domingo, 16 de janeiro de 2022

Arquétipos Draconianos

 

“Alados seres que alcançam a Gnose

Alimentando  a chama da sabedoria Luciferiana

Em campos de silencio agudo e solitário

Descobrem a Alquimia de suas essências

Morra Iniciado!

Sinta o frio das campas em brumas sombrias

Onde és teu próprio Senhor

Comungando com teus antepassados...

Serpente erga-se!

Destrua as correntes vigentes

Alimente as fagulhas escolhidas

Com a chama do “primo solus”

A cruz é derrubada juntamente com sua causalidade

E o grito de libertação é a metamorfose primal

Levante-se Filho da Chama!

Desperta esse mundo

Da Dor, medo e da morte

Levante-se Incinerador!

Arranque meu coração!

Daí-me o doce sabor da Sabedoria.”


De todos os animais mitológicos, o dragão é provavelmente o mais intenso, significativo, poderoso e complexo. Não se trata de provar a veracidade da existência dessas lindas criaturas, sim de mostrar a grandeza dela no âmbito evolucionista dos homens em milênios de sincretismos entre os povos da Terra. Uns dizem serem lagartos alados, outros serpentes, deuses, demônios, que assim como as cobras, estão associados à eternidade. Protegendo ou destruindo, o mito atravessou milênios de história e ainda é cultuado pela humanidade em diversos segmentos culturais e religiosos.

Esses símbolos de poder, riqueza, glória e medo possuem origem e tempo cronológico incertos. Especula-se que nasceram em virtude da observação dos fósseis de grandes criaturas (desde a Era Mesozóica) onde a mitologia era cercada de grandes heróis que, supostamente, derrotavam tais criaturas. Em algumas culturas orientais, o dragão é considerado síntese de poder e riqueza, haja vista que muitos templos são adornados com dragões protetores.

No antigo Egito, a forma draconiana existia como “adversário da Luz”. Apep (ou Aphopis em grego), a grande serpente inimiga de Maàt, era a personificação da escuridão e do caos da não existência. A serpente, ou melhor, formas serpentinas figuraram diversos “mitos da criação e destruição”. Tidas como mediadoras, detentoras de curas (espirituais), figuras da ressurreição e pêndulos de vida e morte, esses animais demonstravam seus poderes em todos os continentes e nas mais diversas culturas. Em verdade, a forma draconiana muitas vezes é considerada como a evolução das serpentes, donde tais “animais Reais” subiriam aos céus.

Dragões são formas altamente evoluídas e classificar um deus como um dragão é dar a ele todo legado da geração, evolução e transmutação das formas. Além disso, nas formas draconianas os deuses possuem a plenitude de sua “Sabedoria” e domínio Elemental. Nas narrativas mitológicas muitos deuses harmonizados no lado sinistro eram inimigos e lutaram em batalhas épicas. Partindo de tais informações, seguindo conceitos Junguianos, livramo-nos de barreiras impostas pelos conceitos de moralidade e reduzimos o abismo entre o inconsciente e o consciente. Portanto, ao endeusarmos os dragões, deixamos de lado nosso caminho “de espinhos e atalhos dificultosos” e andamos numa reta rumo ao despertar.

Na China, os dragões são a síntese do próprio povo. “Long De Chuan Ren” (filhos do dragão-龙的传人) é uma expressão usada pelo povo para fortalecer suas convicções políticas e sociais. Nessa cultura, os dragões assumiam formas humanas ou de qualquer outra espécie para elevar a humanidade, afinal, “são” seres que habitam o “Jardim da Sabedoria” (similar ao Éden hebreu).

No Leste Europeu, seletas sociedades secretas e ordens são representadas pelos dragões Algumas possuem influencia do culto indiano às Nagas (palavra sânscrita que significa “Cobra, serpente” habitante das águas divinas) e em outras é muito incisiva a influência dos mitos Babilônicos e Sumerianos.

Os dragões, apesar de serem em sua maioria alados e estarem associados ao “Ar”, também podem estar ligados aos demais elementos naturais: Fogo, Terra e Água. Guardam riquezas, geram acontecimentos climáticos, protegem e concedem dons espirituais e carnais. Existe também a associação dos dragões com os pontos cardeais e seus respectivos elementos:


Norte: Dragão da Terra

Leste: Dragão dos Ares

Oeste: Dragão das Águas

Sul: Dragão do Fogo


Arquétipos draconianos


Dahaka: Dragão de origem persa, cujos nomes podem variar entre Azimute Dahaka e Azhi Dahaka.  Suas três cabeças servem ao exército de Ahriman na luta contra o demiurgo persa (Zoroastrismo) Ahura-Mazda. Assim como Dahaka, Ashmoug (outra forma draconiana) também contribui com os exércitos.

Hydra: Uma serpente ctônica de origem grega, besta das águas, cujas sete cabeças (similar a Lotan), quando decepadas, cresciam novamente. Sua respiração exalava um veneno mortal. Tida como uma das formas que guardavam a entrada do submundo (assim como Cérbero). Em algumas passagens mitológicas era descrito como filho de Thypon.

