domingo, 16 de janeiro de 2022

Caosgnosticismo

Gnosticismo é uma concepção que sincretiza antigas religiões e filosofias cujo fundamento primordial é a redenção das “fagulhas divinas” encarceradas nos corpos densos através da árdua busca pela  sabedoria (gnosis). Nas correntes gnósticas existem diversas formas de entendimento, umas mais radicais e outras menos, todavia, em todas as vertentes ocorre uma Cosmovisão dualista.

Segundo a Filosofia Gnóstica, antes da criação da matéria já existia um Deus Supremo, Inefável, Absoluto, Uno e Inominável (comparado ao Ain Soph). Esse Ser Absoluto cria a partir de si, numa espécie de abstração simbólica de sua natureza inenarrável, um espaço/tempo conceitual  e outros seres de Luz Pura e polaridades distintas. Tais seres são as próprias emanações divinas, portanto, em conjunto com a fonte emanadora formam o Pleroma, ou  a luz que existe “acima” do nosso mundo material.

Figurativamente, seria o “lar” das diversas faces do Uno, onde todos os atributos divinos estariam reunidos. Tais seres progressivamente deram à luz a novos seres e, pelo “erro” ou “pecado” de um dos Aeons (denominado pelos gnósticos como Sophia, que pode ser comparada com a terceira sephira cabalística Binah), nasceu o Demiurgo (Yaldabaoth, "Filho do Caos”),Deus arrogante, Onipontente, Onipresente, Onisciente e Oniquerente, escravizador, chefe dos Arcontes(regentes planetários) e criador do mundo inferior (material) que, consciente da plenitude de seus poderes, tornaria os demais deuses meros escravos de suas vontades e aprisionaria as fagulhas Divinas e Puras em receptáculos densos. Para tais fagulhas retornarem ao encontro celeste deveriam receber as águas da Gnose, ou seja, o conhecimento supremo de Deus.

A ponte de comunicação entre os Demiurgos e o mundo material ocorre através de seus Arcontes. Os Arcontes elegem no plano material seus profetas (padres, pastores, esotéricos, místicos, sacerdotes e sacerdotisas, filósofos e personalidades manipuláveis) que viabilizam a implementação das mentiras e ilusões necessárias, através de religiões e seitas, para a manutenção da ordem demiúrgica. Aos longo das eras, o Demiurgo aparece nas mais variadas culturas com nomes e qualidades similares (Marduk,Oxalá, Rá, Zeus, Odin, Jeová...) por tal motivo encontramos a similaridade entre os arquétipos e suas cosmogonias independente do local físico onde as mesmas ocorreram. Todas as fontes históricas foram escritas pós-advento demiúrgico e seguem as mesmas emissões desde os primórdios. As lendas e mitos que relatam o embate entre as Forças da Luz e as Forças das Trevas foram grosseiramente manipuladas para corroborar com a ideia de um Deus Uno que emitiu faces benevolentes e faces malignas nos caminhos da humanidade e do reino material.

Historicamente, o despertar de consciência nos seres humanos primitivos foi fruto de uma série de insights e visões supostamente divinas motivadas pelo uso de plantas psicoativas em seus rituais . O homem alienado travava contato com as faces demiúrgicas e com seu “Eu” superior em busca de suas origens e seus fins. Dessas alucinações, nasceram os mitos e lendas e a ideia de religião, ou seja, religar-se ao Espírito Eterno e à Imortalidade do “Eu” superior. Essa “Aurora” deu ao homem evolucionista um falso status de “ Imagem e Semelhança de Deus” e todas as “conquistas” desses níveis de consciência prefiguraram novas faculdades aos decendentes. Os conceitos de “bem e mal” nasceram justamente nesse “berço de ilusões”onde os enteógenos eram os cerceadores da busca pela verdade, implementando no consciente mentiras que edificariam a jornada da humanidade. Podemos dizer que quase todas as crenças primitivas que evoluiram em formas de religião são frutos de visões espirituais e “êxtases divinos” catalizados pelo uso de substâncias entorpecentes. Iludido, sem conhecimento, escravo de imagens distorcidas, o homem é o “fantoche perfeito” para a hipnose do Deus Criador e mantenedor do Universo. Sem a Verdade, que manifesta-se como uma chama consumidora, o homem torna-se uma poça de água parada, habitat perfeito para as larvas demiúrgicas.

