi influenciada pela hierarquia infernal dos grimórios vernaculares modernos, onde geralmente uma trindade de espíritos infernais têm poder e autoridade sobre espíritos menores distribuídos como na hierarquia titularia da nobreza europeia medieval.