Labbu: Forma draconiana mesopotâmica/acadiana. Um Leão/serpente, aterrorizador, portador de enormes poderes provindos do mar. Aterroriza os deuses cósmicos. É um aniquilador, ou melhor, o ultimo suspiro da humanidade. Algumas correntes associam-no como filho da própria Tiamat.

Leviathan: Dragão dos Mares da cultura hebraica é descrito com riqueza de detalhes em Jó (Bíblia Cristã), como monstro marinho indestrutível pelos homens que governa as tempestades e o caos das profundezas. Em Salmos também ocorre à aparição dele. Seu equivalente na cultura nórdica é Jormungand, um dos três filhos de Loki. Assim como seu arquétipo, aguarda o “A Batalha Final” para cobrir toda Terra com seu veneno e cumprir sua vingança.

Nidhogg: Níðhöggr ou Nidogue, dragão de origem nórdica, cuja função de devastador e decompositor se assemelha a alguns aspectos de Ghougiel. É a representação anti-cósmica da religião nórdica.

Python: Forma draconiana de origem romana (posteriormente grega). Python é nascida na lama pós - dilúvio, do barro. Temida e devoradora, espalha a dor, morte e destruição.

Rahab: Outra designação de origem hebraica, Rahab é um termo comparável aos arquétipos draconianos marinhos como também ao próprio Tohu. Rahab é o próprio Caos das águas (em especial ao mar morto).

Rahu: Forma draconiana de origem hindu. Sua força tem a capacidade de “engolir o sol”, “cobrir o sol” através de eclipses solares.

Saraph Mehophep: A áspide venenosa voadora da cultura hebraica, citada na Bíblia em Isaias 30:6.

Tanin'iver: Dragão anti-cósmico de origem hebraica. Segundo as lendas, essa manifestação draconiana é o “veiculo” que conduz Ama Lilith para o acoplamento com Samael (Satan).

Taninsam: Dragão da cultura hebraica são as formas de dragões, crocodilos e répteis. Tais animais possuem veneno e esse veneno nos estados kliphoticos são usados para matar o ego dos homens dominados pela força de Ieve. Também é a forma como chamamos a “Mãe Negra Lilith” em seu aspecto draconiano e ofídico. Quando Taninsam é invocada, seu veneno mata o ser fraco que habita no receptáculo material e faz renascer o forte com seus refinados conceitos da gnose negra.

Tehon: possui muitos significados. Inicio dissertando que é uma das formas de manifestação de Tiamat (sete mundos infernais), afinal, a palavra acadiana “tantu” tem significado semelhante à Tiamat. Tehom também é a manifestação das águas profundas primordiais (abismo) descritas na Torá. Sendo assim, o “caos amorfo” ou ainda a força que gerou todos os deuses.

Tiamat: Deusa sumeriana do antigo panteão primal. Continha a plenitude dos poderes supremos do caos original. Descrita como a forma draconiana matriarca que dominava os negros oceanos. Sua aparência com sete cabeças é relacionada com Lotan (deus ugarítico), senhor mares primitivos. As criaturas do mar primordial possuem arquétipos muito similares e isso reforça a ideia de uma possível divisão elementar das formas draconianas.

Thypon: Forma draconiana grega, associado a Satan. Representa a indignação contra o demiurgo Zeus. É filho da Terra e do Vento. Alado, recebe o nome de Typhon-Há furando o céu do meio-dia.

Vritra: Forma draconiana hindu. Um dos três “Asuras” que destruía em seu interior todas as formas causais do Megacosmos.

Zohak: Forma draconiana de origem persa. Personificação de Azhi Dahaka. Pertence ao exército de Ahriman. O símbolo dessa dinastia é o “signum Draconis purpureum”, ou seja, o “signo do dragão púrpura”. Para alguns estudiosos, torna-se arquétipo de Satan.


A forma draconiana e o medo


A serpente tornou-se alvo de asco e medo após o cristianismo (advento do Éden). Ao longo de toda história religiosa da humanidade, as serpentes exerceram papéis fundamentais dentro dos cultos pagãos e politeístas. Desde o Xamanismo até a Alquimia, os seres draconianos são símbolos incontestáveis de sabedoria.

Na magia liberta de dogmas e preceitos infundados, os deuses assumem formas livres de padrões humanizados. Uma serpente alada quebra dos grilhões da óptica ilusionista abrindo os sentidos da alma para retratarmos tais seres. Os desenhos estilo “Fantasy art” são exatamente isso.

Na Corrente L.T.J 49, algumas deidades são cultuadas sob formas draconianas. Buscamos nas “Inteligências” contatos mais puros e poderosos a fim de comungarmos com as verdades por de trás dos “véus das formas”.

Ser draconiano, ou melhor, assumir uma forma draconiana não é literalmente transformar-se em dragão, mas sim, receber as qualidades inerentes aos dragões. Nas práticas obscuras, transformamo-nos nos alados seres que recebem a gnose livre de imposições. A “troca de pele”, comum aos seres serpentinos, figura nossa modificação e crescimento deixando pra trás todos os conceitos ultrapassados e estagnados, brilhando por um período de tempo até a nova troca, num processo contínuo rumo aos fogos de Moloch.