O “T.Q.M.B.E.P.N” não acredita que os Mitos e Lendas formadores da História do Mundo estejam de acordo com a Verdade. Se “rasgarmos os véus” simbólicos claramente entenderemos que o embate ocorrido entre as Trevas e a Luz Formadora foi a guerra ocorrida entre o Caos e os frutos bastardos gerados a partir de si. A Cosmogonia Sumeriana nos aponta com perfeição que tudo que existe e tudo que não existe é provindo da mesma fonte, ou seja, do Caos. O conceito de Inefável erroneamente retrata o instante que as impuras energias começaram se agrupar na escuridão amorfa iniciando o momento de formação de uma energia não caótica. 

Portanto, ao contrário da Filosofia Gnóstica, não enxergamos o Demiurgo como a “Mão Esquerda de Deus” , tampouco, acreditamos que existam dois Deuses (Espiritual e Material). A suposta dualidade alegada como dúbia natureza de um único Deus que é parte luz, parte trevas é a grande farsa que ilude tanto os ocultistas quanto os leigos. Também não acreditamos que o “Cristo Cósmico” tenha sido contrário ao Demiurgo, pois ambas manifestações são provindas da mesma fonte sustentadora da ilusão coletiva e repudiamos veementemente todos os bastardos que associam o Demiurgo com os nobres Deuses anticósmicos tais como: Lúcifer, Azazel, Samael, Shaitan, Ahriman, Set dentre outras manifestações.

Os gnósticos creem que o estado do homem neste plano material não é natural, haja vista que este mundo é norteado por sofrimento, dor e angústias e a única chave para se livrar das garras demiúrgicas é obtida através da gnose, ou melhor, do conhecimento transcendental. O conceito dos gnósticos está certo, pois a Sabedoria Verdadeira é a única fonte de libertação das algemas demiúrgicas, todavia, essa libertação não pode ser vinculada à nenhuma face ilusória e neste ponto toda filosofia gnóstica desmorona em mentiras. Todas as fontes gnósticas, inclusive as mais antigas Siríacas, são contaminadas pelo erro, pois transcender significa elevar-se além dos padrões da racionalidade, da matéria e formas. A única “fonte que jorra” tal Sabedoria provém do Caos amorfo.

O termo “Gnose” (Gnosis), sob a Luz de nossa corrente, não se trata da “visão e o entendimento das coisas de Deus” e sim da “Sabedoria que liberta-nos do escravocrata sistema Demiúrgico, dando-nos forças para o embate interno e externo trazendo a plena libertação através da Caótica Luz Obscura”. Esse conceito ocorre pela compreensão que o princípio e o fim de tudo é o Caos e que Deus, além de ser finito e mortal (como tudo que criou) tem como único desejo e intenção escravizar de forma contínua e cíclica  os seres humanos para prorrogar seu reinado nos planos cósmicos. Portanto, não existe Gnose senão através do Caos. Todas as outras concepções são apenas formas ilusórias de autoconhecimento combatidas pelo Caos Gnosticismo.

Despertar do “sono da ilusão” significa a libertação do lado obscuro acorrentado, ou seja, a abertura das portas trancafiadas em nossos labirintos internos (psiquicos e espirituais) através de uma árdua alquimia negra que possibilitará a morte do “Portador da culpa, medo e dor”  e avivará “O Portador da Luz” cujos impulsos tornam-se uma “Fonte de Sabedoria” tão intensa que age como flechas perfurando  o “corpo fétido de Deus”. Essa mudança possibilita a desobstrução  interna para que as energias ancestrais sejam atraídas e possam fluir em nossas jornadas.

A “Sabedoria” , além de ser a chave para todas as portas obscuras, é uma espada que corta os fios da herança genética e sociocultural impostas na vida carnal. Os “desejos conscientes”, tão massacrados pelos impulsos do ‘Falso-Deus’, tendem a ocorrer de forma progressiva, construindo uma personalidade satânica capaz de se rebelar sem receber os efeitos da marginalização, ou seja, lobos em pele de ovelha se alimentam melhor porque não estão em evidencia.

O despertar do sono hipnótico é desprovido de objetividade e apenas com esforço, estudo e dedicação ocorre o combate que matará a “larva” demiúrgica que habita em nossos labirintos. Matando-a, abrem-se as portas internas para o fogo/chama Luciférica correr livremente e as armas do do Exército de V.S.Maioral manifestarem-se em nossas jornadas.